A pandemia acelerou a preocupação das empresas, e da sociedade como um todo, em relação ao ESG - Environmental, Social and Governance – Meio Ambiente, Social e Governança, que passa agora a ser prioridade, colocando no topo da pauta corporativa a questão da sustentabilidade.
Até a década de 70, a preocupação com recursos
naturais e sociais era praticamente inexistente, pois não se acreditava na
falta de recursos e não havia uma grande preocupação com a qualidade das
condições humanas. Foi nesse período que os cientistas começaram a alertar
sobre os problemas do efeito estufa e do esgotamento dos recursos naturais,
iniciando a realização de estudos sobre maneiras conscientes de explorar o meio
ambiente e de forma sustentável, surgindo então a ideia de que é preciso
garantir que os recursos usados hoje sejam renovados para que gerações futuras
também possam usufruir deles. Junto aos estudos do meio ambiente, também surgiu
a preocupação com o desenvolvimento social e as condições humanas.
A partir desses estudos, a questão socioambiental
começou a ser uma preocupação das grandes organizações internacionais, que
passaram a discutir sobre como desenvolver a exploração de forma sustentável, sem
comprometer o próprio desenvolvimento tecnológico e social.
Essa preocupação chegou aos investidores
institucionais e em 2006, juntamente com a Iniciativa Financeira do Programa da
ONU para o Meio-Ambiente (UNEP FI) e o Pacto Global, foram publicados os
princípios do investimento responsável - Principles for Responsible Investments (PRI),
que sintetizou essa preocupação em seis princípios que devem orientar os
investidores na tomada de decisões em relação aos seus investimentos.
São eles:
1 - Incorporaremos os temas ESG às análises de
investimento e aos processos de tomada de decisão.
2 - Seremos pró-ativos e incorporaremos os temas
ESG às nossas políticas e práticas de propriedade de ativos.
3 - Buscaremos sempre fazer com que as entidades
nas quais investimos divulguem suas ações relacionadas aos temas ESG.
4 - Promoveremos a aceitação e implementação dos
Princípios dentro do setor do investimento.
5 - Trabalharemos unidos para ampliar a eficácia na
implementação dos Princípios.
6 - Cada um de nós divulgará relatórios sobre
atividades e progresso da implementação dos Princípios.
Desde então, o número de signatários desse
compromisso tem aumentado cada vez mais. Em 2006 eram em torno de 200
investidores, hoje são mais de 3.000. Somando os recursos movimentados por
esses investidores temos o valor de 120 trilhões de dólares disponível para a
realização de investimentos em negócios voltados para os conceitos do ESG.
Essa mudança de paradigma, no sentido de que os
negócios devem ser preocupar com o meio ambiente, questões sociais, além da
governança, tem como fundamento o desenvolvimento sustentável não só do
meio-ambiente ou do âmbito social, mas do próprio negócio.
Um bom exemplo de empresa com foco no ESG é a Faber
Castell, que replanta árvores nos lugares onde ela extrai madeira para produzir
seus lápis, como uma questão autoconsciente, garantindo a manutenção dos
recursos para continuar construindo seu principal produto e, assim a sua
própria sustentabilidade como negócio.
A mídia também desempenhou um papel fundamental
para conscientizar a população sobre o consumo de produtos ou serviços de
empresas que estivessem comprometidas com a questão ESG, estimulando ainda mais
as companhias interessadas em cativar esse público, a adotarem esse sistema.
Uma empresa que investe em ações ESG tende a passar
maior credibilidade aos investidores e, também, aos seus colaboradores,
fornecedores e clientes, por estar seguindo os padrões inovadores e
sustentáveis, além de estar em conexão ao inconsciente coletivo da sociedade,
que também incorporou essa ideia ao seu estilo de vida, uma vez que todos
querem que as gerações seguintes também possam usufruir dos recursos e manter o
legado de conscientização desenvolvido na segunda metade do século 20.
Outra tendência ESG é gerar economia à própria
população, poupando-a de ter que arcar com os custos gerados com problemas
ambientais que as empresas deixavam ou explorar recursos os quais elas ficariam
sem.
Daí por que o poder público também se mostra cada
vez mais suscetível a essa ideia. Vale mencionar o fomento do governo do
Paraná, além de linhas de crédito específicas do Finame e do BNDES, que
incentivam a adoção de energia renovável e a instalação de sistemas de micro e
minigeração de energia elétrica fotovoltaica, eólica ou de biomassa, que
permitem que a produção excedente de energia elétrica renovável possa ser
compartilhada com o sistema das distribuidoras concessionárias tradicionais,
gerando ainda crédito adicional para seus produtores.
Vale lembrar que a Governança Corporativa se pauta
pelos tradicionais pilares de transparência, prestação de contas, equidade e
responsabilidade corporativa. E dentro desse pilar de responsabilidade
corporativa já havia a preocupação com o compliance e a responsabilidade socioambiental.
Mas com o suporte dos investidores e da própria sociedade, que cada vez mais
vem pautando as ações corporativas voltadas para o ESG, a sua implementação
veio para ficar.
Monica Bressan - especialista em governança
corporativa, compliance, ISO 37001, ISO 31000, contratos e finanças.