Nutricionista
do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo Cruz enfatiza a
seriedade da higienização dos alimentos consumidos pelos pacientes oncológicos
O tratamento
oncológico requer atendimento multidisciplinar e individualizado. Um
profissional importante no acompanhamento do paciente é o nutricionista. É ele
quem irá traçar o plano alimentar de cada um, para garantir que todas as
necessidades nutricionais sejam preservadas durante o processo terapêutico do
paciente oncológico.
Além disso, a
manutenção da boa alimentação é fundamental para o controle dos sintomas da
doença e dos efeitos colaterais dos tratamentos. De acordo com Kátia Braz,
nutricionista do Centro Especializado em Oncologia do Hospital Alemão Oswaldo
Cruz, a inapetência e a dificuldade de aceitar alguns alimentos,
características do tratamento oncológico, precisam ser acompanhadas de perto
para garantir que as drogas administradas para o combate à doença tenham o
efeito planejado e não prejudiquem o estado nutricional dos pacientes.
A nutricionista
explica que o ideal é que o acompanhamento tenha início logo que é feito o
diagnóstico do câncer e deve seguir durante todas as etapas do processo que
pode envolver cirurgia, quimioterapia, radioterapia, transplante, imunoterapia,
por exemplo. Com um quadro nutricional adequado, o paciente vai responder de
forma mais positiva às intervenções terapêuticas, inclusive com menos efeitos
colaterais, e para evitar também a síndrome multifatorial chamada caquexia, que
ocorre em até 80% dos pacientes com câncer avançado. A caquexia é caracterizada
pela perda de tecido adiposo e muscular, associada ao processo inflamatório
sistêmico que tem como consequência a redução de massa corpórea. "Para
prevenção da caquexia, o ideal é que seja feito uma otimização dos cuidados
nutricionais com um especialista, seguir a orientação da dieta adequada e
individualizada, além de controlar os sintomas causados pela doença e pelo
tratamento (náuseas, vômitos, plenitude pós-prandial, disfunção intestinal e
fadiga). Esse acompanhamento é fundamental para garantir uma boa qualidade de
vida durante e após a cura da doença", comenta a nutricionista.
Higienização dos
alimentos
Outro ponto importante
é garantir a higienização máxima de tudo o que o paciente ingere. A
agressividade dos tratamentos pode causar diminuição da imunidade, tornando a
pessoa mais suscetível às infecções. Dessa forma, se mal lavados, os alimentos
podem conter microrganismos causadores de infecções alimentares. "Todos os
insumos devem ser lavados em água corrente e depois colocados de molho em
soluções a base de cloro. Por isso, os alimentos crus devem ser evitados, como
as carnes malpassadas, peixes e ovos com a gema mole", explica a
nutricionista.
Quimioterapia
Um dos tratamentos de
câncer mais comuns é a quimioterapia e, para auxiliar na eficácia do
procedimento, logo no início é essencial que o nutricionista faça uma avaliação
do quadro. "O profissional deve avaliar todas as condições do paciente,
verificar o que ele está acostumado a comer, restrições, alergias, se tem
diabetes, hipertensão, doenças crônicas e hepáticas. Cada tratamento é
individualizado e a alimentação deve ser adaptada conforme as necessidades do
paciente", diz Kátia.
Colostomia e
Ileostomia
A colostomia e a
ileostomia são procedimentos cirúrgicos para pacientes com tumores do trato
gastrintestinal. No caso da colostomia, o paciente passa por uma cirurgia de
abertura do cólon através da parede abdominal, dessa forma, a parte do
intestino grosso é exteriorizada e uma bolsa coletora é colocada para a saída
das fezes. Já a ileostomia é o procedimento em que é feita uma ligação entre o
intestino delgado e a parede abdominal, onde também é colocada uma bolsa
coletora para a eliminação das fezes e gases. Estes orifícios artificiais podem
ser temporários ou definitivos.
A alimentação dos
pacientes que fazem a cirurgia de colostomia ou ilestomia é diferenciada e
depende do funcionamento da bolsa que é colocada no procedimento. "No caso
da ileostomia, a consistência das fezes é mais liquida, então, o paciente pode
perder mais micronutrientes como as vitaminas e os minerais, porque há
dificuldade para absorção. Portanto, é importante ter uma alimentação
individualizada em que o nutricionista vai repor os sais minerais com bebidas
isotônicas, por exemplo, para que ele possa repor tanto o líquido quanto esses
micronutrientes. Com a bolsa de colostomia, as fezes apresentam consistência
mais pastosa. Dessa forma, a alimentação precisa ser de acordo com os sintomas
que o paciente está apresentando, se tiver mais dificuldade em evacuar, por
exemplo, a dieta precisa ser mais laxativa e sempre com comidas que o paciente
consiga fazer a higienização. "Alguns alimentos, como a maçã, que oferecem
um odor mais agradável às fezes são coringas que ajudam no tratamento. Outros
precisam de mais cuidado, como em casos de comidas que dão muitos gases e a
bolsa fica estufada, como peixes, ovos, repolhos e brócolis. Essas devem ser
consumidos com parcimônia", explica a nutricionista.
Mucosite
No tratamento do
câncer, algumas medicações podem levar ao desenvolvimento de mucosite, uma
inflamação na área da boca, faringe e todo trato gastrintestinal. Nesses casos,
é fundamental que o paciente procure uma orientação odontológica. No entanto,
em relação à alimentação, Kátia explica que o paciente deve realizar pelo menos
cinco ou seis refeições ao dia, de 3 em 3 horas. Preparar a comida na
consistência que o paciente consiga tolerar da melhor forma e que ofereça menos
dificuldade para mastigar ou engolir como purês, suflês, mingau, pudins,
gelatina, carne moída, etc. Importante também evitar alimentos secos, salgados
e ácidos. Nos casos mais graves, preferir alimentos líquidos, liquidificados,
frios, gelados ou em temperatura ambiente.
Todos os alimentos têm
seus benefícios e, para o paciente oncológico, o consumo de todos os nutrientes
na proporção correta é fundamental. "Sem os carboidratos, por exemplo, nós
ficamos sem energia, e, a fadiga, que é um dos efeitos colaterais da
quimioterapia e da radioterapia, pode agravar. Importante também que na dieta
contenha as proteínas tanto animais quanto vegetais, como carnes, ovos, leites
e grãos, e as vitaminas e minerais, presentes nas frutas. O equilíbrio de todos
os nutrientes ajuda o organismo a se fortalecer, durante e após o
tratamento", diz.
"A alimentação
além de prazerosa, ajuda no desenvolvimento do organismo e previne várias
doenças. É fundamental que o paciente que se curou do câncer tenha atenção ao
que ingere. Uma alimentação pós tratamento deve ser pobre em açúcar, produtos
industrializados e rica em produtos in natura, como frutas e verduras,
complementando com a prática de atividades físicas", conclui Kátia.
Hospital Alemão
Oswaldo Cruz
https://www.hospitaloswaldocruz.org.br/
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