Em busca do corpo perfeito e resultados
rápidos, praticantes de atividades físicas ignoram problemas causados pelo uso
excessivo e sem orientação
O
consumo indiscriminado de suplementos alimentares tem aumentado o risco de
alterações na função renal, especialmente entre os jovens. Em busca de
resultados rápidos para turbinar os músculos, muitos frequentadores de
academias incorporam essas suplementações à rotina de treinos por indicação de
leigos e sem o acompanhamento de um nutricionista.
Os
suplementos mais consumidos no Brasil pelos praticantes de atividades físicas
são ricos em proteína e seu uso excessivo pode acelerar o desenvolvimento de
lesões e doenças nos rins. “Esse é um dos maiores riscos. A ingestão elevada de
proteína sobrecarrega os rins, que têm de trabalhar muito mais para fazer a
filtração e excreção desse excesso, podendo levar à insuficiência renal parcial
ou total a longo prazo”, explica o nefrologista Bruno P. Biluca, da Fenix
Alphaville.
É
comum que os atletas de academia usem os suplementos mais de uma vez ao dia e
até para substituir refeições, e ao mesmo tempo adotem dietas hiperproteicas da
moda, como a Dukan, o que eleva ainda mais as chances de danos à função renal.
“Essa associação é uma bomba relógio porque as doenças renais são silenciosas,
com sintomas inespecíficos e que só costumam aparecer quando o problema já está
avançado. Como não percebem esses efeitos, as pessoas podem ter a falsa
sensação de que é seguro usar esses suplementos e ingerir muito mais proteína
do que o corpo realmente precisa”, afirma o médico. O perigo aumenta, alerta, quando
já há predisposição ou fatores de risco associados a problemas nos rins, como
pressão alta e diabetes.
O
inchaço e a formação de pedras nos rins são outras consequências que podem
ocorrer com o consumo inadequado e exagerado de proteínas, seja na forma de
suplementos nutricionais, na adoção de uma dieta alimentar restritiva, ou na
combinação dos dois, por longos períodos e sem acompanhamento.
O
ideal, tanto para quem quer perder peso como para aqueles que querem aumentar a
massa muscular, é investir em uma alimentação balanceada e o mais natural
possível, orienta o médico Bruno Biluca, e só recorrer à suplementação quando
necessário e indicado. “Os alimentos contêm todos os nutrientes que um corpo
saudável precisa. Se a pessoa tem um objetivo específico, seja emagrecer ou
ganhar músculos, deve procurar orientação porque as necessidades variam de
pessoa para pessoa, seu nível de atividade, hábitos alimentares, estilo de vida
e condições gerais de saúde. Nem sempre o que funciona para uma pessoa,
funciona para outra”, diz.
Os
suplementos alimentares não são vilões por si só e podem ser aliados para uma
boa saúde. O problema está na febre criada pelo culto a um corpo magro,
esculpido e com músculos bem definidos, sem que se meça o custo cobrado ao
organismo. Segundo Biluca, esses produtos são recomendados apenas para suprir deficiências
do organismo em caso de doenças ou para atletas de alto rendimento, e sempre
por indicação e com o acompanhamento de um especialista em nutrição.
Os
números desse mercado, entretanto, são indicativos do modismo que vem tomando
conta dos ambientes das academias nos últimos anos. Os suplementos alimentares
movimentaram R$ 2,2 bilhões no Brasil no ano passado e a estimativa é de que
são consumidos por mais de 3 milhões de brasileiros. Os campeões de venda são
os suplementos proteicos e a grande maioria dos consumidores são jovens, na
faixa dos 15 aos 30 anos.
O
crescimento a passos largos do setor gera preocupação não só entre os médicos.
O assunto também está na pauta de discussão na esfera política. Em março deste
ano, um simpósio foi realizado na Câmara dos Deputados para debater a
regulamentação e o uso dos suplementos alimentares no país.
Fenix Alphaville
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