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terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Sem descer do salto




O Carnaval está batendo à nossa porta. E, com ele, uma série de contingências chega até nós. Dentre essas amenidades, uns pensam como  aproveitarão melhor os dias de feriado, outros apenas querem mesmo é cair na folia sem preocupação, apenas curtindo os dias de festa.
Seja qual for a sua forma de passar esta festa tão popular quanto tradicional, o cuidado com a saúde deve ser essencial em todos os aspectos. Na escolha da fantasia, por exemplo, o critério “saudável” deve ser levado em conta.
Isto parece um pouco estranho, mas na realidade, meu amigo leitor, vou me fazer melhor entendido por meio de exemplos. Imagine você que a fantasia escolhida pelo folião é quente demais. Geralmente, os dias também são quentes, o que poderá acarretar em maior desidratação e, consequentemente, maior necessidade de ingestão de água. Outro exemplo pode ser dado, ainda sobre a fantasia, como o material do qual é feita. Isto parece outra preocupação boba, mas, com a transpiração, poderá ocorrer a soltura de tinta, e muitas não são tão saudáveis à pele, podendo causar irritações.
Mas, quero mesmo é comentar sobre um velho adereço, extremamente utilizado nos dias de folia: o salto alto. Visto como fundamental na composição das fantasias, ele pode ser extremamente importante para compor o visual do folião. No entanto, é também um problema, haja vista as consequências que pode trazer às articulações e à coluna.
O salto alto é responsável por algumas mudanças posturais que podem ser no mínimo nocivas a quem fizer uso dele, ainda mais se a pessoa já possui alguma predisposição, ou simplesmente já teve algum episódio de lesão. 
Tudo acontece por conta da anteriorização do centro de gravidade, que leva a projeção da massa corporal para a frente. Isto exigirá constante ajuste do sistema postural, para que a pessoa possa manter-se na postura de pé. Imagine então, meu caro leitor, como isto acontece em meio ao “sambar frenético” de um folião mais apaixonado.
A coluna vertebral precisa ajustar-se, de modo a aumentar sua curvatura lombar (lordose). Isto ocorre porque o segmento pélvico (bacia) também se ajusta, realizando uma báscula (pequeno movimento rotacional) para a frente. Consequentemente, a musculatura posterior do tronco deverá se tornar mais ativa, realizando a manutenção do equilíbrio corporal. 
A questão aqui, é agora o tempo em que a pessoa se manterá nesta condição, uma vez que o tecido muscular, apesar de ser bastante resistente, poderá entrar em fadiga, desprotegendo as articulações da coluna e, desta forma, condicionar alguma lesão. Sem contar na diminuição da ação abdominal, também responsável por proteger a coluna de impactos.
Outra articulação que poderá sofrer com o salto alto é o joelho. Este deverá realizar um ajuste,etal ajuste poderá variar desde uma hiperextensão, ou uma semiflexão mantida. No primeiro caso, os tecidos adjacentes à articulações dos joelhos se tornarão frouxos, diminuindo a fixação da patela, também acarretando em uma desproteção do segmento femoro-patelar. Isto poderá levar a dores ou até mesmo à uma lesão da estrutura cartilaginosa, caso o tempo de exposição à carga seja grande o bastante.
Se o joelho se mantiver em semi-flexão (meio dobrado), a musculatura da coxa será extremamente exigida, já que não possui a função de se manter por muito tempo em contração. Este fator levará também ao cansaço muscular, resultando em dores desta mesma musculatura, geralmente sentida após 48 horas, ou até mesmo desalinhamentos patelares e aumento do atrito entre as superfícies articulares do joelho.
Não poderia deixar de falar dos pés, não é mesmo? Com a anteriorização do centro de gravidade, os pés passam a trabalhar sobre um regime de pressão completamente anormal, pelo simples fato de o peso corporal concentrar-se totalmente na região da frente. Além disso, para aquelas pessoas acostumadas a usar salto, certamente,  já ocorreu algum grau de encurtamento da musculatura da região posterior da perna (“panturrilha”).
Nosso organismo é bastante limitado para informar-nos as condições exatas de força a que estamos sendo submetidos. Mas, quanto à pressão, somos constantemente avisados através de sensores específicos. Você sabe por quê, meu amigo leitor? 
Porque aumentos de pressão podem levar a lesões bastante sérias, tais como: bolhas e lacerações da pele, diminuição do aporte sanguíneo para a região, trauma sobre as terminações nervosas e déficit de sensibilidade. Isto tudo podendo causar complicações como dor persistente na região do antepé, ou em alguns casos mais extremos, fraturas por estresse nessa região, dependendo do tempo e do regime de cargas aplicadas.
Bem, amigos, parafraseando um conhecido locutor de televisão, não quero aqui falar apenas que o salto alto é um vilão. Sem dúvida alguma é um forte aliado na composição de conjuntos e fantasias maravilhosas, originando verdadeiros espetáculos nessa festa tão familiar ao brasileiro. Mas, por isso, é preciso cuidados importantes.
Seguem algumas dicas a quem não quiser abrir mão deste adereço:
- Não utilize saltos tão altos. Com eles os efeitos descritos poderão ser maximizados. Utilize saltos de médios para baixos.
- Não abuse do tempo sobre eles. As estruturas anatômicas também possuem um limite de tolerância.. Se for necessário, escolha dois sapatos para revezar entre eles em meio à folia destes dias, entre um com um salto mais alto e outro mais baixo.
Então, com cuidado e informação, o Carnaval pode ser sim melhor aproveitado por todos. Com muita festa, mas também com saúde e bem-estar.

Pedro Luis Sampaio Miyashiro - Professor das disciplinas de Cinesiologia, Biomecânica e Anatomia da Universidade Anhanguera de São Paulo, unidade São Bernardo

 

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