Método foi o utilizado nos últimos dias de vida de Pelé, o rei do futebol. Segundo a OMS, mais de 25 milhões de pessoas necessitam de cuidados paliativos no último ano de vida
A Organização Mundial da Saúde (OMS) aponta que “os
cuidados paliativos são aplicáveis no início do curso da doença, em conjunto
com outras terapias destinadas a prolongar a vida”. A entidade aponta que, a
cada ano, cerca de 56,8 milhões de pessoas, incluindo 25,7 milhões no último
ano de vida, necessitam de cuidados paliativos. Ainda segundo a OMS, apenas
cerca de 14% das pessoas no mundo que precisam de cuidados paliativos, os
recebem atualmente.
A cirurgiã oncológica e coordenadora de cuidados
paliativos da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO), Cláudia
Naylor, diz que há uma limitação de pesquisas sobre o momento do encaminhamento
para cuidados paliativos especializados quando um paciente é diagnosticado com
algum tipo de câncer: “No caso da Oncologia, infelizmente o mais comum é que o
cuidado paliativo ocorra quando a doença se torna progressiva, depois de
terapia de primeira e segunda linha ou quando o paciente passa por grave
sofrimento físico, psicológico ou espiritual”, afirma.
A integração entre cuidados paliativos e o
tratamento com intenção curativa é vital, visto que os pacientes e suas
famílias geralmente se defrontam com cuidados prestados por vários
profissionais diferentes, de várias especialidades, e em diferentes ambientes:
“A melhor qualidade de vida possível é o principal objetivo dos cuidados
paliativos e o gerenciamento ideal de sintomas é o meio para alcançá-la”,
explica.
MITOS ASSOCIADOS AOS CUIDADOS
PALIATIVOS
Cuidados paliativos significam todos os tratamentos
direcionados a pacientes cuja doença não responde mais a nenhuma intervenção
farmacológica ou cirúrgica. No entanto, a falta de conhecimento dos
profissionais de saúde e população em geral sobre o assunto está associada a
mitos e equívocos, que levam a baixos índices de encaminhamento e mau uso
desses serviços.
Dessa forma, pacientes com doença avançada recebem
os cuidados paliativos muito tarde no curso da doença, provavelmente devido ao
medo e à desinformação. Prova disso é uma das metas da Union for
International Cancer Control (UICC) até 2025: dissipar mitos e
equívocos sobre a doença e reduzir o estigma associado aos cuidados paliativos,
garantindo a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e familiares.
Cuidados paliativos em
tratamento curativo x tratamento oncológico
A integração do Cuidado Paliativo Precoce (CPP) é
um processo complexo que geralmente abrange ambientes comunitários, incluindo
relações sociais e de trabalho, e institucionais com planos de cuidados
centrados no paciente, ou seja, em seu “momento” tanto no tratamento quanto na
doença.
É necessário haver flexibilidade, pois alguns
pacientes precisarão se mover entre diferentes níveis de cuidados ao longo da
trajetória da doença. A abordagem paliativa vai depender do status
funcional do paciente e de sua carga de sintomas:
- Paciente
relativamente estável com carga de sintomas limitada pode requerer apenas
um nível de vinculação com os CPP, com a maior parte de seus cuidados
sendo administrados por sua equipe de atendimento habitual;
- Paciente
com doença avançada que apresente uma carga de sintomas além do escopo de
sua equipe de cuidados habituais pode se beneficiar de cuidados
coordenados por equipe especializada em cuidados paliativos;
- E
paciente no final da vida com carga grave de sintomas se beneficiará de
serviços totalmente integrados, seja em ambiente hospitalar ou em seu
domicílio, para os cuidados finais.
Quadro de terminalidade de um
paciente oncológico
Na fase de terminalidade, a maioria dos pacientes
com câncer avançado experimenta uma deterioração progressiva em seu estado
funcional global, ocorrendo um aumento da carga de sintomas nesses últimos
meses/semanas de vida, geralmente associado a um declínio concomitante na
função respiratória, em seu estado nutricional e mesmo na cognição, às vezes
precipitado por complicações agudas que requerem visitas recorrentes ao
pronto-socorro e eventuais hospitalizações, quando não há uma abordagem
adequada dos sintomas.
Por sua vez, o reconhecimento da fase terminal da
doença facilita o planejamento dos cuidados de fim de vida; prepara a família,
paciente e cuidadores; envolve discussões sobre preferências como local da
morte e questões quanto ao controle de sintomas. Mas é necessário enfatizar que
o reconhecimento tardio de que a morte está próxima geralmente resulta em gerenciamento
inadequado dos sintomas e atendimento psicossocial muito abaixo do ideal.
Como acontecem os Cuidados
Paliativos
A comunicação com os pacientes e suas famílias é
fundamental na fase terminal, pois promove confiança entre eles e a equipe de
saúde. Essa sensação, por parte de pacientes e cuidadores, de não serem
abandonados contribui para o bem-estar e auxilia no enfrentamento da evolução
da doença e do luto subsequente.
Cláudia Naylor explica que os pacientes variam em
seu desejo de saber se estão chegando perto da morte. Nos casos em que eles
preferem não ser informados, é de vital importância pedir permissão para falar
com seus familiares. A discussão deve ser conduzida com sensibilidade,
habilidade, paciência e empatia, todas habilidades treináveis. Essa comunicação
bem realizada contribui para redução dos pedidos de intervenções médicas
agressivas próximo à morte, assim como tende a diminuir a morbidade e o luto.
Os maiores temores, tanto de pacientes quanto seus familiares, são a dor não aliviada adequadamente, falta de ar e outros sintomas graves. Por isso, eles precisam ter certeza de que essas questões serão tratadas meticulosamente. Afinal, faz parte dos cuidados integrais manter o sentido de controle e dignidade do doente e sua família, e assim, preservar a esperança em uma morte sem o sofrimento possivelmente evitável.
Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica - SBCO
Referências Bibliográficas
1 - Organização Panamericana de Saúde (OPAS). https://www.paho.org/pt/topicos/cancer.
Disponível em 3 de janeiro de 2022.
2 – Organização Mundial da Saúde (OMS) - https://www.who.int/news-room/fact-sheets/detail/palliative-care.
Disponível em 3 de janeiro de 2022.
3 - Union for International Cancer Control [UICC]
World Cancer Declaration. https://www.uicc.org/what-we-do/advocacy/world-cancer-declaration.
Disponível em 3 de janeiro de 2022.
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