Mais de 3 milhões de famílias desocuparam imóveis por falta de pagamento e a tendência é de alta até o fim do ano
Segundo dados divulgados pela Agência
Senado, mais de 84 mil famílias estão ameaçadas de despejo até o final deste
ano. O número pode ser ainda mais alto, chegando a aproximadamente 500 mil
pessoas, incluindo crianças, se considerar o tamanho médio de integrantes por
família, além das subnotificações.
De acordo com os dados da Fundação
João Pinheiro, de 2019, publicado pela Agência Brasil, o déficit habitacional
em todo o País está em 5,8 milhões de moradias. O estudo também apresenta uma
tendência de aumento neste déficit, e uma principais causas para esse
crescimento é justamente o ônus excessivo com aluguel urbano, hoje
caracterizado como o principal componente deste índice negativo. Nos quatro
anos considerados pelo estudo, o número de casas desocupadas devido ao valor
elevado do aluguel saltou de 2.814 milhões em 2016 para 3.035 milhões em 2019.
Ou seja, não é de hoje que
vivenciamos no País uma realidade que caminha neste sentido, mas a crise
econômica brasileira, que não surgiu com a pandemia, mas que foi drasticamente
afetada pela COVID-19, intensificou o crescimento de uma população de
“desabrigados” compatível com as remanescentes de grandes desastres.
Infelizmente, nos casos de impactos naturais, há uma mobilização imediata do
sistema governamental para conter seus efeitos, o apoio é amplo e vem de todos
os lados. Neste caso, a única ajuda concedida a essas famílias que perderam
renda e, consequentemente, moradia nos últimos anos e, mais recentemente, com a
crise sanitária, a ajuda mal foi suficiente para suprir os custos com
alimentação, fazendo com que essas famílias conhecessem de perto a força e a
essencialidade da solidariedade.
Aliás, a economia solidária tem ganho
espaço em todo o mundo e, em épocas e setores mais críticos como o que vivenciamos,
a autogestão, a cooperação, a centralização no ser humano, a diversidade, a
justiça social e, até o cuidado com o meio ambiente, têm conquistado muitos
adeptos, fazendo surgir um movimento chamado de cooperativismo solidário, uma
alternativa estratégica para a estimulação do crescimento econômico e,
simultaneamente, um apoio solidário a quem não tem com quem contar, reduzindo
os níveis de desigualdade social e oferecendo alternativas às populações em
situação de maior vulnerabilidade social.
É na necessidade, muitas vezes, que
surge uma grande ideia. Se voltarmos um pouco no tempo, comprovamos que foi
justamente assim que teve início o próprio cooperativismo. Nascido durante a
Revolução Industrial, devido a necessidade de trabalhadores que vinham sendo explorados
e, com o que ganhavam, mal garantiam seu sustento – se revoltaram, e criaram o
próprio negócio. A iniciativa prosperou e muito, pois hoje, já são quase 5 mil
cooperativas registradas só no Brasil e 3 milhões em todo o mundo, segundo
levantamento de 2020 da Aliança Cooperativa Internacional, apresentado pela
Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB). No País, 50% delas atuam há
mais de 20 anos, demonstrando a assertividade da opção, a segurança do processo
e a solidez das entidades, que surgiram justamente com a missão do trabalho em
prol do interesse coletivo. Atualmente as cooperativas exercem um papel
fundamental na economia, com um ativo total que alcançou a marca de R$ 655
bilhões em 2020. Especialmente, durante a pandemia, em que aumentou o número de
pessoas em situação de vulnerabilidade, o cooperativismo contou com um
crescimento de 11% no número de cooperados comparando 2019 e 2020, chegando a
mais de 17 milhões e 200 mil participantes do movimento no Brasil.
Por isso, o cooperativismo é uma das
soluções para o aumento excessivo dos alugueis, a destinação de moradias à
população em situação de vulnerabilidade ou com dificuldades de acesso ao
crédito e, ainda, a chance do poder público e da iniciativa privada trabalharem
juntos em prol da redução no déficit habitacional, a exemplo de outros países,
como Uruguai, que exploraram o cooperativismo como força motriz para reverter o
cenário habitacional debilitado do país.
Em infraestrutura, grupo o qual
pertence o cooperativismo habitacional, o crescimento como alternativa à
evolução da habitação no País e à contribuição com a economia e o emprego é uma
realidade. São quase 250 cooperativas que empregam 7.300 trabalhadores e
integram 1.483.493 cooperados, segundo a OCB em dados de 2020. Uma cooperativa
habitacional localizada no interior de São Paulo, em Guarulhos, que já atua com
o cooperativismo solidário no foco para combater o déficit habitacional e as
precárias condições de moradia na Grande São Paulo e interior do Estado, o
aumento na procura como alternativa para a aquisição da Casa Própria demonstra
a importância do setor “As cooperativas ganham cada vez mais relevância
no processo de resgate dessa população, muitas vezes considerada marginalizada,
e é visto também como instrumento de inclusão social e de auxílio mútuo na
busca por uma melhor qualidade de vida a todos”, disse o presidente da
Cicom Cooperativa Habitacional, Carlos Massini.
“Com o alto preço do aluguel, a
cooperativa habitacional é a melhor alternativa em termos de acesso no processo
de aquisição de um imóvel com qualidade e baixo custo. O cenário econômico
mostra que a renda do trabalhador caiu nos últimos anos, e com as condições
oferecidas por esse modelo cooperativista, o valor do imóvel é acessível ao
cooperado, as condições de pagamento fazem jus ao seu perfil e, assim, ele
consegue sair do aluguel antes que a situação se torne insustentável”, ressalta o presidente da cooperativa.
Massini, como advogado especialista
no setor imobiliário, está atento a cada detalhe que envolve o ramo no Brasil,
e garante que o aquecimento do mercado e os movimentos da economia apontam como
o momento exato para se libertar do aluguel ou buscar alternativas para aqueles
que perderam seus recursos financeiros e dependem da conquista da Casa Própria
para garantir um teto à família. “Teremos ainda uma jornada difícil nos
próximos anos para a habitação no País, mas se não dependermos exclusivamente
do sistema financeiro tradicional, que exclui cidadãos de baixa renda, sem
trabalho formal e que não dispõem de crédito facilitado, e alçarmos esforços
para o trabalho conjunto e a abertura da mente para outras opções de aquisição,
teremos chance de prover maior assistência e qualidade de vida a nossa
população”, conclui o membro efetivo do Conselho Fiscal da Federação
Nacional das Cooperativas Habitacionais (FENACOHAB), Carlos Massini.