Está
aí uma dor crônica de 10 entre 10 empresas que eu trabalho: a busca pela tal
produtividade. Mas sinto que, na verdade, o mercado vê muito mais esse tema
como uma palavra-chave do mundo corporativo do que de fato como um problema
transversal à nossa sociedade. E se a gente quiser resolver, vai precisar
aprofundar e entender de onde vem a raiz da falta de produtividade do Brasil e
do brasileiro.
Segundo
pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a produtividade da
indústria brasileira acumulou queda de 1,2% entre 2013 e 2023. E continua
caindo – 1,4% no primeiro trimestre e 0,3% no segundo trimestre deste ano.
O
envelhecimento da sociedade brasileira e a redução da parcela economicamente
ativa exigirão do país mais recursos para garantir saúde, moradia, enfim,
sustento com qualidade de vida para essa população. Em poucas palavras, a única
forma de fechar a conta e preservar o crescimento do PIB é com aumento da
produtividade.
Usando
como comparativo: nos Estados Unidos, o índice de produtividade é de 2% e o
número se mantém há 100 anos. Óbvio que eles vivem seus problemas na política,
no aumento da desigualdade e outros; mas, lá, tem uma coisa que funciona
melhor: a educação. Já no Brasil, conforme o Instituto Brasileiro de Economia
(FGV/IBRE), o índice brasileiro é em média de 0,3% ao ano, medido entre 1981 e
2019.
Assim
como nos Estados Unidos, na Coreia do Sul o investimento em educação é alto.
Até meados dos anos 1970, o país tinha a mesma produtividade que o Brasil.
Hoje, graças a um novo modelo educacional, o índice de lá é três vezes maior
que o daqui.
Não
que os números brasileiros não sejam otimistas.
Segundo
o Ministério da Educação, com base no Censo de Educação Superior, 2023 teve 9,9
milhões de alunos matriculados, o maior registrado em nove anos.
Isso
representou um crescimento de 5,6% em relação a 2022. Mas, se aprofundarmos a
leitura, o ranking de competitividade de 64 países – avalia economia,
eficiência do governo, negócios, infraestrutura etc. – da escola suíça IMD,
coloca o Brasil na posição 61. Educação e qualidade precisam caminhar juntas e,
infelizmente, sabemos que a qualidade da nossa educação é deficitária.
Atualmente,
os profissionais estão aquém das habilidades necessárias para a transformação
da economia, da cultura, para desenvolver e aderir às novas formas de trabalho,
como a digitalização e o fomento da IA. As empresas já entenderam que isso gera
escassez de talentos e, consequentemente, uma grande dificuldade em contratar
pessoas que realmente estejam prontas para o mercado.
Cada
vez mais, as empresas vão se tornar empresas-escola. E quando eu digo empresa
escola é quebrar as barreiras organizacionais e promover a educação para seus
colaboradores, mas também para seus consumidores e fornecedores.
Grandes empresas como Google e Amazon declaram
que a eficiência operacional se deve ao investimento em educação corporativa. A
IBM assumiu o compromisso de treinar 30 milhões de pessoas com foco em IA. Até
aqui, já treinou globalmente 11,5 mi. Seu objetivo maior é fomentar a inovação
e garantir vantagem competitiva. Por aqui, o caminho para a consolidação da
empresa escola vai se pavimentando. No levantamento do Linkedin, 80% das “25
Melhores Empresas Para Carreira no Brasil”, de 2024, investem em educação para
seus colaboradores. Em pesquisa da HR
First Class desse ano, 73% dos entrevistados afirmam que a educação corporativa
beneficia todo o ecossistema das empresas, e 95% acreditam nela como o melhor
instrumento para alinhar os colaboradores à cultura da empresa e reter talentos
– aposta que também é feita pela Deloitte, com seus programas de
desenvolvimento.
Voltando
um pouco ao exemplo norte americano, um profissional lá consegue produzir até
cinco vezes mais do que o brasileiro. Ele não trabalha menos, mas em quantidade
de horas compatível. Claro que também recebe capacitação, tem mais acesso a
recursos tecnológicos e atua sob práticas gerenciais avançadas.
Em
países produtivos, as empresas ineficientes não conseguem sobreviver, são
engolidas pelo mercado. Mas, que tipo de produtividade almejamos?
Há
um ano, pelo menos, começamos a falar sobre a produtividade tóxica – aquela que
queremos a qualquer custo – e o quanto isso impacta negativamente na saúde
mental das pessoas. E que, além de tudo, não é sustentável, tem vida curta. Não
é por aí. Trabalhar mais não significa trabalhar melhor.
Com
mais de 15 anos de experiência em educação corporativa junto a grandes
organizações, acredito que a virada de chave vai ocorrer na mudança de lentes
para o trabalho, encarando como algo completamente diferente do que fizemos até
hoje.
A
gente vai ter que reinventar as formas de trabalhar, se desenvolver, se
capacitar, reaprender, desaprender muita coisa pra reaprender de novo. Temos a
inteligência artificial, tecnologias e metodologias ágeis, a própria inovação,
o design, enfim, instrumentos e recursos que nos ajudarão nessa transformação,
auxiliando a encarar os desafios e as pautas diárias – não trabalhando mais,
mas trabalhando melhor. E tudo isso passa pela educação com qualidade, seja a
básica, seja a formação e o aperfeiçoamento dos profissionais.
E
é aí que entra talvez o grande pulo do gato das empresas que queiram enfrentar
com profundidade o problema da produtividade. Mas se enganaram os responsáveis por RH que isso se resolve com um treinamento
(barato e rápido, e que normalmente vem de alguma escola
executiva que encara a educação como uma promoção na Black Friday). Estamos falando de qualidade e
consistência. É entender essa questão como algo sistêmico e profundo e
continuar a jornada dos colaboradores com foco no desenvolvimento.
Gosto
muito da futurista Amy Webb. No South by Southwest 2024, ela nos classificou como GEN
T (transitional generation ou uma geração de transição). Hoje, prefiro essa
ideia do que focar apenas nas gerações X, Y e Z. É bater na mesma tecla,
literalmente.
Prefiro
nos ver como uma única geração e, juntos, encontrar a melhor forma de
trabalhar; reinventar o trabalho para que ele, de fato, seja consistente para
nosso desenvolvimento e crescimento enquanto nação. E as empresas terão um
papel quase que social de entregar a educação para a sociedade.
É
um pouco sobre todos nós.
Nenhum comentário:
Postar um comentário