A pandemia do novo coronavírus está causando um
verdadeiro estrago na indústria brasileira. Com boa parte do comércio de portas
fechadas, a demanda pelos produtos despencou. Somado a isso, existe a grande
dificuldade para conseguir insumos e matérias-primas nacionais e principalmente
importadas devido às restrições logísticas e a alta do dólar. Muitas encaram
ainda a dificuldade de conseguir capital de giro no sistema financeiro.
Segundo uma pesquisa da CNI - Confederação Nacional
da Indústria, 79% das indústrias afirmam ter sofrido redução nos pedidos. Cerca
de 53% apontam que a queda foi intensa. Os dados mostram que 86% das empresas
estão com dificuldade para receber insumos e 83% enfrentam problemas na
logística de transporte, tanto de produtos como de matérias-primas. Três em
cada quatro empresas consultadas (73%) enfrentam dificuldades para honrar os
pagamentos de rotina. Diante desse contexto, inovar parece ser a única saída
para a sobrevivência de muitas indústrias brasileiras - que já agonizavam muito
antes da pandemia.
Nesse sentido, a chamada Indústria 4.0 deve
finalmente ganhar mais atenção dos empresários brasileiros. O termo, que foi
usado pela primeira vez pelo governo alemão em 2012, engloba uma série de
tecnologias que utilizam conceitos de sistemas
cyber-físicos, Internet das Coisas e Computação em Nuvem. Seu principal
atributo é a criação de fábricas inteligentes, que criam uma cooperação mútua
entre seres humanos e robôs em tempo real. Essas tecnologias trazem inúmeras
oportunidades para a geração de valor aos clientes e um aumento significativo
de produtividade.
Mais de 50% das empresas na China, Estados Unidos e
União Europeia já estão adaptadas à Indústria 4.0. No Brasil, segundo dados da
Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), menos de 2% das
organizações do país estão verdadeiramente inseridas nesse conceito, o qual tem
capacidade para movimentar
US$ 15 trilhões nos próximos 15 anos, o que representa aproximadamente
oito PIBs do Brasil (ano base 2019). Contudo, com a pandemia, a tendência é que
mais indústrias brasileiras busquem a modernização a fim de aumentar sua
vantagem competitiva.
Cabe destacar ainda que o conceito de Indústria 4.0
não é restrito apenas às indústrias. Diversas empresas dos segmentos de
comércio e serviços, por exemplo, também vem adotando as tecnologias da
Indústria 4.0. Outro ponto importante é que não necessariamente a adoção ao
conceito de Indústria 4.0 está atrelada a altíssimos investimentos. Muitas
dessas tecnologias tem baixo custo e promovem grandes ganhos de produtividade,
eficiência e até em segurança da informação. A grande questão está em fazer uma
implementação adequada e inteligente das tecnologias certas para cada tipo de
operação.
E, se tem algo em que os especialistas em inovação
são unanimes, é que a pandemia acelerou o futuro. Se antes as empresas
planejavam a adoção dessas tecnologias num prazo de cinco ou dez anos, agora,
esse tempo caiu drasticamente, dado que, se não se anteciparem, correm o sério
risco de não sobreviverem até lá. É claro que ainda é muito cedo para entender
os impactos reais da pandemia no médio e longo prazo, mas o que as crises
anteriores mostram é que o período subsequente tende a ser de um grande impulso
de inovação e progresso. Foi assim com outras pandemias e até com as guerras.
Inclusive, a própria ISO - International
Organization for Standardization, que foi fundada logo após a Segunda Guerra
Mundial, a fim de reconstruir as empresas que estavam devastadas,
vem acompanhando esse tema de perto. Se voltarmos um pouco no tempo, em meados
de 1980, a ISO publicou a ISO 9001, que estabelece padrões e requisitos mínimos
de qualidade, que era necessário para o contexto da época, onde as montadoras e
indústrias de transformação precisavam se reinventar, conseguindo assim um
salto de competitividade. Mais recentemente, com a crise dos bancos, em 2008, a
ISO iniciou estudos sobre inovação que culminaram no lançamento da ISO 56002,
de gestão da inovação, que promete ser agora o grande alicerce na
reestruturação das empresas no pós-pandemia.
De modo geral, a recuperação das indústrias
brasileiras passará, inevitavelmente, pela busca por mais agilidade,
inovação e valor agregado. Uma alta performance das empresas nacionais pode
atribuir maior autonomia ao país, reduzindo a dependência da importação de
alguns produtos estrangeiros. Além disso, a redução de custos, a otimização dos
processos e a minimização dos erros e desperdícios pode fazer com que as nossas
indústrias tenham muito mais condições para aumentar a vantagem competitiva. Só
assim daremos um salto rumo ao progresso que as indústrias do país precisam.
Alexandre
Pierro - sócio-fundador da PALAS e um dos únicos
brasileiros a participar ativamente da formatação da ISO 56.002, de gestão da
inovação.
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