Especialista
aponta setores brasileiros que podem se sobressair no pós-crise e países que
devem voltar os olhos para cá
Segundo a projeção mais recente do Fundo Monetário
Internacional, a economia mundial terá a maior retração desde a crise de 1929.
Isso em um ano em que a expectativa era de crescimento. Reflexo do novo
coronavírus e seus desdobramentos na saúde, na política e na rotina das
empresas. Mas o Brasil tem alternativas de recuperação e de captação de
recursos estrangeiros no pós-crise. É o que garante Emanuel Pessoa, Consultor
em Política Econômica Internacional e Advogado especialista em Negociação,
Contratos, Inovação e Internacionalização de Empresas.
De acordo com o profissional, um horizonte razoável
para a retomada significativa de investimentos no país quando acabar o período
de isolamento social é de pelo menos 90 dias. "O tempo vai depender de
como a crise vai se encerrar. Se ela acabar porque descobriram um remédio
eficaz ou uma vacina, os investimentos voltarão rapidamente. Mas se ela chegar
ao fim por conta do achatamento da curva, investir em mercados externos vai
seguir sendo um risco maior do que normalmente seria", explica. "Na
economia, as pessoas reagem fortemente às expectativas e, sem um remédio ou
vacina, vai permanecer o temor de se perder investimentos ou de mais
desvalorização cambial", acrescenta.
Definir o montante que o Brasil precisará para se
reestabelecer no pós-crise é difícil. Mas para se ter uma ideia, segundo o
consultor, apenas em infraestrutura, o país precisaria de cerca de R$ 350
bilhões por ano, para atingir a média mundial de 5% do PIB em investimentos
nessa área. Hoje, isso varia em torno de 1,5% do PIB. E quem pode ajudar o
Brasil com isso? "Sem dúvidas, a China e os Estados Unidos. Tudo indica
que pós-coronavírus esses dois países entrarão em uma competição acirrada por
áreas de influência, acelerando os investimentos externos pelo mundo. O Brasil,
particularmente, vai seguir sendo um forte destinatário desses recursos",
afirma Emanuel. Ele explica que Alemanha e França deverão focar na União
Europeia e o Reino Unido na situação interna já que se vê em meio ao
Brexit.
De acordo com o especialista, o câmbio brasileiro
desvalorizado e as oportunidades que o estrangeiro pode encontrar aqui
estimulam o investimento externo. Ele cita 5 áreas que
podem atrair o capital de fora:
FARMACÊUTICA
"O Brasil tem a vantagem de ter matéria-prima
para o desenvolvimento de remédios. O nosso clima é favorável a uma variedade
incrível de insumos e isso atrai o olhar das indústrias do mundo todo.
Principalmente depois de uma pandemia como a que vivemos com o novo
coronavírus, os países devem investir ainda mais na área da saúde e na pesquisa
de medicamentos. Já temos laboratórios de referência e uma indústria instalada.
Com a maior atenção à necessidade de se fazerem pesquisas sobre princípios
ativos e remédios, o Brasil tem uma imensa vantagem competitiva".
SAÚDE
"Os dados do SUS, o Sistema Único de Saúde,
são valiosos. Com exceção daqueles que revelam informações pessoais dos
pacientes ou sua intimidade, eles são públicos e disponibilizados pelo Governo
Federal. Isso significa que é possível saber quantos exames de cada tipo foram
feitos em cada hospital, quantos e quais remédios foram consumidos, quantos
casos de cada doença foram registrados, etc. Ao cruzar esses dados com os
levantamentos do IBGE sobre a população brasileira, tem-se em mãos informações importantes
para estudos de inteligência de mercado. Isso deve atrair muitos investimentos
em breve ao setor de prestação de serviços de saúde no Brasil.
Alguns setores estratégicos da indústria deverão
ser estimulados por diversos países, especialmente aqueles ligados a
suprimentos e equipamentos médicos. O nosso país já esteve entre um dos maiores
parques industriais do mundo. Embora tenha se desindustrializado fortemente nos
anos 90 e 2000, por conta de sucessivas ondas de sobrevalorização do Real, a existência
passada de um parque industrial forte, ainda que agora defasado, implica na
existência de capacidade instalada, em uma vocação industrial subutilizada e,
em diversos setores, um acúmulo de capital intelectual ainda disponível”.
ALIMENTOS E MATÉRIAS-PRIMAS
"A crise tornou ainda mais evidente a
necessidade de os países terem capacidade de alimentar a população em situação
de crise e de ter acesso às matérias-primas para a sua produção doméstica,
sendo mesmo uma questão de segurança nacional. Todavia, os países importadores
líquidos de comida não têm condições de desviar sua produção doméstica para a
produção agrícola, seja porque não dispõem de condições naturais ou porque
representaria uma forte perda para a atual organização de suas economias. Assim,
os investimentos devem se intensificar para garantir a segurança alimentar dos
países investidores, principalmente por conta da China, sendo facilitados pela
mudança na legislação sobre aquisição de terras por estrangeiros, além de
aumentar seus estoques de matérias-primas. O escoamento desses produtos
vai demandar fortes investimentos em infraestrutura e logística, barateando o
seu custo de aquisição".
TELECOMUNICAÇÕES
“A disputa sobre a rede de 5G a ser instalada (com
a Huwaei do lado chinês) deve promover uma corrida de investimentos nos
mercados mais populosos do mundo. Isso inclui o Brasil”.
STARTUPS
"No que diz respeito às startups, aquelas
relacionadas a educação (edutechs), logística (logitechs) e saúde vão se
destacar, dado que embora muitas experiências com EAD tenham sido frustrantes
neste período de isolamento social, especialmente para pais de crianças mais
jovens, elas também foram proveitosas para treinamentos e aquisição de
competências. Além disso, a crise evidenciou a necessidade de termos uma melhor
logística interna, adaptada a suprir necessidades imediatas e geograficamente
mais próximas, assim como a importância de se cuidar da saúde passou a ser
ainda mais prioritária para todos".
Emanuel Pessoa - Mestre em Direito pela
Universidade de Harvard, Doutor em Direito Econômico pela Universidade de São
Paulo e Certificado em Negócios de Inovação pela Stanford Graduate School of
Business. É vice-presidente do Harvard Club of Brazil e advoga em sua
escritório com sede em São Paulo, atendendo tanto no Brasil quanto no exterior.
Com seu trabalho, Emanuel Pessoa ajuda profissionais liberais e empresários a
negociarem contratos e a vencerem disputas comerciais. O advogado já obteve
ganhos superiores a R$1 bilhão para os clientes, direta ou indiretamente, em
negociações empresariais e brigas legais.
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