Tratamento que estimula o sistema de defesa do próprio organismo a
combater o tumor prolonga a vida das pacientes com subtipo da doença
A Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) aprovou a primeira imunoterapia para
tratar pacientes com câncer de mama triplo-negativo na fase metastática da
doença. A aprovação do uso conjunto da imunoterapia atezolizumabe com a
quimioterapia nab-paclitaxel foi baseada nos resultados do estudo IMPASSION130, que demonstrou redução de
38% no risco de progressão ou morte e ganho de 10 meses de sobrevida em
pacientes com expressão do biomarcador PDL-1. Publicado na revista
científica The New England Journal of Medicine, o estudo clínico
IMPASSION130 envolveu 902 pacientes tratadas em 246 centros médicos de 41
países, incluindo o Brasil.
Os dados do
estudo clínico chamaram atenção da comunidade científica internacional. O
avanço ocorre em um subtipo de câncer de mama frequente em mulheres mais
jovens, geralmente com menos de 50 anos, e para o qual a eficácia dos
tratamentos é desafiadora: o triplo-negativo. A denominação vem da ausência da
expressão de três biomarcadores comumente empregados na classificação da
doença: receptor de estrógeno, receptor de progesterona e proteína HER-2.
Segundo o
Instituto Nacional de Câncer (INCA), o câncer de mama é o que mais acomete as
brasileiras, representando 29,5% da incidência da doença no país entre as
mulheres e quase 60 mil novos casos ao ano. O triplo-negativo representa em
torno de 15% deste total. Enquanto a taxa de morte por outros tipos gira em
torno de 10%, a de triplo-negativo varia entre 30% e 40% em cinco anos. Outra
característica é que parte dos casos evolui para metástase em curto período de
tempo, em torno de 1 a 3 anos.
Com base no
cenário atual, o estudo IMPASSION130 - que foi apresentado no congresso europeu
de oncologia (ESMO Congress), no último outubro - veio quebrar este paradigma
ao demonstrar benefício clínico para as pacientes com a presença do biomarcador
PDL-1, que corresponde a 41% dos casos.
Nos Estados
Unidos, esta mesma aprovação foi em 8 de março, após trâmite acelerado na
agência americana de regulação de medicamentos, oFood and Drug
Administration - FDA. No Brasil, o tratamento também recebeu a
prioridade de análise, um mecanismo adotado desde 2008 para garantir mais
celeridade conforme sua relevância para a população. A nova terapia utiliza
recursos da medicina de precisão, em que o perfil do tumor é capaz de guiar as
decisões clínicas para benefícios mais expressivos. Além disso, como
imunoterapia, estimula o sistema de defesa do próprio organismo a atacar as
células tumorais, estratégia conhecida por ter menor toxicidade e respostas
mais duradouras.
“A
imunoterapia vem sendo utilizada no tratamento de câncer com resultados
expressivos há cerca de nove anos, mas este é o primeiro avanço em tumores de
mama”, conta o pesquisador brasileiro que participou do IMPASSION130, Carlos
Barrios. “As pacientes com triplo-negativo avançado ou metastático, quando a
doença já passou para outros órgãos, têm um prognóstico difícil. Este
tratamento aprovado pela Anvisa se torna o preferencial na prática clínica”,
explica o especialista, que é diretor do Centro de Pesquisa em Oncologia do Hospital
São Lucas (RS) e do Grupo Latino-Americano de Pesquisa em Oncologia Clínica
(Lacog).
Roche
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