Quando
deixamos de prestar atenção em algo e nos permitimos divagar (“mind wandering”,
divagação ou devaneio da mente), algumas áreas cerebrais especificas são
ativadas, constituindo a chamada “rede de modo padrão” (“default mode network”).
Grosseiramente falando, seria algo como o “ponto morto” no câmbio do carro; o
motor está ligado, mas o carro está parado. A rigor, não ficamos sem pensar em
nada, mas os pensamentos fluem sem uma direção especifica, de modo solto,
“flutuando”, “viajando”.
Dentro
de certos limites, o cérebro humano tem capacidade de fazer o sistema ligado à
atenção e a rede de modo padrão funcionarem em paralelo. Eles não são
mutuamente excludentes. Muitas vezes, estamos concentrados em algo e, ao mesmo
tempo, nossa mente está divagando, seja de forma consciente ou não. Por
exemplo: estou escrevendo este texto e, ao mesmo tempo, pensando que daqui a
alguns dias é aniversário de uma pessoa amiga, e que tenho que comprar um
presente, etc.
Na
realidade, o cérebro é programado para funcionar por um certo período de tempo,
durante o qual estamos acordados. O descanso principal do cérebro ocorre quando
dormimos. Nesse período, ele se refaz, organiza e consolida memórias. Quando
estamos em um momento de lazer, por exemplo, muitas vezes não estamos
concentrados em algo especifico que demanda muito do cérebro. Com isso, a
possibilidade de divagações passa a ser mais possível.
No
entanto, a divagação pode prejudicar o rendimento de algumas atividades,
principalmente as intelectuais, como estudo ou trabalho. A possibilidade de
deixar o cérebro divagar durante o período de trabalho depende muito da própria
atividade que a pessoa desempenha. Além disso, há indivíduos que têm mais facilidade
para se distrair com qualquer coisa. Estes devem ficar mais atentos nos
momentos em que a concentração é fundamental. Mas se você é daqueles que,
quando necessário, consegue foco total no que está fazendo, não há nada de mal
em tirar umas pausas para divagar um pouco, desde que consiga finalizar a
tarefa a tempo!
Na
rotina frenética em que vivemos, fazer pausas ao longo do dia, nos momentos
certos, é benéfico para mente e corpo. O famoso “dolce far niente” (do
italiano, “doçura de não fazer nada”) é como dar fôlego ao cérebro e, também,
ao organismo todo.
Prof.
Dr. Mario Louzã - médico psiquiatra e psicanalista. Doutor em Medicina pela
Universidade de Würzburg, Alemanha. (CRMSP 34330)