Neurocientista destaca como vulnerabilidades sociais e emocionais tornam muitas pessoas presas fáceis das apostas online.
O fascínio
pelos jogos de aposta tem crescido exponencialmente, impulsionado pela explosão
de plataformas online e anúncios com celebridades que vendem a ilusão de
riqueza rápida. Para o Dr. Fabiano de Abreu
Agrela,
Pós PhD em Neurociências e membro da Royal Society of Medicine no Reino Unido,
essa prática representa um perigo iminente para uma sociedade cada vez mais
vulnerável às armadilhas da dopamina.
A Sociedade Dopaminérgica e o Ciclo de Recompensa
“Vivemos em
uma sociedade dopaminérgica, onde a necessidade de recompensa imediata é
exacerbada pelas redes sociais, pelo consumo de bens e agora pelos jogos de
aposta”, explica o Dr. Fabiano. A dopamina, neurotransmissor associado ao
prazer e à recompensa, é estimulada toda vez que se busca ganhos rápidos. Essa
busca incessante cria um ciclo viciante que pode ter consequências
devastadoras.
Jogos de
aposta, por sua própria estrutura, são projetados para desencadear esse ciclo:
pequenas vitórias reforçam o comportamento, enquanto as perdas são justificadas
pela possibilidade ilusória de um grande ganho futuro. “Esses jogos utilizam
estratégias psicológicas sofisticadas, como anúncios exagerados e a presença de
figuras públicas de confiança, para atrair pessoas vulneráveis”, alerta o
neurocientista.
Vulnerabilidades e Riscos
O Dr.
Fabiano destaca que grupos mais vulneráveis, como pessoas com menor
inteligência, problemas de saúde mental e isolamento social, estão
particularmente suscetíveis às apostas online. Estudos científicos corroboram
essa observação. Os cientistas Schneider e Clegg em 2009 mostraram que pessoas
com baixa inteligência enfrentam dificuldades para avaliar riscos e tomar
decisões financeiras, tornando-se alvos fáceis de estratégias manipulativas.
A carência
emocional e a busca por validação social também desempenham um papel central. O
isolamento social, comum em indivíduos com baixa inteligência ou distúrbios
mentais, os leva a buscar conforto em atividades solitárias, como jogos online.
Porém, ao invés de suprir essa necessidade, o ciclo da aposta frequentemente
aprofunda o isolamento, criando um ciclo de frustração e endividamento.
O Gatilho do Vício
Para o Dr.
Fabiano, o problema vai além do simples ato de apostar. Ele alerta que iniciar
a jogatina pode ser um gatilho para outros tipos de vício. “A mesma região do
cérebro está relacionada aos diferentes tipos de vícios. Abrir uma porta pode
abrir outras”, afirma. Essa relação entre apostas e vícios, como o consumo de
álcool e drogas, é bem documentada na literatura científica e amplifica os
danos sociais e individuais.
Além disso,
o especialista destaca a falta de transparência na lógica dos jogos de aposta.
“Eles colocam anúncios de pessoas ganhando milhões, mas é um exagero. A maioria
dos que apostam perde. É preciso coerência: ninguém investe tanto dinheiro em
um negócio sem esperar lucros exorbitantes”, critica.
Responsabilidade Coletiva
O Dr.
Fabiano de Abreu enfatiza que a solução exige ações em múltiplos níveis:
regulamentação mais rígida sobre publicidade de jogos de aposta, educação
financeira e emocional para grupos vulneráveis e maior conscientização pública
sobre os riscos. “Precisamos desmitificar a ideia de ganhos fáceis e mostrar
que o verdadeiro ‘ganhador’ dos jogos de aposta é sempre quem os organiza”,
conclui.
Um Alerta Necessário
Enquanto os jogos
de aposta continuam a proliferar, é essencial que a sociedade compreenda os
perigos associados a essa prática. O alerta do Dr. Fabiano serve como um
chamado para reflexão e ação. Para ele, o combate à exploração emocional e
econômica passa pela empatia e pelo fortalecimento das pessoas mais
vulneráveis, permitindo que elas resistam às armadilhas do sistema.
Esta não é
apenas uma questão de saúde individual, mas também de justiça social. Afinal,
como o neurocientista destaca, "o jogo pode parecer uma diversão inocente,
mas para muitos, ele se torna uma prisão".
Referências
- Schneider, J., & Clegg, J. (2009). Health and
Social Needs of People with Low Intelligence. Mental Health Review Journal, 14, 22-27.
- Koenen, K., Caspi, A., Moffitt, T., Rijsdijk, F., &
Taylor, A. (2006). Genetic influences on the overlap between low IQ and
antisocial behavior in young children. Journal of Abnormal Psychology, 115(4), 787-797.
- Van Nieuwenhuijzen, M., Orobio de Castro, B., Van Aken,
M. V., & Matthys, W. (2009). Impulse control and aggressive response
generation as predictors of aggressive behaviour in children with mild
intellectual disabilities and borderline intelligence. Journal of Intellectual
Disability Research, 53(3),
233-242.
- Kar, S. K., Devdutt, J., Kamboj, A., & Varma, R.
(2013). Behavioral Problems in Patients of Borderline Intelligence with
Multiple Physical Co-Morbidities. Case Report.
- Lahat, A., Van Lieshout, R. V., Saigal, S., Boyle, M.,
& Schmidt, L. (2014). Small for gestational age and poor fluid intelligence
in childhood predict externalizing behaviors among young adults born at
extremely low birth weight. Development and Psychopathology, 27, 181-188.
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