Artigo de professora da Unesp é publicado no Estadão
Noite
A malária é uma doença
causada pela picada do mosquito Anopheles infectados pelos parasitos do genêro Plasmodium.
Esta parasitose afeta, principalmente, populações pobres e marginalizadas de
países em desenvolvimento, dentre eles o Brasil, especialmente a região
amazônica e países do continente africano. Os altos índices de mortalidade e
morbidade associados a esses parasitos são atribuídos a fatores socioeconômicos
das populações atingidas e à complexa relação parasito-homem, as quais provocam
atrasos no desenvolvimento de novos medicamentos ou vacinas eficazes para o
tratamento e controle dessa doença. De acordo com a organização Médicos Sem
Fronteiras, a malária mata todos os anos cerca de 580 mil pessoas, sendo que 90%
de todas estas mortes ocorrem na África subsaariana.
O controle da malária inclui medidas
preventivas como diminuição da população de insetos pela borrifação das paredes
dos domicílios das regiões endêmicas com inseticidas de depósito e
identificação de casos humanos pelo diagnóstico rápido, apurado seguido por
intervenção terapêutica. O monitoramento da eficácia do tratamento antimalárico
é igualmente decisivo. Isso exige controle da eliminação dos parasitos para que
se possa detectar precocemente qualquer recrudescimento da doença devido às
variedades resistentes aos medicamentos utilizados.
Podemos dizer que já houve algum progresso no
controle da malária, com redução na transmissão e no número de casos. Mas isso
não é suficiente. Já existem relatos sobre a circulação nas regiões endêmicas
de cepas de Plasmodium resistentes (não-responsivas) a
medicamentos de ultima geração, como é o caso da artemisina, o que poderá
reverter a tendência positiva do controle já alcançado.
Ao longo do desenvolvimento da infecção no
homem, os parasitos apresentam diferentes formas (hipnozoítas, trofozoítas,
merozoítas e gametócitos), o que dificulta o desenvolvimento de vacinas
eficazes. O anúncio feito dia 24 de julho, pela indústria farmacêutica Glaxo
Smith Kline (GSK), sobre o parecer favorável dado pela agência europeia
reguladora de medicamentos EMA (European Medicines Agency) para o uso da vacina
antimalária “Mosquirix”, em desenvolvimento há quase 30 anos, é um pontapé
inicial no avanço do controle da malária e, quem sabe, na sua futura
erradicação, pois apenas uma combinação de ferramentas de prevenção,
diagnósticas e quimioterápicas associadas a vacinas eficazes poderão assegurar
continua redução no número de casos, mortalidade e, quem sabe, sua erradicação.
Muito ainda precisa ser feito, pois apesar de estar longe de ser eficaz,
“Mosquirix” atrai apoio financeiro para novas pesquisas, pavimentando o caminho
para o desenvolvimento de novas vacinas de segunda geração. A “Mosquirix”
corresponde, até o momento, ao único, porém, grande passo para a futura
eliminação da malaria.
A tempo, a inspiração para a “ Mosquirix” é a
descrição da proteina circunsporozoita de Plasmodium, feita pelo casal
Ruth e Vitor Nussensweig em 1985, pesquisadores da USP, posteriormente
transferidos para a Universidade de Nova Iorque após o golpe militar de 64 (http://revistapesquisa.fapesp.br/2004/12/01/uma-quimica-que-deu-certo/)
Marcia Graminha - docente da Faculdade
de Ciências Farmacêuticas da Unesp em Araraquara e coordena pesquisas de novos
medicamentos para o controle de doenças parasitárias.