Apesar das oportunidades e do crescimento do setor, ainda é baixa a representatividade das mulheres no mercado de trabalho e, consequentemente, no mercado de Tecnologia. O desafio é ainda maior para as mulheres que também são mães. Segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD) do IBGE, as mulheres representam somente 20% dos profissionais que atuam em Tecnologia da Informação (TI).
Ouvimos essa constatação em vários fóruns
diferentes, em artigos do LinkedIn e em outros meios. Porém, o quanto nos sensibilizamos
por essa causa? Ou melhor, o quanto entendemos o que significa essa
informação e o impacto no mercado de trabalho ou na sociedade?
Fato é que, a grande maioria das pessoas
desconhecem os grandes feitos tecnológicos realizados por mulheres da nossa
história. O primeiro algoritmo a ser processado em uma máquina foi escrito por
uma mulher, Ada Lovelace, em meados do século 19. Grace Hopper liderou a equipe
que criou o primeiro compilador para linguagem de programação chamado Cobol e
Hedy Lamarr inventou o sistema que serviu de base para os telefones
celulares.
Além disso, se em 1962 o homem colocou o pé na lua,
deve-se a Katherine Johnson, que calculou equações complexas para garantir que
a missão ocorresse em segurança. E como as grandes mulheres da computação,
existem milhares de outras com feitos extraordinários! A dicotomia então, é de
um lado haver mulheres precursoras dos grandes feitos tecnológicos, e de outro
um cenário desequilibrado de oportunidades entre gêneros.
Talvez, a resposta esteja mais na falta de
compromisso das pessoas com o tema do que propriamente na ausência de
iniciativas corporativas. Uma pesquisa realizada pela Organização não
Governamental (ONG), Plan International Brasil, mostrou que mais de 80%
das meninas entrevistadas entre 6 e 14 anos já possuem atribuições
domésticas como lavar louça, arrumar a cama, limpar a casa. Enquanto isso,
apenas cerca de 12% dos meninos se envolvem nessas atividades.
Para a pesquisadora da London School of Economics,
Joanna Burigo, existe a determinação dos valores compartilhados por mulheres e
homens e dentro dessa construção não há naturalização de que a mulher pertença
ao campo das ciências. Ao contrário disso, as mulheres são associadas ao
universo reprodutivo e aos cuidados com os outros e os estereótipos culturais
moldam as escolhas femininas.
Outra pesquisa realizada pela PNAD revelou
que 79% das mulheres que ingressam em graduações relacionadas a área
de Tecnologia da Informação abandonam a faculdade ainda no primeiro ano. A
escassez feminina nessas áreas é refletida na falta de profissionais no mercado
de trabalho.
Um estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa
McKinsey afirmou que a baixa presença feminina no mercado de trabalho de
tecnologia é fator limitante ao crescimento econômico. Afinal, não se pode
mudar o mundo com menos da metade da população. Escola, família e
sociedade devem atuar juntas para estimular o interesse das mulheres nas
exatas. A questão aqui é construir um mundo melhor para todos os gêneros.
Além disso, estudos revelam que existem habilidades
mais proeminentes nas mulheres, como a resiliência e a capacidade de atuar
com multitarefas, o que faz diferença no dia a dia corporativo.
São diversas as iniciativas de empresas engajadas
em aumentar a representatividade feminina na tecnologia, através de cursos,
ONGs, grupos, projetos e muitas outras oportunidades voltadas para formar e
incluir mulheres. Segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados
(CAGED), em 2020 a atuação feminina no setor saiu de 27,9 mil para 44,5
mil, um crescimento de 60%.
Entretanto, enquanto não entendermos que somos
todos responsáveis por essa inclusão, levaremos anos para mudar essa realidade.
Então, o que temos a ver com isso?
Temos o poder de incentivar nossas filhas,
sobrinhas, vizinhas a participar dessas iniciativas. Podemos apresentar as
possibilidades, estimular o estudo e o engajamento das nossas crianças e
adolescentes na área de tecnologia. Entender a relevância e a importância dessa
causa e passar adiante também pode contribuir. Essa é a nossa responsabilidade.
Daniella
Hernandez - Agile Lead Coach na AP Digital Services, com 23 anos de experiência na
área de TI. Pós-graduada em Engenharia de Software e mestrada em Engenharia da
Computação, foi professora universitária por 10 anos. Possui certificação em
SAFe 5.0, KIKF, SFPC e KMP. É voluntária em ações voltadas para crianças
carentes, apresentando peças teatrais em abrigos e escolas públicas na cidade
de Atibaia. Também é mãe orgulhosa da Mariana Hernandez, que aos 9 anos foi
semifinalista do concurso internacional Technovation Girls e palestrante no TDC
Kids edição 2021.
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