O saber manifesto sobre tão silenciado assunto se faz necessário, mesmo que assuste ou doa, pois "Agir Salva Vidas", tendo em vista a preocupante estatística de que, a cada quarenta segundos, acontece um suicídio no mundo. Uma palavra tão pequena, porém tão dura em seu significado, derivada do latim, sui (si mesmo) e caederes (ação de matar). Mas que, apesar da dor enfrentada, a morte não justifica e nunca será uma solução.
Assunto tratado ao
longo dos séculos como sendo incômodo, nas mais diversas sociedades, exigiu que
o silêncio fosse quebrado. Nos últimos séculos, estudiosos trataram-no como um
problema moral, depois foi tratado como crescente problema social, exigindo
explicações para tal fenômeno. Respeitado sociólogo, antropólogo, cientista
político, psicólogo social e filósofo francês, Émile Durkheim publicou em 1897
"O Suicídio: Estudo Sociológico", dando enfoque e explicação ao
mostrar sua preocupação com o impacto que macroestruturas teriam sobre os
fenômenos de nível micro, ou seja, o quanto fenômenos sociais afetam a prática
do suicídio.
O mundo mudou, a
sociedade moderna trouxe tantas outras angústias, impactando sumariamente neste
"ser no mundo". As preocupações trazidas por Durkhein evidenciaram
ainda mais o assunto suicídio no atual século, que se tornou preocupação
mundial, passando a ser visto e pesquisado na área da saúde pública. Tanto a
Organização Mundial da Saúde (OMS) quanto a Organização Pan-Americana de Saúde
(OPAS) passaram a apoiar pesquisadores do mundo todo, a estudarem o assunto
para melhor conhecê-lo, e assim, pensar em formas de prevenção.
No Brasil, o suicídio
foi posto no Boletim Epidemiológico da Secretaria de Vigilância em Saúde do
Ministério da Saúde. Em seu volume 50, publicado em Julho de 2019, trouxe dados
em relação a tentativas e óbitos por intoxicação exógena, de 2007 até 2016. No entanto,
o destaque que se deve fazer está no fato de que, no Brasil, o suicídio
tornou-se relevante problema de saúde pública, exigindo a formação de inúmeras
redes de apoio, não apenas à pessoa que tenta tal ato, mas a toda a família.
É de conhecimento que
há enorme preocupação com a exposição em demasia de tal assunto, a ponto de os
meios de comunicação evitarem publicar notícias sobre episódios trágicos,
justamente, para se evitar possíveis efeitos de imitação. Tal preocupação
mobilizou a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), conjuntamente com o
Conselho Federal de Medicina (CFM), a publicarem uma cartilha orientando
profissionais da Imprensa, com intuito de melhorar ainda mais a parceria, já
que são essenciais para a publicação de matérias que orientem a população sobre
os transtornos psiquiátricos. Com isso, passaram a contribuir, ainda mais, com
as campanhas de prevenção ao suicídio, desmistificando o tema para a população.
A Associação
Internacional para Prevenção do Suicídio e a Organização Mundial da Saúde,
instituíram o dia 10 de setembro como data mundial de Prevenção ao Suicídio.
A campanha Setembro Amarelo tem como foco principal, abrir conversas,
conscientizar, mas, principalmente, mostrar às pessoas que sofrem com algum
tipo de pensamento suicida, que não estão sozinhas e que a morte não é a melhor
solução para apaziguar a dor e a dificuldade enfrentada diante de qualquer tipo
de problema. No Brasil, tal iniciativa só aconteceu a partir de 2015, promovido
pelo Centro de Valorização da Vida (CVV), Conselho Federal de Medicina (CFM) e
Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP).
O importante a dizer é
que as campanhas buscam ajudar as pessoas que sofrem pelo adoecimento, sofrem
pelo preconceito, até mesmo pela invisibilidade, pelo isolamento, mas não
podem, apesar da dor, acreditar que estão sozinhas, nem que não há pessoas ou
entidades dispostas a ajudá-las.
Os vários símbolos
trazidos nas campanhas possuem significados, o principal deles foi a fita
amarela, baseada no Mustang Amarelo de Mike Emme, um rapaz norte-americano que,
após sua morte, mobilizou o pedido de ajuda de muitas pessoas que, assim como
ele, sofriam de depressão. Seus pais no dia de seu enterro distribuíram cartões
com fitas amarelas, com os seguintes dizeres: "se você está pensando em
suicídio, entregue este cartão a alguém e peça ajuda!". Este ato ganhou
repercussão nacional, seguida por inúmeras outras campanhas, mantendo o símbolo
original e oficial, a fita amarela.
Neste ano, no Brasil,
o tema tratado na campanha de Setembro Amarelo é "Agir Salva Vidas".
Contudo, cabe lembrar que em outra campanha, o girassol foi lembrado como ato
de resistência à escuridão, à falta de luz trazida pelo adoecimento mental,
principalmente, a depressão, responsável por inúmeros atos de suicídio. Nesse
sentido, encerro este artigo lembrando o comportamento da natureza: mesmo que o
sol esteja escondido em meio as nuvens, a flor gira insistentemente, apesar de
toda a dificuldade imposta, na direção da luz, assim devemos agir em relação a
preservação da vida, busquemos a luz da ajuda, a luz da fé, para clarear a
obscuridade que o silêncio traz, pois o suicídio não deve ser uma opção.
Marcelo Alves dos
Santos,
- psicólogo clínico e professor do curso de Psicologia do Centro de Ciência
Biológicas e da Saúde (CCBS) da Universidade Presbiteriana Mackenzie (UPM).
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