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segunda-feira, 29 de março de 2021

Maior mortalidade por COVID-19 em áreas vulneráveis deve orientar prioridades de vacinação, analisa estudo

Estudou analisou a mortalidade da população de Belo Horizonte e mostrou maior risco entre idosos e moradores de áreas de maior vulnerabilidade social


A população residente em áreas de maior vulnerabilidade social apresentou maior mortalidade durante a pandemia da COVID-19 no ano passado. É o que comprova o estudo “Maior mortalidade durante a pandemia de COVID-19 em áreas socialmente vulneráveis em Belo Horizonte: implicações para priorização da vacinação”, conduzido pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), com a participação de pesquisadores e gestores da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (SMS-BH)* e da organização global de saúde pública Vital Strategies.

O estudo epidemiológico comprovou a maior mortalidade por causas naturais e por COVID-19, entre março e outubro de 2020, nos setores censitários de maior vulnerabilidade da cidade de Belo Horizonte, conforme o Índice de Vulnerabilidade em Saúde (IVS) que leva em conta cinco variáveis: saneamento, coleta de lixo, abastecimento de água, alfabetização e cor da pele e classifica as áreas de baixo, médio e elevado risco social.

“A COVID-19 não atinge a população da mesma forma e está escancarando ainda mais a desigualdade brasileira. Pessoas idosas e com maior vulnerabilidade social são aquelas mais atingidas pela pandemia. Por isso, dentro dos grupos prioritários de vacinação, devemos privilegiar a distribuição da vacina em áreas de média e alta vulnerabilidade social. Essa é uma estratégia para reduzir a mortalidade e a morbidade da população mais afetada”, afirma a professora da Escola de Enfermagem da UFMG, Deborah Carvalho Malta. 

A mortalidade por COVID-19 foi muito maior nos idosos. Enquanto a taxa de mortalidade foi igual a 4/100.000 habitantes nos residentes de Belo Horizonte com idade entre 20 e 39 anos, esta taxa é igual a 164/100.000 habitantes entre os idosos entre 60 e 74 anos, chegando a 611/100.000 habitantes para idosos com 75 ou mais anos.

O local de moradia da população de Belo Horizonte também se mostrou um fator preponderante. A taxa média de mortalidade foi de 292,3 por 100 mil residentes entre idosos (60 anos ou mais). As taxas foram de 179,2, no setor de baixa vulnerabilidade, 353,6 (média) e 472,6 (vulnerabilidade elevada e muito elevada). Essas diferenças se mantêm entre idosos de 60-74 e 75 anos ou mais. Os números bem mais que dobram na comparação entre setores de baixa e elevada vulnerabilidade.

“As taxas de mortalidade padronizadas para a idade evidenciaram o aumento do risco de morte conforme aumenta a vulnerabilidade social. Os idosos que residem nessas áreas correm maior risco de exposição ao vírus, porque precisam usar o transporte público, moram com parentes que trabalham em serviços essenciais, têm menor acesso aos serviços de saúde e maior número de comorbidades, aumentando a letalidade por COVID-19”, afirma Deborah Malta.

“O cenário atual no Brasil de restrição de doses impõe a priorização da vacinação, mesmo dentre os grupos prioritários, como os idosos. Os dados desse estudo reforçam a importância de considerar as desigualdades sociais como um fator determinante no acesso prioritário à imunização. Fazendo isso, vamos aliviar a pressão ao sistema de saúde, não apenas em Belo Horizonte, mas em todo o país, especialmente onde o sistema de saúde está prestes a colapsar”, finaliza Fátima Marinho, médica epidemiologista e especialista sênior da Vital Strategies.

 


Gráfico: Mortalidade por COVID-19 em Belo Horizonte, por faixa etária e áreas de vulnerabilidade em saúde, entre março e outubro de 2020

 

Sobre o grupo de pesquisa

O grupo de pesquisa Rede GBD Brasil - Carga Global de Doenças, coordenado pela professora Deborah Malta, tem longa tradição no estudo de doenças crônico degenerativas no país, com ênfase na análise das desigualdades sociais. Este estudo interdisciplinar foi liderado pela geriatra e professora titular aposentada da Faculdade de Medicina da UFMG, Valéria Passos, com a participação de epidemiologistas (Fátima Marinho, Deborah Malta, Mayara Santos e Ísis Machado), cardiologistas (Luísa Brant e Antônio Ribeiro), demógrafo (Pedro Pinheiro) e gestores da Secretaria Municipal de Saúde de Belo Horizonte (Paulo Correa, Lúcia Paixão e Fabiano Pimenta Junior).

 

 

Vital Strategies

www.vitalstrategies.org

 

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