A pandemia influenciou drasticamente a rotina alimentar de diversas famílias, impactando principalmente as crianças. Com o fechamento das escolas e os pais trabalhando de casa, a busca por alimentos mais práticos e processados, aumentou. Além disso, muitas acabaram ficando presas em pequenos apartamentos, sem espaço adequado para atividades físicas. As consequências dessa mudança de hábito, já podem ser percebidas na saúde de muitos.
Em um estudo feito pela Unicef, cerca de 61% das
famílias aumentaram o consumo de fast food e refrigerantes durante a
pandemia, além de diminuir o consumo de legumes e verduras. Por mais que muitos
acreditem ser apenas uma fase, introduzir alimentos gordurosos, ultra
processados e repletos de açúcar, pode causar danos sérios à saúde das
crianças, hoje e amanhã.
A compulsão alimentar é um dos riscos mais
iminentes em um primeiro momento, agravado principalmente pelo excesso de tempo
em frente às telas. Muitos pais deixam seus filhos assistindo desenhos em
celulares, tablets ou na televisão para se distraírem, enquanto eles trabalham.
Essa forma de entretenimento é válida. Não podemos
restringir totalmente o uso de telas pelas crianças, contudo, muitas acabam
comendo em frente a elas, perdendo a noção da quantidade e até mesmo da
qualidade dos alimentos que ingerem. Essa falta de consciência alimentar
aumenta os riscos de obesidade, pressão alta e diabetes.
Infelizmente, muitos estudos que temos hoje estão
defasados e, não levam em consideração os problemas futuros que os maus hábitos
atuais podem representar. As crianças carregam a predisposição genética de sua
família que, se já tiver doenças ou altas probabilidades, terão mais chances de
serem desenvolvidas se os devidos cuidados não forem tomados desde cedo. Temos
hoje o conhecimento da epigénetica, ou seja, podemos ou não ativar determinados
genes de acordo com nossos hábitos.
É importante ter em mente que prover uma
alimentação saudável às crianças não precisa ser complicado. Evitar expô-las à
alimentos ultra processados, que geram forte estímulo cerebral e podem
contribuir para uma compulsão alimentar, já tem um impacto enorme nesse
processo. Priorize sempre alimentos naturais, preparados em casa, como arroz, boas
fontes de proteínas, legumes e saladas.
Muitas famílias até tem esse tipo de alimentação em
sua rotina, mas acabam pecando na hora do lanche da tarde. Os sucos, biscoitos
e embutidos são alguns dos mais utilizados – e mais perigosos também.
Principalmente, porque a grande maioria das pessoas não tem o hábito de ler os
rótulos do que consomem, para saber o que estão ingerindo.
Obviamente, mudar hábitos não é fácil, mas se
dedicarmos um pouco de tempo para preparar algo mais saudável, as crianças
terão uma saúde bem melhor, hoje e principalmente no futuro. As crianças tendem
a copiar e repetir os hábitos dos pais. Se colocarmos mais verduras e legumes
em nossos pratos, elas também irão se interessar mais por esse tipo de
alimento. E quanto mais cedo fizermos isso, melhor.
O primeiro ano da criança é o momento no qual ela
será introduzida aos alimentos, deixando a amamentação exclusiva. Por estar no
período de maior velocidade na curva de crescimento, é imprescindível
apresentarmos alimentos com alto valor nutricional. Nessa fase, mais do que
ganhar peso, a criança precisa desenvolver sua saúde, reforçando o sistema
imunológico.
Logo depois, a velocidade de crescimento diminui,
as crianças passam então a regular melhor a quantidade quem comem, parecendo
para os pais que elas estão comendo menos, sendo isso esperado. Então, os pais
não devem tentar compensar isso com alimentos inadequados, querendo aumentar a
quantidade ingerida pelos filhos.
Os pequenos podem apresentar alguns momentos de
seletividade, evitando certos tipos de alimentos. Nesse momento, é fundamental
não oferecer os alimentos doces e gordurosos de sua preferência, com a
finalidade exclusiva de chegar ao peso recomendado para a idade.
É preciso exercer a maternidade e paternidade real,
pensando não apenas no desenvolvimento atual, mas principalmente no futuro da
criança. Quanto melhor for a alimentação na infância, mais chances de termos um
adulto saudável. Os bons hábitos são os verdadeiros protagonistas da boa saúde,
sendo capazes até de evitar o aparecimento de doenças contidas na própria
genética familiar. Um bom futuro depende da qualidade das escolhas feitas no
presente.
Dra. Patrícia Consorte - pediatra e
especialista em nutrição materno-infantil.
https://www.drapatriciaconsorte.com.br/
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