O caso Americanas pode ser considerado um divisor de águas no mercado brasileiro. Já tivemos outros escândalos corporativos, mas não desta magnitude e com tantas perguntas ainda sem respostas. Estamos diante de uma caixa de pandora, onde tudo pode aparecer dependendo do resultado das investigações, principalmente da apuração da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Os
principais credores, bancos, entraram com diversas ações tentando bloquear
créditos ou, então, tentar a antecipação de provas. A Americanas criou um
comitê independente, que do ponto de vista ético, pode ser questionável, afinal
milhões de reais estão sendo gastos para pagar os honorários dos membros e
escritórios contratados, enquanto a Americanas pede na Justiça para não ter a
luz, energia e internet cortadas por falta de pagamento, além dos aluguéis, que
não tem sido efetuado os pagamentos, e as demissões dos terceirizados, que
também é uma realidade, e isto tudo aparenta ser apenas o começo.
Aparentemente,
a Americanas está tentando de todas as formas jurídicas proteger seus
acionistas de referência. Por qual motivo? As respostas podem ser diversas,
entretanto, como a cultura do grupo do qual estes acionistas atuam diz: lucro
em primeiro lugar. Então, podemos inferir, e não afirmar, que a resposta seria
proteger o patrimônio bilionário destes três senhores, que eram considerados
referência no mundo dos negócios, empreendedores brasileiros que ganharam o
mundo.
Uma
das empresas do grupo, já sofreu uma penalização por inconsistências
contábeis nos EUA, a organização teve que pagar uma indenização considerável
para a SEC. Agora, de repente, o mesmo acontece no Brasil. Como uma
inconsistência contábil não foi verificada nos últimos 10 anos? Como uma
empresa que fala tanto em ESG não focou em uma governança efetiva mantendo um
presidente por 20 anos? A alternância na presidência ajuda, e muito, a evitar
situações com a que está acontecendo agora.
A
Americanas conseguiu a recuperação judicial, mas será que de fato querem manter
a empresa ativa? Existem muitas dúvidas em relação a isso. Os altos executivos,
que recebiam como bonificação ações da empresa, venderam suas ações antes do
escândalo, o que gerou um processo de insider trading contra a Americanas,
pois acionistas de referência receberam, ao longo de 10 anos, seus dividendos
que eram irreais devido as inconsistências contábeis. E agora?
Agora,
temos colaboradores desempregados, e outros que estão com medo de perder seus
empregos; fornecedores que não estão sendo pagos; taxas e tributos em atraso;
bancos que acreditaram nos semideuses do capitalismo e emprestaram dinheiro
para a Americanas, agora e estão desesperados em recuperar os valores; o
mercado de varejo em descredito; e ainda veremos a economia ser afetada,
porque, aparentemente, a governança não funcionou na Americanas.
Muitos
condenam a CVM por não ter fiscalizado a Americanas anteriormente, mas poucos
sabem que esta autarquia sofreu um processo de esvaziamento e falta de
orçamento no último governo, ou seja, se o Brasil quer um órgão regulatório
forte, o mesmo tem que ter estrutura e investimentos para poder atuar.
Podemos
apontar vários culpados individualmente, entretanto, a responsabilidade,
pensando em um capitalismo de stakeholders, podemos considerar que seria dos
acionistas de referência, que desde o início de sua atuação como empresários se
esqueceram da máxima da Constituição Federal, toda a empresa tem uma função
social. Não que o lucro seja algo errado ou condenável, mas, não basta
dar lucro, é essencial perguntar como o lucro ou as metas foram atingidas. Por
ação ou omissão, as responsabilidades e penalizações existem, e devem ser
aplicadas.
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