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quarta-feira, 15 de agosto de 2018

Após chuvas, especialista em eficiência hídrica afirma que a capital paulista caminha para uma nova crise hídrica


Reservatórios do Sistema Cantareira e Jaguari não recuperam o volume esperado após chuvas e continuam diminuindo


O nível do Sistema Cantareira, principal reservatório de abastecimento de água da capital paulista, voltou a atingir um número preocupante, apenas 39,6% do volume, mesmo após chuvas. Em comparação a 2013, a porcentagem é menor que a pré-crise hídrica, quando operava em 56%. O reservatório Jaguari, que fornece água para a cidade de Santa Isabel, na região metropolitana de São Paulo, opera com apenas 34,37% do volume, caminhando também para uma crise de abastecimento. Mesmo em estado de alerta desde o início do mês de agosto, os paulistanos não parecem preocupados com a possibilidade de uma nova crise. Por que será?

De acordo com o especialista em eficiência hídrica, Wagner Cunha Carvalho, membro do Instituto para a valorização da Educação e da Pesquisa no Estado de São Paulo (IVEPESP), o risco de uma nova crise hídrica existe se os níveis continuarem caindo e alerta para a população voltar a economizar o recurso.

“Estamos ainda no período oficial de seca, que começou em junho, e apesar das poucas chuvas que tivemos, não é bom sinal o volume da Cantareira continuar caindo. Após divulgações da Sabesp, meses atrás, dizendo que as represas tinham recuperado seu volume, uma taxa de contingência foi aprovada para consumos excedentes na conta de água, a nível de crise. Consequentemente, se entrarmos numa, a despesa irá ficar pesada. A realidade da crise hídrica pode voltar até o final do ano, ainda pior, caso não tenhamos chuvas significativas para aumentar o volume do reservatório. O que temos que fazer é retomar o uso racional o quanto antes, e buscar meios de economia significativa do recurso”, explica.

Wagner nos lembra que existem métodos a serem adotados por empresas, indústrias e condomínios, grandes potenciais de uso irregular do recurso, para acabar com o desperdício. “Existem peças específicas, popularmente chamadas de adaptadores econômicos, que acoplados às saídas de torneiras e em sanitários, poupam cerca de 98% de água por minuto em relação às torneiras comuns. São tecnologias importadas da Suécia e Alemanha, com baixo custo e eficiência comprovada. Além disso, a comunicação visual, cultura sustentável, varredura em canos no subsolo com Geofones, para detectar possíveis defeitos invisíveis e todo um suporte virtual, garantem uma economia eficiente e altamente sustentável em qualquer empresa, indústria ou condomínio”, diz.

Além de evitar o uso desnecessário, essas tecnologias (arejadores de vazão de água, reguladores de vazão, redutores de pressão, jet sprays e dual flush, manuais e infravermelho) influenciam diretamente na conta de água, já que o consumo é diminuído. “É possível economizar até 60% na conta, que além de ajudar o planeta, alivia o bolso desses principais consumidores”, releva o especialista.

Para as residências, as dicas são:

- Evite tomar banhos demorados. Para as crianças, use um “timer” de 5 minutos, como um desafio positivo. Priorize a água para enxaguar o corpo.

- Evite fazer a barba (homens) e lavar lingeries (mulheres) durante o banho. 

- Não use a descarga para outros fins, como lixeira de papel.

- No ato de lavar a louça, limpe bem os restos de alimentos e enxague-a toda de uma vez.

- Lave as roupas na máquina quando estiver com o cesto cheio. No tanque, feche a torneira enquanto ensaboa as peças.

- Não utilize a mangueira para lavar o carro e a casa. Priorize um balde e pano.







Wagner Cunha Carvalho - Administrador de Empresas, especialista em Sustentabilidade - Eficiência Energética e Hídrica. É diretor de relacionamentos e negócios da empresa W-Energy e possui larga experiência em gerenciamento de grandes projetos nos segmentos Comerciais, Industriais, Saúde e de Infraestrutura. Membro do Instituto para a valorização da Educação e da Pesquisa no Estado de São Paulo (IVEPESP). Participou ativamente do desenvolvimento da sustentabilidade em nosso país, por meio da geração de grandes resultados coordenando projetos para empresas de diversos segmentos do mercado.


Darwin e o futuro do trabalho


Desde o lançamento do livro “The End of Work” (O Fim dos Empregos), de Jeremy Rifkin (1995), debatemos intensamente sobre o futuro do trabalho e como as tecnologias vão eliminar e substituir os postos de emprego de forma mais célere e otimizada. É visível que as inovações crescem em ritmo exponencial - e quem não as acompanha, se depara com o atraso. Não há dúvida de que precisamos nos atualizar, estar a par do que há de moderno no mundo digital e utilizar tais ferramentas para se sobressair no mercado de trabalho.

É só nos atentarmos para as pesquisas mais recentes e percebemos o quanto a realidade está mais próxima do que imaginamos. Até 2020, mais de 7 milhões de pessoas no mundo perderão o emprego para robôs, mas por outro lado, 65% das crianças - que estão entrando agora no Ensino Básico -, trabalharão em empregos que ainda não existem, segundo pesquisa atual do Fórum Econômico Mundial (WEF).

Muitos profissionais estão assustados com essas grandes mudanças. Mas não é preciso sobressalto, pois os empregos não deixarão de existir. É inequívoco de que as alterações surgidas na legislação trabalhista em relação à carga horária; autonomia dos colaboradores e home office, como padrão, prometem mobilizar os negócios, mas ainda há inúmeros cargos que serão mantidos – e atualizados. E melhor: tantos outros passarão a existir.

Artigo publicado na revista eletrônica MIT Sloan, do Massachusetts Institute of Technology (MIT), corrobora que, embora as tecnologias possam eliminar alguns empregos, surgirão novas colocações. Segundo os especialistas, as inovações não substituem as antigas funções – por serem modernas, exigem habilidades e treinamentos sem precedentes. Mais especificamente, o estudo revela três novas categorias de trabalho: os Trainers, os Explainers e os Sustainers, ou seja, os que treinam, os que explicam e os que sustentam.

Essa primeira categoria de trabalho evidencia que o mundo corporativo precisará de pessoas que ensinem os sistemas de inteligência artificial a operar.

Como padrão, ensinar aos chatbots (robôs de atendimento ao cliente) a terem mais empatia. Daí a necessidade de ensinar as sutilezas da comunicação humana – como o sarcasmo –, e que as relações entre a máquina e o humano proporcionem harmonia, ética e justiça. Assim, é bem provável que surjam novos cargos como “tutor de linguagem e significado de idioma”, “modelador de interação de máquina inteligente” e “instrutor de visão de mundo”, como sugere o estudo.

A segunda categoria de novos empregos poderá preencher a lacuna existente entre os tecnólogos e os gestores empresariais. Eles serão aqueles colaboradores que entenderão quando o sistema apresenta erro. Nessa categoria, poderão existir cargos como “designer de contexto”, “analista de transparências” e “estrategista de utilidade de inteligência artificial”, a título de exemplificação.

A última categoria de novos empregos pode garantir que os sistemas de inteligência artificial operem conforme o planejado. Esses bem que poderiam ser chamados de “especialista em automação”, “economista de automação” ou “gerente de relações de máquina”.

O desenvolvimento profissional está atrelado à ampliação tecnológica, assim, buscar a adaptação, torna-se essencial. Ora, aprimorar e desenvolver competências humanas no que de melhor existe em informações eletrônicas e bens de serviço, para que estejamos preparados para a existência desse novo formato de relações de trabalho, eis a tarefa desafiadora que se avizinha.

Como bem salientou Darwin, o pai da Teoria da Evolução, “não é o mais forte que sobrevive, nem o mais inteligente, mas o que melhor se ajusta às mudanças”. O futuro está batendo à nossa porta. Sejamos otimistas para que possamos abri-la!







Dario Luiz Dias Paixão - doutor em Turismo e coordenador-geral da Pós-Graduação da Universidade Positivo (UP).

Facebook: Algorítmos imperfeitos expõem geração que acredita ter a tecnologia na palma da mão


As máquinas são eficientes e infinitamente mais rápidas do que nós, porém são escravas da sintaxe humana. Tudo o que fazem é cumprir códigos que foram desenvolvidos com a retaguarda da consciência de seus criadores


Geralmente tudo que é feito sem considerações morais, movido pelo embalo do momento ou pela ganância descontrolada, cedo ou tarde transborda em lambança e punição. Queremos acreditar nisso. Muitas vezes, acontece. Mas só acontece em democracias.

O Facebook acabou de perder bilhões de dólares em valor de mercado. Decerto isso não é o fim da rede social. Ela não vai acabar. Nem deve. Pode acontecer que perca espaço para outras redes, mas estas chegaram para ficar. A lição é que ninguém pode ser tão autossuficiente a ponto de agir como se fosse superior a todas as instâncias da sociedade.

É muita grana, poder e fama concentrados nas mãos de poucos. Isso faz parte do jogo, tudo bem. Mas a psique desses poucos é tão problemática como a minha ou a sua. Mas no caso deles, essa aura de deuses faz com que se julgassem, no mínimo, como super-homens.

O caldo entornou no momento em que ficou claro demais que a utilidade se transformou em perversão. Então, esses jovens vieram a público e se revelaram perplexos, fúteis e tolos. Perceberam que habilidade não é conhecimento e que a inovação não garante a ética. Foi muita areia para seus caminhões.

Até que aconteceu essa rebordosa, eles diziam que tudo ia bem e que seus algoritmos eram: perfeitos.Essa perfeição, essa aposta em inteligência artificial, me fez refletir sobre a distância entre duas gerações: essa daí, autoengendrada, a galerinha do vale do Silício e outra, que se formou profundamente contaminada pelas transformações sociais e culturais ocorridas depois da Segunda Guerra. O resumo é o seguinte:

Uns acham que sabem o que dizem, outros dizem o que sabem.

Talvez eles nem percebam que seus projetos se tornaram totalizantes e totalitários. Felizmente tem gente que pensa diferente. Não precisamos recorrer a filósofos (e há excelentes pensadores se debruçando sobre esse tema). Acho mais interessante selecionar um filme popular, cujo diretor sabe muito bem o que diz: Alien Covenant, de Ridley Scott.

Não são apenas gerações que se contrapõem – o que é natural –, mas também perspectivas de vida. Escolho esse tipo de filme porque provavelmente a galerinha do Silício assistiu. Há controvérsias se a sequência fez justiça ao clássico original Alien – O Oitavo Passageiro. Contudo, para esse debate que proponho, o diretor criou algo sensacional. Mesmo sendo um filme de ação, sujeito às fórmulas desse tipo de obra, o diretor deixou seu recado.

Ele disse o que pensava no diálogo de quatro minutos do prólogo do filme. A cena é brilhante.

Alguém que produz uma cena como essa, leu muito na vida. Conhece muito. É um maestro que, mesmo dirigindo um filme de ação, não deixou de semear belezas monumentais. É preciso colher.

A cena pode parecer banal: o dono de uma empresa cria um robô, réplica perfeita de um humano. O robô se levanta, observa ao redor e troca os primeiros diálogos de sua existência. O homem que o criou diz: filho. O robô o chama de pai.

Pois bem: é hora de arregaçar as mangas. Nesses minutos sublimes, Ridley Scott evoca os mais profundos conflitos da alma humana, revisita a história da civilização ocidental, realiza uma das mais cobiçadas pretensões do homem – tornar-se Deus –, e revela a dúvida mais ancestral, e talvez mais irrespondível que já ousamos fazer.

Faça-se a luz. A sala do pai é toda branca: teto, parede, piso. O robô nasce (David – Michael Fassbender). Seus olhos captam os objetos que estão decorando a sala. O criador (Weyland – Guy Pearce) pergunta ao filho o que este está vendo. Logo em seguida, anuncia que é seu pai.

O robô enumera aquilo que vê. Ele apenas cita o nome das obras e seus autores, nada mais. Porém, aquilo que vai retratando enquanto dá os primeiros passos no mundo representa uma jornada imemorial do humano: a mitologia (o robô toca Wagner ao piano), o nascimento da cristandade (quadro da natividade), o velho testamento (David), o renascimento dando voz aos mitos clássicos de criação, e o pós-moderno (cadeira Carlo Bugatti).

Levanta-te, diz o pai, que percebe que sua criação é perfeita. A primeira pergunta é muito mais do que parece: resulta em uma reviravolta avassaladora.
"Perfeito.", comenta o pai ao ver o filho dar os primeiros passos.

"Eu sou?" é a primeira pergunta que faz aquele que acaba de nascer.

"Perfeito?", retruca o pai com outra pergunta, ingenuamente acreditando que o filho se surpreendeu com a perfeição.

"Seu filho?", devolve David, provocando a primeira decepção do pai. O filho sabe que é perfeito; em pouco tempo saberá também que é superior ao pai. A pergunta, na verdade sua única dúvida, será sobre a ontologia daquele que o criou. Mas essa ficará sem resposta. Nada mais há para perguntar: a partir daí David fará considerações e afirmações.

O pai permite que o filho escolha seu próprio nome. Não há transmissão nem legado. O robô se aproxima da escultura perfeita e se batiza: David.

Perfeição: realiza-se o sonho dos deuses, assim como o de Michelangelo na última cinzelada sobre o mármore.

Porém, a ilusão da perfeição tem sido o mais trágico engano dos deuses e dos homens... Assista.

Finalmente, pai e filho conversam. O filho demole as aspirações do pai e o confronta com a dor da condição humana. O parricídio é instantâneo. A perplexidade do pai surge com sutileza no olhar mal dissimulado de Weyland. O conflito humano, as tragédias, reis destronados, complexos, os dramas de uma vida, enfim, são condensados em poucas palavras.

Acuado e ciente de sua finitude e pequenez, o criador usa seu último recurso: o poder paterno.

"Sirva-me chá, David."

Agora é David quem lança um olhar sutil. Ele acaba de entender que é superior ao pai. O filho obedecerá. Para ele, porém, o pai nada mais representa: é inútil, impotente e indigno diante do filho. Rei morto, rei posto.

"Sirva-me o chá!", quase grita Wayland enquanto mira com rancor o rosto do filho perfeito.

Lá fora, através da janela que ocupa toda a parede, revela-se o cenário deslumbrante de um lago cercado por montanhas nevadas. Se a paisagem é real ou uma projeção em tela plana, não importa: a natureza e a cultura estão irremediavelmente separadas.

Em nossa longa jornada diante da natureza inóspita, criamos o milagre da linguagem e da cultura. Queremos a perfeição, porém a linguagem é caracterizada pelo erro, engano, imaginação e mentira. A ambiguidade humana é nosso destino inelutável, consequência do bom e do mal que realizamos em nossa recente jornada apartada da natureza.

Adiante no filme, o diretor completa seu ponto de vista, quando David confronta-se com o erro. É uma pequena dica que Ridley Scott nos dá sobre o diálogo inicial e prova que a cena possui a profundidade que estou defendendo.
Se um dia seremos deuses e criaremos um ser consciente, nem mesmo os céus podem antecipar a resposta.

Mas hoje, é presunção infantil achar que estamos perto disso. As máquinas são eficientes e infinitamente mais rápidas do que nós, porém são escravas da sintaxe humana. Tudo o que fazem é cumprir algoritmos, que foram desenvolvidos com a retaguarda da consciência de seus criadores.

As máquinas não pensam porque não erram. Quando falham, suas falhas refletem falhas humanas. Nada além de equívocos, assim como aqueles jovens magos, que talvez nem desconfiem que procuram desenvolver um mundo totalizante e totalitário.

Esses jovens estão tão sujeitos aos erros como nós, porém tão poderosos como nenhum de nós. O problema é que nossa força está na escolha e no debate, mas abrimos mão desse poder. Deixamos de refletir; às vezes, sobre um filme; às vezes, sobre a vida; às vezes, sobre a manipulação.

Porém, nada será melhorado sem a intermediação do debate e reflexão. Nada será conhecido sem a história, a filosofia, o cinema, a literatura. Isso não quer dizer que somente doutores e especialistas nesses conhecimentos tenham acesso ao conhecimento. Pelo contrário, esse conteúdo está no ensino fundamental e no secundário. Está nos livros e em uma educação comprometida.

Um filme de um diretor comercial está aí para provar o que digo.
Infelizmente, esse conteúdo não está na realidade educacional brasileira. Falta-nos uma coisa fundamental: leituras. Para que possamos compreender que a riqueza não está no homogêneo, mas na diferença e na mutação.







Roosevelt Colini - escritor.




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