Agravamento da Covid-19 no país levantam preocupação sobre adiamentos de condutas essenciais no combate ao câncer; Iniciativa liderada pelo Instituto Oncoclínicas orienta pacientes oncológicos sobre como proceder neste momento
Nos últimos dias, diferentes cidades do Brasil voltaram registrar aumentos no
número de casos do novo coronavírus. Com isso, em muitas localidades, governos
não descartam a possibilidade de retomada de medidas mais restritivas de
circulação da população para evitar que os índices de contaminação pela
COVID-19 sigam atingindo patamares elevados. A exemplo disso, o estado de São
Paulo entrará na fase roxa a partir de sábado (13/03) diante da atual situação
de crise sanitária, com números de mortes e internações atingindo níveis
recorde.
Em meio a esse cenário, quem depende de tratamento médico continuado para
doenças diversas se preocupa com os impactos da alta de casos de contaminação
pelo novo coronavírus - a mais severa desde o início da pandemia no país - , o que
tem levado à superlotação de ambientes hospitalares das redes pública e
privada. É o caso de quem enfrenta o câncer, doença que, de acordo com o Centro
Internacional para Pesquisa do Câncer (IARC) - agência especializada da
Organização Mundial de Saúde (OMS) - afeta 1,5 milhão de brasileiros e
corresponde à realidade de ao menos 43,8 milhões de pessoas pelo mundo. A
entidade aponta ainda que apenas em 2020 mais de 19 milhões de pessoas foram
diagnosticadas com a doença e houve quase 10 milhões de óbitos por câncer ao
redor do globo.
Uma estimativa das Sociedades Brasileiras de Patologia (SBP) e de Cirurgia
Oncológica (SBCO) apontou que nos primeiros meses da pandemia 70% das cirurgias
oncológicas foram adiadas. Além disso, ao menos 70 mil brasileiros deixaram de
ser diagnosticados com câncer devido a não realização de exames essenciais para
identificar a doença.
Para que esses índices preocupantes não sofram ainda mais elevações, é preciso
alertar os pacientes oncológicos e a população em geral sobre como atrasos nos
cuidados médicos adequados pode comprometer, até irreversivelmente, o sucesso
na luta contra o câncer. E é com esse objetivo que o Instituto Oncoclínicas -
em parceria com sociedades de especialidades médicas, entidades não
governamentais de suporte a pacientes oncológicos, instituições de saúde e
farmacêuticas - criou movimento O Câncer Não Espera (https://www.ocancernaoespera.com.br).
Aberta à participação de empresas, entidades ligadas à área médica ou qualquer
cidadão engajado na luta em favor da vida e da saúde dos brasileiros, a
mobilização tem por objetivo alertar a sociedade brasileira para os riscos do
adiamento de diagnósticos, exames, cirurgias e tratamentos contra o câncer em função
do temor relacionado ao COVID-19.
"O tempo é decisivo em muitas condutas. Na pandemia que parou o mundo, a
evolução da curva epidemiológica da Covid-19 impactará nossas vidas por um
tempo indeterminado. O câncer é uma doença grave, e que antes da pandemia já
ocupava o segundo lugar no ranking das principais causas de morte no Brasil.
Assim como há serviços essenciais que precisam continuar, existem tratamentos
essenciais que devem prosseguir, sob risco de perdermos vidas que podem ser
salvas", afirma um dos idealizadores da campanha, o oncologista Bruno
Ferrari.
Para ele, que é também fundador e presidente do Conselho de Administração do
Grupo Oncoclínicas, é imperativo que o combate ao câncer não fique em segundo
plano. "A OMS afirmou que, mesmo durante a pandemia, o câncer é
considerado uma doença de emergência. O câncer não negocia prazos",
alerta.
Assim como a continuidade do tratamento, o médico lembra que a atenção para que
a doença seja detectada precocemente não pode ser descuidada. "É imprescindível
garantir a segurança dos que precisam ir a laboratórios, clínicas e aos
hospitais, com sistemas ainda mais rigorosos para evitar o contágio de
Covid-19. Nossa intenção, a partir dessa campanha, é alertar o público sobre a
necessidade de preservarmos os fluxos essenciais para a manutenção da linha de
cuidado oncológico e propor uma reflexão para que a pandemia não gere outros
reflexos negativos para a saúde dos brasileiros", completa Bruno Ferrari.
Para quem tem o diagnóstico de câncer, o oncologista lembra que é importante a
população estar ciente de seus direitos com relação ao acesso às terapias de
controle da doença. No caso daqueles que optaram diretamente por adiar suas
condutas de cuidado oncológico, ele frisa que manter o contato com o médico
responsável é sempre a melhor alternativa antes de qualquer definição.
"É essencial avaliar cada paciente oncológico de forma individualizada.
Converse com o especialista responsável pelo cuidado para saber da real
necessidade de ir ao hospital/clínica. Isso garantirá mais segurança na tomada
de decisão sobre como proceder", explica o médico.
Telemedicina e novas alternativas de tratamento podem assegurar fluxos
Diante das incertezas sobre os avanços do novo vírus entre a população enquanto
a vacinação ainda não está disponível a todos, Bruno Ferrari acredita que a
telemedicina segue sendo ferramenta que pode ajudar muito em casos de pacientes
que não necessitam de atendimento presencial, ou como pré-triagem até mesmo na
avaliação de necessidade do deslocamento, sendo um suporte relevante.
"Seguindo a legislação vigente, podemos proporcionar o acompanhamento de
pacientes, tanto para um primeiro atendimento quanto para casos em seguimento,
por meio dessa plataforma. Essa possibilidade de contato virtual segue,
obviamente, critérios que o médico avaliará caso a caso", diz.
Outra possibilidade que, adicionalmente, vem sendo discutida entre a comunidade
médica e o poder público é a ampliação do uso de medicações orais em situações
em substituição à quimioterapia endovenosa, que depende de deslocamentos até um
hospital ou clínica para ser realizada. A proposta, aprovada pelo Senado
Federal em junho de 2020, segue aguardando votação pela Câmara dos Deputados.
Ainda sem data certa para ser transformada em Lei, essa linha de medicamentos,
quando aprovada pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), passará
também a constar automaticamente no rol da Agência Nacional de Saúde
Suplementar (ANS) e permitindo que pacientes com plano de saúde tenham acesso a
esses remédios avançados de controle do câncer.
"Demos um passo importante para facilitar o acesso dos pacientes
oncológicos às melhores terapias disponíveis no mercado. Agora é essencial que
seja dada celeridade à votação na Câmara dos Deputados para que este projeto
seja sancionado como lei pelo Governo Federal. Essa disponibilidade deveria se
estender ao sistema público de saúde. É um direito de todos os pacientes. É um
tema que precisa ser tratado em caráter de emergência", pontua o fundador do
Grupo Oncoclínicas.
Em tempos de Covid-19, ele reforça que é essencial entender as especificidades
da linha de cuidado oncológico e conferir o olhar humanizado. "Os
pacientes precisam se sentir, acima de tudo, assistidos em suas
individualidades", finaliza Bruno Ferrari.
Interessados em participar e conhecer mais detalhes sobre o movimento O Câncer
não Espera podem encontrar mais informações no www.cancernaoespera.com.br
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