Neurocirurgião e
pesquisador da Unicamp aborda os efeitos da poluição no sistema vascular
cerebral e os riscos a longo prazo para a saúde mental
No mês de agosto, segundo o Instituto Nacional de
Pesquisas Espaciais (Inpe), o estado de São Paulo registrou mais queimadas do
que nos últimos dois anos, contrariando um padrão histórico. A gravidade dos
danos ambientais gerou preocupações urgentes sobre a qualidade do ar. As densas
nuvens de fumaça, especialmente no interior, alarmaram a população e provocaram
reflexões sobre os impactos dessa poluição no corpo humano, incluindo o
cérebro.
Estudos destacam que, mesmo com exposição a níveis
considerados seguros de poluentes, existem chances de o funcionamento cerebral
sofrer impactos a longo prazo, principalmente nas funções cognitivas,
aumentando o risco de doenças neurodegenerativas.
Uma pesquisa realizada na Keck School
of Medicine1, da Universidade do Sul da Califórnia, avaliou
dados de cerca de 9 mil participantes, a fim de investigar os impactos da
exposição à poluição do ar no desenvolvimento cerebral de adolescentes. Os
resultados indicaram que, mesmo nos casos em que níveis de poluição são
considerados "seguros", há alterações significativas na conectividade
funcional do cérebro, influenciando o desenvolvimento cognitivo e emocional.
Outra publicação no Neurology Journals2
investigou a relação entre o contato com a poluição atmosférica e o risco de
comprometimento cognitivo leve e demência. Os pesquisadores acreditam que a
exposição prolongada a níveis mais altos está associada ao risco de
desenvolvimento de problemas cognitivos, com implicações significativas para a
saúde pública.
Dr. Marcelo Valadares, neurocirurgião e pesquisador
da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), ressalta a necessidade de olhar além dos
efeitos mais óbvios da poluição. "O ar que respiramos não afeta apenas
nossos pulmões. A longo prazo, essas agressões ao sistema nervoso central podem
contribuir para o declínio cognitivo e aumentar o risco de demência, como evidenciam
as pesquisas mais recentes," afirma Dr. Valadares.
Existem riscos vasculares
associados à poluição do ar?
A curto prazo, a poluição do ar, incluindo a fumaça
das queimadas, pode também aumentar o risco de acidentes vasculares cerebrais
(AVCs) e de outros problemas vasculares3. A exposição aos poluentes
atmosféricos está associada a um aumento da inflamação sistêmica e do estresse
oxidativo, que podem danificar os vasos sanguíneos e levar a problemas
cardiovasculares e cerebrovasculares.
“As partículas finas podem penetrar profundamente
nos pulmões e entrar na corrente sanguínea, provocando respostas inflamatórias
que afetam o coração e o cérebro”, explica o Dr. Valadares.
3 medidas essenciais de
proteção
Para se proteger da poluição intensa, confira três
dicas importantes a seguir:
- Monitore
a qualidade do ar: em tempos de poluição intensa, existem
aplicativos e sites que informam a qualidade do ar em tempo real, como o
do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). Quando a qualidade do
ar estiver ruim, siga as recomendações de saúde pública para proteger-se
adequadamente.
- Evite
atividades ao ar livre: evite ou minimize o tempo ao ar livre,
especialmente durante o pico de poluição mais intensa. Se precisar sair,
tente reduzir o tempo de exposição, principalmente se fizer parte de
grupos de risco, como crianças, idosos, ou pessoas com problemas
respiratórios.
- Mantenha
ambientes internos saudáveis: em casa, mantenha janelas e portas fechadas
para evitar que a poluição entre. Utilize purificadores de ar com filtros
HEPA para melhorar a qualidade do ar.
- Use
máscaras apropriadas: em ambientes com alto nível de poluição,
especialmente em dias de muita fumaça ou poeira, como aconteceu nos
últimos dias em diversos pontos do estado, utilize máscaras que filtrem
partículas finas, como as do tipo N95 ou PFF2. Essas máscaras são capazes
de bloquear a inalação de partículas perigosas que podem afetar tanto o
sistema respiratório, quanto o cardiovascular.
Dr. Marcelo Valadares - médico neurocirurgião e pesquisador da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A Neurocirurgia Funcional é a sua principal área de atuação. Seu enfoque de trabalho é voltado às cirurgias de neuromodulação cerebral em distúrbios do movimento, cirurgias menos invasivas de coluna (cirurgia endoscópica da coluna), além de procedimentos que envolvem dor na coluna, dor neurológica cerebral e outros tipos de dor. O especialista também é fundador e diretor do Grupo de Tratamento de Dor de Campinas, que possui uma equipe multidisciplinar formada por médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, psicólogos e educadores físicos. No setor público, recriou a divisão de Neurocirurgia Funcional da Unicamp, dando início à esperada cirurgia DBS (Deep Brain Stimulation – Estimulação Cerebral Profunda) naquela instituição. Estabeleceu linhas de pesquisa e abriu o Ambulatório de Atenção à Dor afiliado à Neurologia.
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Referências:
1: Even “safe” air pollution levels can harm the developing brain, study finds. Acesso clicando aqui.
2: Association of Long-term Exposure to Air Pollution and Dementia Risk. Acesso clicando aqui.
3: Impact: Air pollution. Acesso clicando aqui.
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