O contraceptivo feminino foi um dos grandes lançamentos da
indústria farmacêutica dos últimos 60 anos. Agora, cientistas acreditam estar
bem perto de lançar a pílula anticoncepcional masculina. Tudo começou
quando se percebeu que duas substâncias usadas para evitar a rejeição de órgãos
transplantados – a Ciclosporina A e o Tracolimus, ambos
inibidores da enzima Calcineurina – acabavam impedindo que as cobaias
usadas no experimento engravidassem, embora tivessem sexo com camundongos
machos.
Pesquisadores do Japão descobriram que os espermatozoides dos
camundongos que receberam as substâncias citadas continuavam com quantidade e
mobilidade capaz de fecundar uma cobaia do sexo feminino, exceto pelo fato de
não ter a “hiperativação” – movimento fundamental para que o espermatozoide
fecunde o óvulo. Certa de estar no caminho de descobrir um contraceptivo
masculino, a equipe do Dr. Haruhiko Myiata, da Universidade de Osaka, já
percebeu que os animais que receberam a Ciclosporina A ou o Tracolimus
por duas semanas se tornaram inférteis – sendo que sua fertilidade foi
restabelecida depois de uma semana que pararam de ingerir a medicação.
Na opinião do Dr. Edson Borges, especialista em Medicina
Reprodutiva e diretor científico do Fertility
Medical Group, quando lançado, o contraceptivo masculino deverá mudar
bastante o comportamento dos casais, podendo diminuir o número de vasectomias e
laqueaduras realizadas. “Por consequência, isso também terá impacto sobre a
Fertilização Assistida, já que menos pessoas enfrentarão arrependimento por não
poderem mais ter filhos e as dificuldades para restabelecer a fertilidade – o
que nem sempre é possível”.
No Brasil, são realizadas mais de 35 mil vasectomias por ano.
Entretanto, novos arranjos familiares têm levado cerca de 10% dessa população a
buscar reverter o procedimento. “A vasovasostomia, que é a reversão da
vasectomia, é um dos meios mais utilizados pela comunidade urológica para
restaurar a fertilidade masculina, mas nem sempre é bem indicada. Antes de
tudo, é fundamental saber há quantos anos o paciente foi submetido à ligadura
dos ductos seminais. Quanto mais tempo, menores são as chances de sucesso.
Outro fator importante a ser considerado nesse caso é a idade da parceira, já
que a fertilidade feminina também cai abruptamente depois dos 35 anos”.
Embora existam dificuldades técnicas que podem comprometer a
vasovasostomia, quando bem indicado o procedimento costuma resultar na
restauração dos espermatozoides em 70% - 90% dos casos, com taxas de gravidez
em torno de 50%.
Dr. Edson Borges Junior - médico urologista, especialista em
Medicina Reprodutiva, diretor científico do Fertility Medical Group – www.fertility.com.br - https://www.sciencemag.org/content/350/6259/442.abstract
Nenhum comentário:
Postar um comentário