Obesidade
é uma doença e precisa ser tratada com acompanhamento profissional
Cirurgia
bariátrica é uma técnica eficaz para casos mais graves de obesidade, mas a indicação depende da análise clínica e
psicológica
Na campanha deste ano para o Dia Mundial da Obesidade, em 4/03, a
Associação Brasileira para o Estudo da Obesidade e Síndrome Metabólica (ABESO)
e a Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM) querem
conscientizar a sociedade para ‘um outro jeito de olhar’. É essencial mudar a
perspectiva para a doença, entendendo que a obesidade precisa ser olhada com
mais empatia. Não basta o portador de obesidade ser convidado a fazer dietas e
exercícios, porque na maioria das vezes ele vai precisar do apoio de
profissionais.
A conscientização da população sobre os riscos e como tratar é
urgente. Dados da última pesquisa Vigitel, realizada pelo Ministério da Saúde,
divulgada ano passado, mostram que os números relacionados à obesidade e ao
sobrepeso não param de crescer no país. Quase seis em cada 10 brasileiros
estavam com sobrepeso em 2021, um aumento de cerca de 2% em relação a 2019. Já
o índice de obesidade ficou em 22,35% em 2021, também superior aos anos
anteriores e o dobro do registrado há 15 anos. A maioria das pessoas acima do
peso é do sexo masculino, mas as mulheres lideram entre os que já são considerados
obesos.
Reconhecida pela Organização Mundial de Saúde como uma doença
crônica, a obesidade também é considerada um dos principais problemas de saúde
pública atualmente no mundo, em todas as faixas etárias. Isso porque a doença
tem potencial de causar e agravar diversas outras como diabetes, inflamações no
fígado, hipertensão arterial, problemas respiratórios, além de aumentar o risco
de infarto, AVC e de alguns tipos de câncer.
“Ainda existe muito preconceito e estigma em relação à obesidade e
esse paciente precisa justamente do oposto, que é apoio e compreensão, seja de
médicos, da família, do seu ciclo social e da sociedade em geral. Por isso, é
fundamental abordarmos a obesidade como o que ela é: uma doença que precisa ser
tratada com acompanhamento profissional”, lembra o cirurgião bariátrico Cid
Pitombo. A qualidade de vida do indivíduo é um fator relevante para o aumento
de peso, por isso é considerado um tratamento complexo e requer o envolvimento
de várias especialidades.
A obesidade não deve ser considerada apenas pelo “acúmulo
excessivo de gordura” no corpo. É preciso um olhar mais amplo e considerando
diferentes fatores que levam ao desenvolvimento da doença, além do perfil
genético do indivíduo, como sociais e ambientais, o sedentarismo, alimentos
ultraprocessados, consumo excessivo de calorias, distúrbios endócrinos, entre
outros.
O diagnóstico eficiente é o primeiro passo para iniciar o atendimento
do paciente, com sobrepeso e obesidade. Para isso é preciso contar com profissionais
de saúde que estejam preparados para o atendimento, capacitados e
sensibilizados para essa temática, compreendendo que o excesso de peso é uma
doença, com riscos de morbidade e mortalidade.
Cada doente deve ser cuidado de maneira individual, mas com
abordagem multidisciplinar. Na classificação de risco, seguindo o Índice de
Massa Corporal (IMC), deve-se considerar as fases do curso da vida (crianças,
adolescentes, adultos, idosos e gestantes), faixa etária e o acompanhamento do
paciente, seja na saúde pública ou privada. É importante considerar a
infraestrutura no acolhimento e no atendimento dos pacientes nos
estabelecimentos de saúde.
Cirurgia bariátrica - A partir do diagnóstico é que as estratégias de
tratamento são especificadas já que será observado o perfil do paciente para
obter os melhores resultados. Nem todo doente, com sobrepeso ou obesidade,
apresenta comorbidades, como hipertensão e diabetes, por isso precisam de
acompanhamento diferenciado. Nos casos mais graves, quando o IMC está acima de
40 kg/m², não sendo possível controlar o peso corporal, com a combinação de
atividade física e acompanhamento nutricional, a cirurgia bariátrica surge como
recurso terapêutico para perda de peso.
“O paciente candidato à bariátrica precisa ser muito bem avaliado
por um médico, já que somente esse profissional pode definir qual é a melhor
forma de abordar e tratar cada tipo de obesidade. É fundamental entender as condições
clínicas e também psicológicas do paciente para sabermos se a indicação é mesmo
a bariátrica e se é o melhor momento para fazê-la”, ressalta Pitombo.
Porque a bariátrica não é recomendada para todos os casos
severos?
De acordo com o médico, nem todo portador de obesidade pode
operar. É importante que os obesos entendam que somente a presença de outros
problemas não é indicação absoluta para a cirurgia, devendo cada caso ser
analisado, levando-se em conta o tempo que está com a doença, a gravidade, a
resposta ao tratamento e o IMC do paciente. “A cirurgia é complexa, porém muito segura e rápida, levando em
torno de 40 minutos. É uma cirurgia, não se pode banalizar”, esclarece o médico
Cid Pitombo.
Cada paciente é estudado a fundo para ter a certeza de que a
bariátrica é a melhor solução. Temos que avaliar a capacidade cardiopulmonar, verificar se não há doença
vascular sobretudo dos membros inferiores, tem que haver controle máximo da glicemia e o psicológico tem
que estar bem controlado. O paciente precisa estar preparado para as restrições
da dieta pós-operatória, por exemplo. Ele tem que estar disposto a mudar
bastante seus hábitos alimentares, principalmente no início. Até mesmo a mobilidade influencia.
Temos que avaliar em que estado o paciente se encontra. Muitos precisam
emagrecer para operar”, ressalta Pitombo.
Diabetes - Vale
lembrar que a cirurgia bariátrica também já tem sua eficácia reconhecida para o
controle do diabetes tipo 2. Isso porque, após o procedimento, o alimento passa
a chegar mais rapidamente ao intestino, promovendo a liberação de diversos
hormônios, entre eles o GLP1. Esse hormônio age sobre o pâncreas, que, por sua
vez, passa a produzir mais insulina, fazendo com que o açúcar no sangue
diminua.
Conheça os principais tipos de cirurgia bariátrica:
- Bypass: um dos procedimentos mais realizados no país para
tratamento da obesidade mórbida, costuma ser feito por videolaparoscopia,
técnica minimamente invasiva. Uma grande parte do estômago é desconectada e, em
seguida, a porção restante é ligada ao início do intestino. Nenhuma parte dos
órgãos é retirada nessa cirurgia, sendo possível a reversão. Essas alterações
levam o paciente a ter menos fome, sentindo-se saciado com pouca ingestão de
alimentos. Também diminui a quantidade de calorias absorvidas pelo intestino,
levando ao emagrecimento rápido.
- Banda Gástrica Ajustável: procedimento muito pouco realizado
no Brasil, consiste na colocação de um anel que possui um balão, no alto do
estômago. Tem por objetivo diminuir a ingestão de alimentos, mas tem pior
resultado em perda de peso quando comparada a outros métodos.
- Sleeve: cirurgia autorizada no país há pouco mais de 10 anos
somente, consiste em retirar grande parte do estômago deixando em formato de um
tubo. Possui perda de peso e resultado no controle da doença metabólica menores
que o Bypass.
Entenda porque a cirurgia é apenas o início do tratamento
Após a alta hospitalar, o paciente segue seu acompanhamento
ambulatorial, com a mesma equipe multidisciplinar. É de fundamental importância
o cuidado com a dieta -- adaptada a cada técnica cirúrgica utilizada -- e a sua
progressão com o passar do tempo. Inicialmente o paciente ingere somente
pequenas quantidades de líquidos, com o tempo a dieta evolui com relação à
consistência e volume. “O acompanhamento das patologias coexistentes permite a
adequação das medicações em uso e a eventual suspensão das mesmas - total ou
parcialmente", explica o cirurgião.
Avaliações laboratoriais periódicas são realizadas a fim de se
diagnosticar precocemente os possíveis distúrbios nutricionais associados
principalmente às técnicas mistas, e assim tratá-los precocemente. “O apoio
psicológico é de fundamental importância. Assim, o paciente inicia uma longa
caminhada tendo ao lado vários profissionais que o acompanharão. A cirurgia não
é o fim, mas sim o início do tratamento”, alerta Cid Pitombo, cirurgião
bariátrico e metabólico.
Os benefícios à saúde são diversos, como: melhoria da saúde
cardiovascular, diminuindo o risco de doença coronariana, acidente vascular
cerebral e doença cardíaca periférica, com redução da pressão arterial e dos
níveis de colesterol. Remissão a longo prazo para diabetes tipo 2 em obesos;
alívio da depressão, eliminar a apneia obstrutiva do sono; alívio da dor nas
articulações; melhora a fertilidade e outras condições médicas, como a síndrome
metabólica; reduz riscos de complicações na gravidez e de doença da vesícula
biliar, entre outros.
O paciente deve ter compreensão das mudanças. A bariátrica reduz
a absorção de alimento e provoca alteração nos hormônios que estão relacionados
à fome e à saciedade. “O volume de alimentos que passa a ingerir é menor sim,
mas nada tão restritivo. Gradativamente, quem opera vai aumentando a quantidade
de comida até o limite considerado normal”, finaliza o médico Cid Pitombo.
Cid
Pitombo - especialista em tratamentos de obesidade e cirurgia bariátrica por
videolaparoscopia, tendo se tornado referência nacional em seu segmento de
atuação, com 30 anos de experiência, sendo 22 com bariátricas. Ao longo de sua
carreira, realizou cerca de 5,5 mil cirurgias. Entre elas, 3,5 mil foram pelo Programa
Estadual de Cirurgia Bariátrica do Estado do Rio de Janeiro entre 2010 e 2020,
coordenado pelo médico. É proprietário da Clínica Cid Pitombo, onde realiza
atendimento multidisciplinar para tratamento de obesidade, com acompanhamento
psicológico e nutricional para cerca de 100 pacientes por mês, de todo o
Brasil. Tem mestrado e doutorado em temas ligados à obesidade e é editor do
livro Obesity Surgery: Principles and Practice. Mais informações podem ser
obtidas pelo site da clínica.