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sexta-feira, 3 de janeiro de 2025

Saúde mental no tratamento oncológico: pacientes emocionalmente amparados são mais propensos a seguir os protocolos médico

Suporte emocional e psicológico na jornada contra o câncer é essencial para fortalecer o enfrentamento da doença e melhorar os resultados terapêuticos

 

O diagnóstico de câncer marca um divisor de águas na vida do paciente, trazendo à tona desafios físicos, emocionais e até espirituais. Além do impacto do tratamento no corpo, a mente também é profundamente afetada, com muitos pacientes enfrentando ansiedade, depressão e medo do futuro. Reconhecer e tratar essas questões é essencial para garantir a qualidade de vida e melhorar a resposta às terapias oncológicas. 

Um estudo publicado na Frontiers¹ revela que 25% dos pacientes com câncer apresentam sintomas de depressão, e até 45% relatam níveis elevados de ansiedade. Esses transtornos não apenas reduzem a qualidade de vida, mas também interferem diretamente na adesão ao tratamento. "A saúde mental não é um elemento acessório; ela é uma parte essencial do cuidado integral do paciente oncológico," ressalta Cristiane Bergerot, líder nacional da especialidade equipe multidisciplinar da Oncoclínicas. 

O suporte psicológico permite ao paciente enfrentar o processo terapêutico com maior resiliência, fortalecendo a comunicação com a equipe médica e favorecendo a adesão às terapias. Psicólogos especializados desempenham um papel crucial, ajudando a gerenciar emoções, criar estratégias de enfrentamento e até orientar familiares no suporte ao paciente.
 

Psicoterapia ainda é desafio no Brasil

Apesar de sua relevância comprovada na melhoria da qualidade de vida, a psicoterapia enfrenta barreiras consideráveis no Brasil, impedindo que muitos pacientes tenham acesso a esse recurso essencial. O Índice Instituto Cactus-Atlas de Saúde Mental² destaca que apenas 5,1% dos brasileiros recebem acompanhamento psicoterapêutico regular, enquanto 16,6% fazem uso de medicamentos psiquiátricos sem apoio complementar, uma prática que pode limitar a eficácia do tratamento. 

A psicoterapia também enfrenta o estigma cultural, muitas vezes vista como desnecessária ou como um "luxo". Esse preconceito, aliado à falta de informação sobre os benefícios do acompanhamento psicológico, leva muitos pacientes a desconsiderar essa opção, mesmo quando apresentam sinais claros de sofrimento emocional. 

Outro entrave significativo está na baixa integração da saúde mental ao cuidado oncológico. Faltam profissionais especializados disponíveis para atender a demanda crescente, além de uma coordenação mais eficaz entre psicólogos, oncologistas e outros profissionais da saúde para oferecer um atendimento multidisciplinar. 

"Precisamos desmistificar questões como essas. O câncer não afeta apenas o corpo; ele impacta o indivíduo de forma holística, e a abordagem terapêutica deve refletir essa complexidade," acrescenta Bergerot.
 

Corpo, mente e espírito: a espiritualidade no cuidado oncológico

A espiritualidade surge como um componente indispensável no enfrentamento do câncer, complementando abordagens terapêuticas e psicológicas. Segundo Clarissa Mathias, a espiritualidade tem o poder de ressignificar a experiência do paciente, oferecendo conforto, equilíbrio e propósito mesmo nos momentos mais desafiadores. "Ela permite ao paciente encontrar forças internas para lidar com a jornada, promovendo bem-estar e serenidade em meio às adversidades", destaca Clarissa Mathias, oncologista da Oncoclínicas. 

Diferente da religiosidade, que envolve dogmas e práticas específicas de uma fé, a espiritualidade pode ser vivenciada de diversas formas, como por meio da meditação, do contato com a natureza ou de reflexões pessoais. Essas práticas auxiliam na redução do estresse e contribuem para uma visão mais ampla e integrada da saúde mental, conectando corpo, mente e espírito. 

No entanto, integrar a espiritualidade à prática médica ainda enfrenta obstáculos significativos. Falta de capacitação dos profissionais, tempo restrito nas consultas e o receio de impor crenças pessoais ao paciente são algumas das barreiras apontadas. "A medicina contemporânea precisa enxergar o paciente em sua totalidade, compreendendo que o cuidado vai além do biológico e inclui aspectos emocionais e espirituais. Essa abordagem mais humanizada é essencial para oferecer suporte completo," afirma a oncologista. 

Iniciativas que promovem a espiritualidade como parte do cuidado oncológico têm mostrado impactos positivos, reforçando que a saúde integral não se limita ao físico, mas inclui a dimensão emocional e espiritual. Essa visão holística está alinhada com a busca por práticas mais humanizadas na medicina e no acompanhamento de pacientes oncológicos.
 

Benefícios do acompanhamento psicológico

  • Adesão ao tratamento: pacientes emocionalmente amparados são mais propensos a seguir os protocolos médicos;
  • Redução do estresse: técnicas como mindfulness e terapia cognitivo-comportamental ajudam a equilibrar as emoções;
  • Fortalecimento da rede de apoio: psicólogos podem orientar familiares a prestar suporte de maneira mais eficaz;
  • Melhora na qualidade de vida: reduzir os sintomas de depressão e ansiedade proporciona mais momentos de bem-estar durante a jornada oncológica;


Caminhos para melhorar o cenário

Garantir uma abordagem integral no cuidado oncológico, que contemple saúde mental e espiritualidade, exige uma série de transformações estruturais e culturais. Entre os passos mais urgentes estão o fortalecimento de políticas públicas, o investimento em educação profissional e a ampliação do acesso a serviços especializados de saúde mental e espiritualidade.
 

1. Políticas públicas robustas e financiamento adequado
O fortalecimento de políticas públicas de saúde mental é fundamental para garantir o acesso a terapias psicológicas e cuidados integrativos no contexto oncológico. Isso inclui financiamento direcionado para a contratação de psicólogos especializados, além da inclusão de práticas integrativas e complementares.
 

2. Educação e capacitação de profissionais de saúde
A formação dos profissionais da área médica deve ser revisada para incluir competências sobre saúde mental e espiritualidade, promovendo uma visão mais humanizada do cuidado. Cursos e treinamentos poderiam abordar técnicas de abordagem emocional, como anamnese espiritual e comunicação empática. Essa formação ajudaria médicos, enfermeiros e psicólogos a oferecer um suporte mais completo, reduzindo barreiras de tempo e desconhecimento.
 

3. Campanhas de conscientização pública
Campanhas voltadas ao público geral têm papel estratégico na desmistificação da psicoterapia e no incentivo ao cuidado integral. Essas iniciativas poderiam abordar temas como o impacto da saúde mental na adesão ao tratamento oncológico e o papel da espiritualidade no enfrentamento da doença, promovendo maior aceitação e busca ativa por suporte.
 

4. Integração entre suporte psicológico e espiritual
Modelos de atendimento integrativo, que aliam psicoterapia a abordagens de espiritualidade, têm mostrado resultados promissores. Parcerias com comunidades religiosas ou organizações que oferecem apoio espiritual podem criar redes de suporte mais amplas e acessíveis. Além disso, tecnologias como aplicativos de meditação e plataformas de suporte emocional podem ser ferramentas viáveis para complementar o atendimento presencial.
 

5. Pesquisa e inovação
Investir em pesquisas sobre os impactos da saúde mental e da espiritualidade no tratamento oncológico é crucial para embasar políticas e práticas clínicas. Estudos que avaliem a eficácia de abordagens integrativas, como terapias baseadas em mindfulness e grupos de apoio espiritual, podem reforçar sua inclusão no cuidado padrão.
 

"A verdadeira luta contra o câncer vai além da doença; é uma jornada pela dignidade, pelo equilíbrio e pelo bem-estar do paciente. Precisamos de uma medicina que enxerga o ser humano em sua complexidade, unindo corpo, mente e espírito para alcançar melhores resultados terapêuticos," conclui Cristiane Bergerot.
  



Referências

1. Habimana S, Biracyaza E, Mpunga T, Nsabimana E, Kayitesi F, Nzamwita P, et al. Prevalence and associated factors of depression and anxiety among patients with cancer seeking treatment at the Butaro Cancer Center of Excellence in Rwanda. Frontiers Public Health. Disponível em: Link

2. Panorama da saúde mental. Disponível em: Link



Oncoclínicas&Co
www.grupooncoclinicas.com


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