Com o envelhecimento da população brasileira, as condições de saúde típicas da terceira idade, como a perda auditiva, vêm se tornando um tema de preocupação crescente. Segundo a Pesquisa Nacional de Saúde do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), cerca de 1,5 milhão de pessoas idosas no país apresentam algum grau de deficiência auditiva, o que pode afetar significativamente sua saúde física, mental e social.
De acordo com Pauliana Lamounier, otorrinolaringologista
especialista em audição que faz parte da equipe do Hospital Mater Dei Goiânia,
as causas da perda auditiva em idosos são variadas. A médica destaca que
condições genéticas e hereditárias, como a otosclerose, doenças infecciosas,
como meningite, e infecções crônicas do ouvido podem causar perda auditiva em
adultos. Além disso, há a presbiacusia, a perda auditiva gradual ligada ao
envelhecimento, que afeta as células do ouvido interno.
"Independentemente da causa, o mais importante é que a
perda auditiva seja tratada", enfatiza a especialista. Dra. Pauliana
destaca que a perda auditiva não tratada é um fator de risco significativo para
o declínio cognitivo em idosos, com estudos recentes sugerindo uma ligação
entre a deficiência auditiva e a demência, incluindo o Alzheimer. Além disso, o
isolamento social, resultado da dificuldade em entender a fala alheia, pode
agravar sintomas de ansiedade e depressão entre os afetados.
Impactos da perda auditiva
A perda auditiva acarreta consequências que vão além da
dificuldade de ouvir. A médica explica que um dos maiores desafios enfrentados
pelos idosos com deficiência auditiva é o isolamento social. Esse quadro ocorre
devido à dificuldade em acompanhar conversas em ambientes ruidosos ou em
situações de interação social, o que pode levar o indivíduo a evitar esses
momentos. Como resultado, idosos com perda auditiva apresentam maiores índices
de isolamento, o que está relacionado ao declínio na saúde mental.
"Quando o idoso se afasta do convívio social, ocorre
uma diminuição dos estímulos ao cérebro, o que, segundo pesquisas, acelera o
declínio cognitivo", afirma a especialista. Essa falta de estímulo
neurológico, acrescenta, é uma das causas do aumento dos casos de demência em
idosos com deficiência auditiva não tratada.
Além do impacto mental, a saúde física dos idosos também é
afetada. O ouvido interno, explica Pauliana, funciona como um
"sensor" do corpo, essencial para o equilíbrio. Por isso, sintomas
como tontura e zumbido estão frequentemente associados a problemas de audição.
Esses sintomas podem ser agravados por condições de saúde como hipertensão,
colesterol alto e diabetes, que também comprometem a circulação e o
funcionamento do sistema auditivo.
Tratamento e opções de intervenção
Dra. Pauliana ressalta que o tratamento da perda auditiva deve
ser adequado à condição de cada paciente. A primeira linha de tratamento para
perda auditiva neurossensorial — um tipo de perda auditiva que afeta o ouvido
interno — são os aparelhos auditivos, também conhecidos como aparelhos de
amplificação sonora individual (AASI). Esses dispositivos ajudam a amplificar
sons e melhorar a compreensão das palavras, o que pode reduzir o isolamento
social e melhorar a qualidade de vida.
Em casos de perda auditiva profunda ou quando os aparelhos
auditivos não são eficazes, o implante coclear é uma alternativa viável. O
implante consiste em um dispositivo que estimula diretamente os neurônios
auditivos, por meio de eletrodos no ouvido interno. "A cirurgia do
implante coclear é rápida e segura, sendo indicada para pacientes de todas as
idades, que tenham condições de saúde para o procedimento", comenta a
otorrino. A especialista acrescenta que o implante coclear tem mostrado
resultados excelentes, permitindo que muitos idosos recuperem a capacidade de
interagir e participar ativamente da vida social.
Prevenção e cuidados para a saúde auditiva
Além das intervenções cirúrgicas e do uso de aparelhos
auditivos, a prevenção desempenha um papel importante no cuidado da audição. A
especialista recomenda que, a partir dos 50 anos, a avaliação auditiva faça
parte do check-up de rotina. "Sintomas como tontura, zumbido e sensação de
ouvido tampado são sinais que devem ser avaliados por um especialista",
reforça Pauliana, salientando a importância de um diagnóstico precoce e preciso.
A médica também destaca que um estilo de vida saudável, com
prática de exercícios físicos regulares e uma alimentação equilibrada,
contribui para a saúde auditiva. O tabagismo, o consumo excessivo de álcool e o
sedentarismo são fatores que podem agravar a perda auditiva e os sintomas
associados, como o zumbido. "Atividades físicas ajudam no equilíbrio e na
circulação, o que é fundamental para uma audição saudável na terceira
idade", comenta.
Além disso, campanhas como o Novembro Laranja, que
conscientizam sobre a importância da saúde auditiva, desempenham um papel
importante ao alertar a população sobre a necessidade de exames regulares e do
cuidado preventivo.
A importância do acompanhamento especializado
A perda auditiva em idosos exige uma abordagem multidisciplinar
que envolva tanto os aspectos médicos quanto o apoio psicológico e social.
"Todo paciente com perda auditiva deve ser tratado por um
otorrinolaringologista especialista em audição", afirma Dra. Pauliana. O
acompanhamento especializado permite não só o diagnóstico adequado, mas também
uma orientação sobre as opções de tratamento mais indicadas, desde o uso de
aparelhos auditivos até possíveis intervenções cirúrgicas.
Conforme envelhecem, muitos idosos acabam enfrentando
desafios sensoriais que afetam diretamente a sua autonomia e qualidade de vida.
O tratamento precoce e o acompanhamento contínuo da saúde auditiva são
fundamentais para que o idoso possa manter o convívio social e preservar o
bem-estar mental.
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