Pesquisar no Blog

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

A FEBRE DO PLANETA, A ÁGUA, E A ECOECONOMIA




O planeta está altamente febril e humanidade é o próprio vírus causador. Ou nós nos tornamos um bom hospedeiro, ou nós seremos eliminados
Os Jogos Olímpicos ainda não começaram. Entretanto, todos os dias a imprensa noticia recordes e mais recordes. Infelizmente, não são superações humanas para serem festejadas e sim sinais mais do que evidentes dos imensos desafios que a humanidade tem e terá até o findar do século XXI.
O clima está mudado e mudando. O motor climático, devido ao aquecimento global, persegue, tal qual um carro de corrida, novas e indesejadas marcas: a maior temperatura registrada nos últimos 78 anos, o maior período de seca e, subsequentemente, a maior chuva medida desde que se iniciou a série histórica.
As razões para esses fenômenos, que acontecem há pelo menos três décadas, vêm sendo alertadas pela comunidade científica internacional e apresentadas em artigos científicos ou em relatórios como os do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), fundado em 1988.
Entretanto, as sociedades, em especial a brasileira, ainda não se aperceberam que o aquecimento global associado ao desmatamento desmedido turbinaram o clima de tal forma que os eventos climáticos estão e ficarão cada vez mais extremos.
Caso aconteça neste ano de 2015 o fenômeno de aquecimento acima do normal das águas do Oceano Pacífico, denominado El Niño, poderemos esperar uma significativa alteração no ciclo das chuvas, tal qual aconteceu nos anos de 1997 e 1998. Infelizmente, isso trará uma amplificação ou mesmo uma prorrogação da seca no Sudeste brasileiro.
Diante da magnitude dos atuais desafios, as sociedades deverão repensar, reinventar e alterar todos os modelos de vida e de consumo até então vividos  – se elas mesmas desejarem continuar sobrevivendo.
Esta não é uma afirmação alarmista ou de cunho apocalíptico. É uma constatação mais do que evidente de que o planeta não suporta este nível de demanda de mais de sete bilhões de seres humanos.
O Sudeste Brasileiro, e em especial a Grande São Paulo, nunca viveu uma situação tão crítica em relação ao clima e à água, devido ao aumento populacional e, consequentemente, o consumo. Diante da realidade só existem duas posturas: atacar as raízes do problema ou empurrar com a barriga até onde der.
Soluções existem. Porém, não são soluções únicas ou mesmo mágicas. A primeira envolve a mais que óbvia constatação de que o modelo de urbanização no Brasil está falido. Não faz o menor sentido uma cidade matar seus rios e passar a depender exclusivamente de águas de outros mananciais cada vez mais distantes. Este é o caso de toda cidade brasileira que cresce.
Os índices de tratamento do esgoto doméstico urbano e industrial no Brasil são vergonhosos. E desta forma os rios estão sendo mortos a cada dia que passa. É uma grande incoerência nossa utilizar os rios como transportadores de toda a ordem de sujeira.
A ocupação de áreas de mananciais é outra incomparável idiossincrasia brasileira.
A ausência de bons planos diretores, ou mesmo a falta de fiscalização associada ao oportunismo político populista de alguns têm permitido que áreas vitais para a saúde hídrica dos rios e represas e, consequentemente, da população, sejam deterioradas em uma velocidade nunca prevista outro agravante é a verticalização das cidades, sem regras que norteiem e incentivem a “construção verde”, que defende os sistemas de captação, armazenagem e reuso das águas pluviais, aproveitamento da luz solar, equipamentos eficientes, telhados vivos etc.
Também é necessário que uma parte do terreno seja cedida ao poder público para o alargamento das ruas e calçadas – ou as cidades serão estranguladas em si mesmas. As cidades, assim como as áreas de mananciais, cada uma a seu modo, devem ser reflorestadas.
Além disso, não é possível desperdiçar nos vazamentos da rede de entrega de água o tanto que se perde no Brasil. Em alguns estados o índice de perda supera os 50%.
O Brasil é um país abençoado pela natureza sobre diversos aspectos. No quesito água, detemos aproximadamente quase 12% de toda a água potável disponível para consumo humano do planeta. Talvez seja essa fartura que não nos permitiu até agora aprender como devemos preservá-la e utilizá-la com sabedoria. É uma questão ética e ao mesmo tempo de sobrevivência para todos.
Quando se fala em sustentabilidade, uma das máximas é: pense globalmente e haja localmente. O clima da Terra depende de diversos fatores. Hoje já se sabe que o desmatamento da Amazônia, aproximadamente 20% da cobertura original, está interferindo no ciclo hidrológico do sudeste brasileiro, uma vez que isso interfere na evaporação e na umidade que chega ao sudeste.
Ao analisarmos o desmatamento da Serra da Cantareira, podemos identificar que a capacidade de aproveitamento das águas da chuvas diminuiu significativamente. Assim, desta forma, os poderes executivos federal, estadual e municipal devem de uma vez por todas abandonarem eventuais divergências partidárias e trabalharem conjuntamente com os poderes legislativo e judiciário para preservar o presente e garantir o futuro.
O planeta está altamente febril e humanidade é o próprio vírus causador. Ou nós nos tornamos um bom hospedeiro, ou nós seremos eliminados. Em suma, a humanidade deve planejar e empregar os avanços científicos para poder melhor usufruir as áreas florestais, rurais e urbanas buscando o benefício de todos e garantindo, assim, o seu próprio futuro no planeta.

Sergio Luiz Pereira - engenheiro e escritor, Prof. Dr. Livre-Docente da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e coautor do livro “A Empresa Ética em Ambiente Ecoeconômico”, lançado em agosto de 2014 pela Editora QuartierLatin SP.  É também palestrante e consultor em Ecoeconomia, professor da FEA da PUC-SP e dos programas de MBA.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Posts mais acessados