Ter um irmão pode não ser a tarefa mais fácil do mundo, mas também é algo que pode moldar sua personalidade e forma de se relacionar com os outros; a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica pela PUC de SP, explica sobre a relação entre irmãos e lista alguns mitos e verdades sobre o tema
Quem
tem um irmão sabe que estará ligado a ele por toda a vida. Mas, às vezes, é
normal que a relação de irmãos não seja a das mais fáceis e apresente alguns
conflitos. Além disso, para um grupo de três irmãos, a situação pode ser ainda
mais delicada. Existem alguns conflitos que podem permear a relação, como “a
síndrome do irmão do meio”, ou a crença que muitos têm de que os irmãos mais
velhos são líderes naturais. Um estudo publicado na revista Proceedings of the
National Academy of Sciences não conseguiu descobrir um padrão claro de
personalidade que corresponda à ordem do nascimento, entretanto há evidências
de que irmãos moldam a personalidade um do outro.
Muitas
pessoas acreditam que, em uma relação de três irmãos, o irmão do meio pode ser
o que vai dar mais problemas. De acordo com a psicóloga Vanessa Gebrim, especialista em Psicologia Clínica
pela PUC de SP, o filho do meio pode acabar se sentindo substituído com o
nascimento do irmão mais novo. “Muitas vezes, os irmãos do meio se sentem menos
importantes e não recebem a atenção suficiente dos pais. Existem alguns casos
em que eles podem ser os que menos causam problemas entre os irmãos ou podem
ser rebeldes por não receberem a devida atenção dos pais. É normal que os
irmãos do meio costumem se destacar por diversas características e, às vezes,
procuram ser mais brilhantes que o mais velho e mais espirituoso que o caçula”,
explica.
Quando
se tem um ou mais irmãos, também é costumeiro que a personalidade seja moldada
baseada nessas relações. ”É muito importante a relação afetiva entre irmãos
desde criança até a fase adulta. Ela permite que treinem desde cedo o
comportamento social e emocional, além das questões de vínculos e sobre como se
relacionar com os outros. Isso é positivo, pois a criança aprende a lidar com
conflitos e frustrações. As pessoas que têm irmãos acabam aprendendo maneiras de
controlar as emoções na vida e também melhoram sua habilidade de
relacionamento”, complementa Vanessa.
É
importante ressaltar que brigas entre irmãos também são algo comum e podem
acontecer por uma série de motivos diferentes. “Os conflitos acontecem por conta
das personalidades, ciúmes, habilidades socioemocionais e, às vezes, por conta
do ambiente familiar. É necessário que, desde o início, os pais tratem todos os
filhos de forma igual e sempre evitando comparações. Aqueles que não souberem
gerir suas emoções e estabelecer boas relações com todos os filhos podem ter
problemas no futuro. Além disso, não se deve rotular papéis de culpado e vítima
em brigas. É preciso promover um diálogo entre esses irmãos, contribuindo para
uma relação afetiva entre eles”, entende.
Além
de tudo, existem alguns mitos que percorrem a relação entre irmãos. Pensando
nisso, a psicóloga lista e esclarece alguns. Confira:
1.
Os pais devem tratar cada filho de uma forma diferente
MITO.
“Quando os pais tratam os filhos de forma diferente acabam dirigindo a essas
crianças quantidades diferentes de afeto positivo. Isso faz com que elas acabem
se comparando, o que acaba tornando as relações entre os irmãos mais
conflituosas e menos amistosas. Mas, isso também só ocorre quando as crianças
percebem a sua diferenciação”, explica a psicóloga.
2.
Existem vantagens em ter irmãos
VERDADE.
“Há muitas vantagens em ter irmãos, como compartilhar e dividir coisas, ter uma
companhia para poder jogar, fazer piadas e brincadeiras. Tudo isso ajuda, de
forma lúdica, as crianças se sentirem incluídas. Além disso, um irmão pode
servir de referência quando é admirado, ajudando o outro também a se inspirar
em vários aspectos da vida”, diz.
3.
Faz bem o filho mais velho ter mais responsabilidade
MITO.
“As responsabilidades exageradas desde cedo, podem criar uma angústia, uma
sensação de que a criança precisa dar conta das situações e tarefas em casa. O
mais velho sente isso, então caso não realize tudo perfeitamente, pode acabar
causando um sentimento de culpa e inúmeros conflitos internos”, entende
Vanessa.
4.
Pode existir diferença entre o irmão mais velho e o caçula?
VERDADE.
“As diferenças acabam acontecendo por conta do comportamento de cada um. Além
de ser conhecido como o mais responsável, o primogênito tende a ser o mais
conservador. Geralmente, eles costumam enfrentar os pais em alguma situação
injusta. Já o caçula pode se converter em uma criança independente e de
personalidade forte e também pode ser o que sai primeiro da casa dos pais. Em
outros casos, os caçulas podem se tornar um pouco dependentes por conta do
excesso de mimos e atenção, o que faz com que eles não saibam lidar tão bem com
as frustrações”, complementa.
5.
Todo filho único é problemático
MITO.
“Não existe nada que comprove que o filho único causará problemas somente por
conta disso. Tudo é questão do relacionamento por parte dos pais. Quando bem
criados, os filhos únicos podem desenvolver um ótimo desempenho escolar e
também um melhor vocabulário comparado com outras crianças, justamente por
conviverem com adultos. Além disso, ter a atenção dos pais pode ajudar na
autoestima da criança. O importante é que os pais não sobrecarreguem o filho
com expectativas e exigências demais, para não acabar afetando o comportamento
e bem-estar deles”, conclui a psicóloga.
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