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segunda-feira, 4 de maio de 2020

DESEJANDO QUE FAÇA SOL


The Big Bang Theory, ou a Teoria da Grande Explosão, é uma formulação explicativa para a deflagração do Universo, a qual o teria trazido ao seu atual estado. O Universo está em expansão, em movimento de diástole. Os corpos celestes distanciam-se de um ponto central e entre si.

Visto que assim é, então, em tese, como o Universo se expande há incontável tempo, em algum momento haverá ocorrido uma explosão de incalculável magnitude que teria dado partida a essa situação em que tudo se afasta de tudo em velocidade que se acelera sobre si própria (exponencial).

Isto, contudo, não é inferência conclusiva, não é algo conferido; apenas se convencionou a hipótese (proposição que se admite, independentemente do fato de ser verdadeira ou falsa, como um princípio a partir do qual se pode deduzir um determinado conjunto de consequências, Houaiss).

Religiosos vêm nesse início um criador. Aristotélicos veriam a partida do motor que movimenta o mundo. Cientista algum acredita que a hipotética explosão seja o “começo do mundo”, até porque, se havia algo para explodir, já existia, óbvio, um compactado mundo que sofreria a explosão.

Essa questão do “começo de tudo” permanece uma incógnita. Simplesmente não se sabe quando o Universo passou a existir. Talvez porque a ciência ainda não tenha meios de conferir, quiçá porque a nossa noção de tempo não seja adequada para os sofisticados cálculos necessários.

Esse tema aparta crença religiosa e pensamento científico. O cientista sabe que não sabe; propõe-se um por quê?; interroga-se e se informa. O religioso pensa que sabe; tem resposta pronta; impõe-se um porque:; responde-se que uma divindade criou o céu, a terra e tudo o que habita o mar e o ar.

Derrui-se a “certeza” religiosa com lógica singela: se necessário um ser criador do mundo, então, igualmente necessário um ser criador do ser criador do mundo. Se o mundo não pode existir sem um deus, então referido deus não pode existir sem que um deus antecedente o tenha criado.

Ademais, se, por declaração de fé, postula-se um efeito sem causa (um deus advindo de geração espontânea, autogerado), por coerência se admitirá que toda e qualquer coisa dispensa causa para ser efeito: o mundo, pois, poderia existir a partir de geração espontânea, produzindo-se a si próprio.

Mas, variei do rumo. A The Big Bang Theory que apeteço considerar é outra: o seriado de televisão intitulado Big Bang: A Teoria. Nele, um físico teórico, Sheldon Cooper, puro intelecto, compreende (logicamente) o Universo, mas não compreende (abismadamente) o mundo ao seu redor.

Em algum episódio, de forma amistosa, alguém lhe deseja sucesso em um concurso a que se submeteria, ou seja: faz-lhe votos de boa sorte em tempo futuro. Sheldon contém sua pressa e dá margem ao seu espanto indignado com a absurdidade: outro cientista se permitira encomendar o futuro.

Ora, como alguém, mais ainda um colega seu, com um rasgo de sensatez vê sentido em desejar qualquer sorte, boa ou má? Coisa estúpida. O futuro, desimportantes boas ou más estimas, será aleatório. Não há pensamento positivo que nos proteja, não há praga que nos maleficie.

Esse episódio de Big Bang: A Teoria me ocorreu porque não pude evitar o testemunho de encomenda dessa natureza: alguém desejando a outro alguém que houvesse sol em dado fim de semana. O destinatário da vontade, agradecido, pediu que o emitente rezasse para que assim ocorresse.

Apelei ao Sheldon. Lembrei que tribos primitivas dançavam ao redor do fogo, almejando influenciar as condições climáticas; que a gente ignara medieval rezava para chover ou fazer sol, mas que, hoje, aplicativos fornecem com elevado grau de certeza a condição do tempo dos dias seguintes.

Bestificado, como se a ciência lhe caísse toda de vez aos olhos, o alguém, orientado no manejo do próprio telefone, conferiu. Satisfeito, expressou-se: graças a deus, que ouvira suas orações, não choverá. Sheldon conteve-se e volveu à física teórica, que a vida prática é nada fácil de se aturar.



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