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sexta-feira, 31 de janeiro de 2025

Baixa escolaridade é principal fator de risco para declínio cognitivo no Brasil, aponta novo estudo

 Pesquisa liderada por cientistas brasileiros mostra que variáveis educacionais e socioeconômicas têm impacto significativo na saúde cerebral

 

Artigo publicado nesta quarta-feira (29) pela prestigiada revista científica The Lancet Global Health revela que a baixa escolaridade no Brasil é o maior fator de risco para declínio cognitivo, característica intrínseca aos quadros de demência. Liderado pelo grupo de pesquisa de Eduardo Zimmer, professor da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) apoiado pelo Instituto Serrapilheira, o estudo é importante porque contraria a premissa, prevista na literatura científica, de que o declínio cognitivo é causado, principalmente, por fatores como idade e sexo. No entanto, a ordem dos fatores muda de acordo com a realidade de cada país. 

Tradicionalmente, pesquisas desenvolvidas na América do Norte e na Europa apontam dois fatos em relação aos riscos de declínio cognitivo nessas regiões: mulheres têm mais chances de demência ao longo da vida, e, quanto mais avançada for a idade, para ambos os sexos, maiores serão as chances de demência. Porém, o novo artigo amplia o leque de riscos de perda de cognição considerando as particularidades de outros contextos. 

“Os modelos de países desenvolvidos, que achávamos generalizáveis para o mundo todo, não são replicáveis. A América Latina e, particularmente, o Brasil, têm um perfil de risco de declínio cognitivo completamente diferente”, explica Zimmer, que investiga há mais de 15 anos as causas da neurodegeneração, tendo prêmios internacionais como o Blas Frangione Early Career Achievement de 2024, da Associação Americana de Alzheimer. 

Por meio de inteligência artificial, com o uso de técnicas de machine learning, a pesquisa, cujos principais autores são brasileiros, analisou dados de mais de 41 mil pessoas de alguns países da América Latina, divididos em dois grupos: países de baixa e média renda (Brasil, Colômbia e Equador) e países de alta renda (Uruguai e Chile). 

No contexto brasileiro, foram 9.412 casos analisados, oriundos do Estudo Longitudinal da Saúde dos Idosos Brasileiros (ELSI-Brasil). A baixa escolaridade foi o maior fator de risco para casos de declínio cognitivo, seguida de sintomas de saúde mental, atividade física, hábitos de fumo, isolamento social, entre outros. Idade e sexo, considerados os fatores de risco mais proeminentes globalmente, aparecem de forma menos relevante em termos estatísticos. 

Os níveis baixos de escolaridade, junto com as já conhecidas instabilidade econômica e insegurança social do país, têm impacto significativo no envelhecimento cerebral da população brasileira, especialmente nas regiões mais pobres. “Investimento em educação deve ser a prioridade no nosso país”, dizem os autores em trecho do artigo publicado pela Lancet Global Health. 

Ao identificar a educação como um fator central no risco de declínio cognitivo, a expectativa de Eduardo Zimmer e outros pesquisadores que participaram do estudo é influenciar as políticas públicas do Brasil e da América Latina em relação ao tema. “Sem dúvidas, precisamos resolver o problema da educação e melhorar as condições de escolaridade para diminuir esse risco cognitivo no futuro”, afirma o professor da UFRGS. 

No Brasil, aproximadamente 8,5% da população com 60 anos ou mais têm algum tipo de demência, o que equivale a cerca de 2,71 milhões de casos, de acordo com o Ministério da Saúde. A projeção para 2050 indica que esse número pode aumentar para 5,6 milhões de diagnósticos no país. 

 

Instituto Serrapilheira

 

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