Segundo Dra. Letícia Correa, procedimentos e decisões devem ter base científica e contar com profissionais tecnicamente preparados
A neonatologista Dra Letícia Correa,
que há quase 20 anos participa de partos em alguns dos maiores hospitais de São
Paulo, vem observando, na última década, mudanças na dinâmica dos nascimentos,
acompanhadas de debates sobre procedimentos que carregam "uma pitada de
ideologia" e se inserem em contextos de polarização política. Segundo ela,
"os partos humanizados, às vezes associados ao naturalismo, não deveriam
excluir a presença de uma equipe médica para rotinas e atendimento a
emergências, como o ´golden minute` - momento em que é preciso agir em um
minuto para garantir a segurança do recém-nascido".
"A
necessidade de atender em escala tornou a prática da medicina aparentemente
fria e impessoal e, como reação, surgiram propostas experimentais", diz
ela. "A humanização não se contrapõe à medicina, estão integradas, mas é
preciso considerar o conhecimento científico e seus resultados comprovados para
a sociedade; isso significa contar com profissionais tecnicamente preparados em
momento tão decisivo quanto o nascimento".
Segundo
ela, alguns tipos de acolhimento trazem a impressão de que podem ser mais
importantes do que a técnica, mas não oferecem segurança: "Acredito na
empatia mas para ser bom médico tem que ter base técnica."
No
Brasil, há 10 anos, 92% dos nascimentos eram por cesárea, hoje apenas 70%.
Desde 2021, por lei, é proibido fazer cesárea antes de 39 semanas de gestação,
o que explica o crescimento dos partos naturais.
Segundo a Sociedade Brasileira de Neonatologia, em 10% dos partos, os nascidos precisam de auxílio para iniciar a respiração, e a reanimação só pode ser feita por profissional treinado. "O aumento dessas circunstâncias impõe um debate menos acalorado e mais responsável em relação à segurança dos partos, para a mãe e para o bebê, pois os primeiros dias podem ser os mais importantes da vida", conclui Dra Letícia Correa.
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