No momento em que os cérebros do planeta inteiro estão sacudindo
os neurônios para pensar o mundo de “depois”, opinando sobre a forma dessas
mudanças, projetando novas tendências e identificando oportunidades, também há
muitos duvidando da realidade de uma verdadeira transformação.
Por outro lado, a revolução genuína, mesmo que temporária, é essa
provocada pela quarentena e a adoção repentina do home office por 60% dos
brasileiros. O novo modo de trabalhar impacta todos os aspectos das nossas
vidas, tanto no pessoal quanto no profissional. Um assunto que era muitas vezes
descartado para o fundo da lista de prioridades, e que se posiciona agora como
incontornável, é a questão das boas (e não tão boas) práticas de
trabalho.
Por práticas de trabalho, entendemos, entre outros, os seguintes
temas: gestão do tempo, gerenciamento do estresse e das emoções, equilíbrio
entre vida pessoal e profissional e consequências de uma vida sedentária no
bem-estar e na saúde. Se já tínhamos consciência da existência dessas questões,
mas raramente eram priorizadas tanto pela liderança das organizações quanto
pelos próprios colaboradores, agora, numa situação tão especial, não tem como
fugir do problema e algumas práticas têm bombado nesse período.
Gestão do tempo
Apesar de ter suprimido o tempo de deslocamento e tirado algumas atividades extras da agenda, para muitos trabalhadores em home office parece que o número de horas no dia encolheu, e por vários motivos: um dos principais é a presença de filhos ou parentes com necessidade de atenção especial. Para as famílias, o tempo apertou mesmo.Também tem sido desafiador integrar a rotina de cuidados com a casa e alimentação no cotidiano. Houve um certo fervor em não parar as atividades, em seguir mais forte do que nunca frente à quarentena, à epidemia e ao baque econômico esperado.
Nesse contexto, implementar metodologias mais rigorosas de gestão
do tempo é quase uma obrigação. Os dias ritmados pelas videoconferências exigem
um planejamento prévio do dia, uma organização das prioridades e a eliminação
dos tempos “vácuos” que pontuavam os dias no escritório: os dez minutos de papo
informal no início de reuniões esperando todos os participantes chegarem
(parece que o atraso em call não é uma prática tão comum e tolerada), o
cafezinho na copa e outras conversas de futebol (sem querer opinar aqui sobre a
importância e validade desse tipo de momento de socialização no trabalho).
As intromissões da vida pessoal na profissional, e vice-versa,
nunca foram tão claras, numa configuração onde o espaço físico é o mesmo. Mas
também não é novidade. Quem nunca resolveu uma questão pessoal nas horas de
trabalho ou trouxe trabalho para casa à noite? Planejar as atividades do dia,
separando, na medida do possível, tarefas de trabalho e de casa, tornou-se
essencial para a saúde mental de todos, mesmo sendo algo que já precisava ser
levado em conta antes da quarentena.
No fim das contas, se antes deixávamos o dia “acontecer”, levados
pela dinâmica e hábitos de escritório, parece que em home office temos mais
consciência de onde vão as 24 horas do nosso dia e somos forçados de uma vez a
debruçar sobre gestão de tempo, planejamento e priorização (não é por isso que
o tempo deixou de voar!).
Concentração e Produtividade
Como consequência direta da redução do tempo disponível, precisamos que as horas trabalhadas “rendam”. Se você conseguiu negociar com o seu filho duas horas para trabalhar sem interrupção, essas horas precisam ser super produtivas. Eis a questão do foco. Não é novidade, já tínhamos tendência a fazer várias tarefas ao mesmo tempo, sempre de olho no celular e potencialmente interrompidos por uma conversa de escritório. Em casa, as redes sociais chamam mais do que nunca a nossa atenção, as conversas dos vizinhos de baia têm sido substituídas pelos pedidos de atenção dos filhos ou familiares, e não faltam as tentações de uma visita à geladeira ou arrumar aquele armário que está precisando tem seis meses.
As dicas de produtividade têm brotado por todos os lados, criando
até uma certa ansiedade por não conseguir essa tal de produtividade. Algumas
soluções valem a pena de serem consideradas, e até levadas ao escritório quando
for a hora de voltar: planejamento e priorização.
Gerenciamento do estresse e da ansiedade
Em um país já campeão de estresse e ansiedade, a chegada de uma pandemia e suas consequências na saúde e no desemprego só aumenta a propensão a desenvolver altos níveis de estresse. O isolamento social e suas consequências nas relações afetivas também têm sido um grande desafio para muita gente. Dedicar atenção suficiente ao trabalho e ao mesmo tempo atender as demandas de casa têm gerado uma pressão enorme e, possivelmente, frustração e até desespero.
Se a proposta existia bem antes da quarentena, a procura por
práticas como yoga e meditação online tem explodido nas últimas semanas. As
organizações também têm buscado soluções para auxiliar os seus colaboradores
durante esse período desafiador. A Yogist, especialista em yoga corporativo,
viu a demanda aumentar e passou a oferecer aulas online, com horários do
expediente dedicados à prática em casa, ou com sessões encaixadas em webinars
ou reuniões de equipe online.
Esse boom só veio confirmar uma tendência já existente: a
pertinência de trabalhar a respiração, relaxamento e foco. A prática do yoga,
por exemplo, por meio da atenção plena e respiração, ajuda a combater os mecanismos
fisiológicos do estresse, como ritmo cardíaco elevado, hipertensão, dor de
cabeça e, por consequência, a melhorar o foco e a concentração.
Sedentarismo
Um outro mal que a prática do yoga ajuda a combater é o sedentarismo e os seus impactos nefastos na saúde mental e física. Se já tínhamos vidas sedentárias antes, sentados o dia inteiro no posto de trabalho ou na sala de reunião, agora que transitamos apenas da cozinha até a sala, e que uma eventual rotina de exercício físico virou de cabeça para baixo, conseguir o ânimo e a modalidade certa para mexer o corpo sem sair de casa são uma equação complexa de se resolver.
Nessa configuração, o yoga ganhou mais alguns pontos. Na sua
modalidade corporativa na cadeira, ou mais tradicional no tapete, representa
uma prática acessível a todos, com vários conteúdos gratuitos em inúmeras
contas do Instagram e canais do YouTube, além de ser segura (e sem danos
colaterais para os vizinhos de baixo!). Tem mais: depois de algumas semanas
trabalhando de casa, em instalações mais ou menos confortáveis e pouco
ergonômicas, os corpos, e principalmente as colunas, estão começando a pagar um
preço alto. Alongar o corpo e fortalecer a musculatura postural com yoga pode
ser uma salvação.
Se ainda não chegou o fim da quarentena, mas já sabemos que o home
office fará parte do futuro do trabalho, então por que não pensarmos também nas
soluções que buscamos durante a quarentena e que poderíamos manter?
Armelle Champetier - diretora da Yogist Brasil
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