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sábado, 13 de agosto de 2022

Amizade na escola: a criança aprende pelo relacionamento

Pedagogos e psicólogos falam sobre a importância da troca durante a infância e adolescência para o aprendizado

 

A pandemia trouxe à tona diversos problemas e muitas mudanças de hábitos. Uma delas foi o ensino à distância. Crianças e adolescentes isolados em suas casas tiveram que se adaptar e aprender a estudar longe dos professores e colegas. Com o retorno às aulas presenciais, alguns problemas foram sentidos, como a fobia social, crises de ansiedade e sentimento de não pertencimento. Muitos alunos se tornaram indisciplinados e, até mesmo, um pouco agressivos. 

Enxergando esses comportamentos, escolas se mobilizaram para auxiliar o retorno dos estudantes e amparar as famílias nessa etapa. E um dos grandes apoios encontrados nas escolas pelos alunos foi o reencontro com amigos e a troca constante entre pessoas da mesma idade que eles. Fazendo com que o medo e a incerteza fossem amenizados pelas amizades. 

“Desde que a quarentena teve início, um cenário de incertezas pairou sobre pais, alunos, professores e toda a equipe escolar”, diz Paula Joia, Psicopedagoga, do Colégio Centro de Estudos, localizado em Centro dos Goytacazes, Norte Fluminense, que defende a socialização das crianças para o desenvolvimento socioemocional, porém ela reforça que o modelo remoto já é uma realidade. 

“Em uma visão inclusiva, está claro que esse modelo de ensino remoto não funciona. Essa pandemia nos apresentou um novo modelo de ensino, que deveria ser implantado num processo progressivo. Os alunos estão no mundo digital, mas não têm a cultura digital do aprendizado e isso é um processo que demanda tempo”. 

Paula Joia enaltece a importância das relações pessoais na infância e adolescência. “Os conceitos das relações saudáveis no ambiente escolar têm como objetivo conduzir os alunos a compreenderem que é por meio das relações humanas (sociais), das características individuais que cada um traz consigo (compondo sua pluralidade sociocultural), que é possível ensinar e aprender o tempo todo.”

Diversos estudos comprovam que desenvolver amizades durante a infância ajuda e estimula as crianças. Elas passam a ser mais sociáveis, altruístas, ganham mais autonomia e aprendem desde cedo a dividir. Além de lidar com as próprias emoções, é o que aponta Mônica Santoro, Coordenadora do Colégio Domus, de São Paulo. 

“Ter amigos ajuda no desenvolvimento das habilidades socioemocionais, e a escola é uma das principais instituições onde as crianças têm a oportunidade de se relacionarem. Dentro do espaço escolar, a criança passa a conhecer outras perspectivas de vida, outras culturas e gostos diferentes dos que está acostumada em ambiente familiar, e isso faz com que ela desenvolva novas habilidades e competências importantes para a sua formação social.” 

A profissional lembra que na escola acontecem conflitos, divergência, mas também trabalho em equipe e união, pontos fundamentais para o aprendizado. “Não somente o acadêmico, mas também o das relações ligadas à inteligência emocional (intrapessoal e interpessoal).  A amizade entre as crianças proporciona o desenvolvimento das habilidades sociais, pois elas aprendem a dividir seus brinquedos, materiais, o espaço que frequentam e a respeitar as diferenças, fazendo concessões e tendo empatia pelos colegas. Isso ajuda muito na união do grupo, diminuindo consideravelmente ações negativas, como o bullying.” 

Mônica Santoro celebra a amizade e acredita que ela seja uma potencializadora do ensino e do aprendizado. “A forma como o estudante se sente na escola é fundamental para a aprendizagem. Ter boas relações sociais é fator essencial para garantir bons resultados no ambiente escolar. Os laços de amizade colaboram na formação da confiança e da autoestima da criança. Ter amigos traz segurança e conforto”, finaliza a profissional. 

Volmar Souza, diretor geral do Colégio Marília Mattoso, que fica em Niterói, no Rio de Janeiro, vê o relacionamento entre os alunos como base fundamental para o aprendizado. "Talvez algumas pessoas ignorem, mas a amizade formada dentro do ambiente escolar, entre os alunos e também com os profissionais que ali trabalham, se torna uma importante ferramenta pedagógica, facilitando a aprendizagem pelas vias do afeto, da convivência e da cooperação, que são fatores primordiais para que haja saúde social. Amizades saudáveis evitam egoísmos,  hostilidades e conflitos, o que faz com que as crianças aprendam a lidar melhor com as próprias emoções.” 

No Colégio Novo Tempo, que fica em Santos, litoral de São Paulo, a Coordenadora Pedagógica da escola, Maria Inês Santos Raposo, acredita que o relacionamento não só ajuda na educação, como a aprender valores. “Fortes e sólidas amizades geradas no colégio podem incentivar o desenvolvimento da cooperação e respeito ao próximo, além de evitar brigas e/ou conflitos. Neste sentido os educandos aprendem a lidar melhor com as próprias emoções, resultando em melhores comportamentos e avanços pedagógicos durante a vida escolar”. Ela também destaca o papel da escola como rede de apoio: “Além de referência cognitiva, a escola se torna referência social e afetiva, funciona como um porto de segurança para as questões socioemocionais dos alunos.”

 Em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, no Colégio Itamarati, a Ana Laura Gusman, coordenadora pedagógica da Educação Infantil, lembra que a pandemia afastou os alunos, mas que o retorno às aulas também trouxe alguns novos desafios. 

“Com o retorno das aulas, novos desafios em relação a socialização, defasagem de conteúdos e tempo de concentração também foram identificados, assim, algumas medidas no formato das aulas e proporcionar aos alunos apoio escolar, mais atividades extracurriculares e aumentar o tempo de socialização nos espaços da escola foram tomadas. Essas medidas tiveram um resultado muito positivo.” 

Outra profissional que vê como desafiador o período pandêmico, principalmente para as relações sociais, é Carolina Gargiulo, orientadora Educacional do Ensino Fundamental Anos Finais do Colégio Leonardo Da Vinci, localizado em Alphaville, em São Paulo. “O ensino à distância veio para nos ajudar em um período que não podíamos ficar juntos, foi excelente e nos auxiliou muito, também perdemos muito do contato pessoal, da conversa olho-no-olho!”

 Além dessa falta do contato pessoal, a especialista enfatiza a importância das relações pessoais, principalmente na infância e adolescência. “É tudo, crianças e adolescentes respiram convivência, relacionamentos nessa fase são muito importantes, ensinam como tratar os outros, dividir, como se comportar”, diz Carolina, que afirma que a criança aprende pelo relacionamento: “É por meio do convívio que ela aprende regras, cuidado, empatia. A escola é o segundo ambiente em que ela convive. É uma sociedade em que está inserida e aprende com ela o tempo todo”.

 A orientadora educacional diz que o equilíbrio é fundamental para que as amizades não ultrapassem o limite e atrapalhem o ensino em sala de aula. 

“É importante que eles saibam o momento de estar junto, de socializar, com o momento de não poder conversar, de estar em silêncio. E é difícil, você quer falar o tempo todo, quer que seu amigo participe, faça graça. O espaço escolar é um dos lugares onde eles fazem amizade, e aprendem o momento certo de interagir, calar ou socializar”. 

Com uma filosofia voltada para o acolhimento e para a ludicidade, o Colégio Montessori Santa Terezinha, conta com um ambiente pensado no desenvolvimento da primeira infância: a Brinquedoteca. 

“Acreditamos nas brincadeiras e jogos como método de ensino, como fatores que interferem - positivamente - no desenvolvimento da criança. Nosso espaço é repleto de brinquedos e jogos que proporcionam às crianças explorar, experimentar, fantasiar e sentir. Brincando, nossos alunos aprendem a desenvolver a criatividade, a motricidade, a mente e a socializar”, diz Adriana Gobbo, diretora da escola que fica em São Paulo e acredita no aprendizado em forma de brincadeira. 

“Sabemos que a amizade na infância é muito importante já que por meio da troca que faz com seus pares, com amigos da mesma idade, a criança passa a se identificar com o outro e se reconhece através da interação. É um momento que abre caminho para as habilidades socioemocionais essenciais para a vida coletiva, como a construção de relacionamentos, a convivência, a lealdade, a confiança, o estímulo ao imaginário e a descoberta das relações”, comenta a diretora, que finaliza: 

“Por meio da brincadeira com os amigos, proposta de maneira livre ou dirigida, as crianças tendem a reproduzir situações que presenciam ou que vivenciam, assumem diferentes papeis o que é de suma importância para o respeito ao outro e às diferenças. A criança aprende brincando e brinca aprendendo!”.


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