Protocolo avaliou respostas vasculares cerebrais e comportamentais de grupo de voluntários durante a atividade
Criação de novos métodos de análise são importantes
para aperfeiçoamento de terapias na área de saúde mental
Toda
a interação humana está baseada em processos cognitivos e cerebrais, que ainda
são, em grande medida, desconhecidos para a ciência. Além disso, até aqui,
grande parte do que se sabe no tema vem de estudos que investigam apenas um ou
dois indivíduos, isso porque a experimentação em dinâmicas sociais com mais
pessoas costuma apresentar uma complexidade metodológica desproporcionalmente
maior.
Pensando
em viabilizar estudos para entender como este processo acontece, especialmente
na criação de vínculos de empatia, pesquisadores do Einstein desenvolveram um
protocolo experimental no qual voluntários produzem um desenho colaborativo
enquanto a atividade cerebral é registrada.
O
trabalho, orientado por Joana Bisol Balardin, resultou na dissertação de mestrado
em Ciências da Saúde no Instituto Israelita de Ensino e Pesquisa (IIEP) do
Einstein de Valéria Gonçalves da Cruz Monteiro.
O
desenho colaborativo permite uma forma natural de desenvolver empatia, ao
observar o rosto do outro, sem a pressão de desenvolver comunicação social
direta. O desenho em grupo acaba agindo como uma interação leve, como uma
brincadeira que “quebra o gelo”, conta Valéria.
No
protocolo, desenvolvido no Instituto do Cérebro do Einstein, a pesquisadora
utilizou a técnica fNIRS (espectroscopia funcional em infravermelho próximo) --
método de monitoramento funcional, que permite entender que áreas do cérebro
estão ativas a cada momento de interação, com a vantagem de permitir a
mobilidade e uma condição mais natural dos voluntários.
A
fNIRS foi usada em conjunto à observação em vídeo, que possibilita a mensuração
de comportamentos de interação. Dessa forma, o protocolo permite relacionar os
diferentes momentos de interação com a atividade cerebral.
A
proposta pode promover o aperfeiçoamento de terapias na área de saúde mental.
Isso porque protocolos como esse ajudam na compreensão da criação de vínculos
de confiança e de compreensão mútua. Existe ainda o potencial de a técnica de
fNIRS ser utilizada como método para investigar terapias complementares na área
de saúde mental.
“Trazer
para o laboratório o ambiente complexo que envolve as interações sociais no dia
a dia do ser humano em condições naturais é um desafio em termos de pesquisa
científica”, diz Valéria. Foram analisados quartetos de jovens desconhecidos, e
para descrever as respostas comportamentais de interação e caracterizar
habilidades individuais, foram quantificados os olhares compartilhados por meio
da análise do vídeo.
Para
Paulo Bazán, assistente de pesquisa do Instituto do Cérebro do Einstein e
responsável por parte do estudo (especialmente o uso do fNIRS e os softwares de
análise), protocolos com desenho colaborativo ainda devem ser mais estudados,
já que podem auxiliar a entender as bases fisiológicas de alguns quadros clínicos
e, eventualmente, até mesmo auxiliar no tratamento deles.
“Em
geral, na literatura dessa área, acabamos nos deparando com mais estudos
envolvendo música e sincronia de movimento, ou com troca de olhares entre mãe e
filho, mas pouco sobre uma troca de olhares mais natural, que não é o foco
direto da instrução dada ao voluntário ou sobre desenho colaborativo”, diz
Bazán.
“Desenhar
está em nossa natureza, em nossa estrutura psicológica. Aprendemos a desenhar
antes de aprender a falar. Por isso, criar protocolos que utilizem desenhos é
um passo importante para compreender, criar laços e aperfeiçoar as terapias”,
afirma Valéria.
O protocolo na íntegra
encontra-se publicado na revista
digital JOVE.
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