A política do filho único foi implantada pelo governo chinês no final da década de 1970 com o objetivo de reduzir o crescimento populacional e, desse modo, facilitar o acesso da população a sistemas de saúde e educação de qualidade; casais que tinham mais de um filho eram multados e podiam sofrer outras penalidades.
Em outubro de 2013, o
governo chinês aboliu a lei após perceber problemas gerados pelo envelhecimento
da população, passando a permitir até dois filhos por casal. Essa abolição não
fez com que fossem atingidas as metas populacionais planejadas, sendo que em 2019
a taxa de natalidade na China foi a menor das últimas sete décadas, o que se
atribui a mudanças no estilo de vida, custo de vida elevado e uma cultura de
trabalho exigente - a população chinesa vem crescendo 0,32% ao ano; no Brasil,
esse número é 0,67%.
Ding Lei, é fundador e
CEO da NetEase, a segunda maior empresa de jogos da China e que também opera um
popular serviço de streaming de música propõe, como forma de remediar a
situação, dar melhores condições às mães.
Ding fez a proposta na
sessão anual conjunta do parlamento da China e da Conferência Consultiva
Política do Povo Chinês (CCPPC). Ele é membro da CCPPC, que inclui outros
expoentes da área de tecnologia, como Pony Ma da Tencent, Lei Jun da Xiaomi e
Robin Li do Baidu.
Segundo Ding, esforços
devem ser direcionados para melhorar a assistência às mulheres grávidas,
aumentar a licença-maternidade, melhorar a assistência médica infantil e as
creches etc.
Ele defendeu ainda a
licença paternidade, já introduzida pela maioria das províncias chinesas, mas
com características diferentes: em Guangdong, onde ficam as sedes da NetEase e
da Tencent, os pais têm direito a até 15 dias de licença paternidade paga.
Xangai, por outro lado, concede apenas 10 dias. Quanto às mães, a licença
maternidade está ao redor de cem dias - no Brasil, são 120.
Ao se discutir esse
tema, podem ser considerados algumas informações sobre a situação das mulheres
nas empresas de tecnologia chinesas: em 2019, 35% dos 20.000 funcionários da
NetEase eram mulheres, assim como 25% de sua alta administração. A agência de
viagens online Ctrip, que se orgulha de oferecer benefícios para as
funcionárias, disse em 2018, que mais de 60% de seus funcionários eram
mulheres. Jack Ma, palestrante frequente em fóruns de liderança feminina, prometeu,
em 2019, que as mulheres em breve deveriam representar mais de 33% da equipe do
Alibaba.
No caso do Brasil, o
IBGE nos traz a informação de que as mulheres são mais instruídas, porém ocupam
apenas 37,4% dos cargos gerenciais no país. Diz também que a desigualdade é
ainda mais elevada no grupo dos 20% dos trabalhadores com os maiores salários,
em que as mulheres são apenas 22,3% e recebem cerca de 77% dos salários pagos
aos homens.
No caso específico da
área de tecnologia da informação no Brasil, onde apenas 20% dos profissionais
são mulheres, o aumento da presença feminina certamente contribuiria para
minorar os problemas gerados pela carência de pessoal na área.
Vivaldo José Breternitz - Doutor em Ciências pela Universidade de São
Paulo, é professor da Faculdade de Computação e Informática da Universidade
Presbiteriana Mackenzie.
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