A psicoterapia é
uma das principais portas de entrada para o tratamento de questões relacionadas
à saúde mental. Ainda assim, a maioria dos indivíduos interrompem o processo
antes da quinta sessão
A importância de bons hábitos de saúde mental tem
sido cada vez mais difundida entre pessoas de todas as áreas e tem ganhado
especial destaque neste mês, período dedicado a campanhas como o Setembro
Amarelo, de prevenção ao suicídio. Se antes a busca por tratamentos ou
acompanhamento psicológico era vista de forma estigmatizada, hoje há um
consenso de que o caminho da terapia pode e precisa ser seguido a fim de
permitir que certos problemas de ordem emocional não interfiram na saúde e na qualidade
de vida de indivíduos envoltos em questões do dia-a-dia. Ainda assim, um
problema frequentemente encontrado por psicólogos é o abandono do tratamento
antes que, de fato, o modelo de terapia adotado possa fazer efeito. Segundo
especialistas, este cenário reforça a necessidade da compreensão de uma
premissa básica a qualquer pessoa que esteja disposta a sentar em um divã e se
tratar com um psicólogo: apesar de existir e de trazer bons resultados, o
processo terapêutico pode ser dolorido e desconfortável emocionalmente.
Dados recentes de uma pesquisa sobre psicologia
feita pelo Instituto Cactus, trazem um panorama instigante sobre o atual
cenário da psicologia no Brasil. De acordo com o estudo, mesmo sendo geralmente
o processo terapêutico primário em casos relacionados à saúde mental, a
psicoterapia é realizada por apenas 5,1% dos brasileiros. A pesquisa ainda
mostra que cerca de 19% dos entrevistados consultaram um psicólogo ou
psiquiatra no último ano, mas, na maioria dos casos, eles não tiveram mais do
que cinco encontros.
Esta é uma estatística reforçada por profissionais
da área da saúde mental. Segundo eles, infelizmente, ainda é muito comum que um
número significativo de pessoas abandone a psicoterapia depois de poucas
sessões. Os motivos são relativamente variados mas, em geral, a principal razão
alegada costuma ser o desconforto com as questões abordadas durante o processo
terapêutico.
A psicóloga da Paraná Clínicas, Dra. Juliana Cajeu
Souto (CRP 08/11161), explica que um tratamento de psicoterapia pode ser
potencialmente incômodo, e que isso faz parte do processo: “É importante que o
paciente entenda que quando ele busca ajuda para qualquer que seja a questão
que está enfrentando, nem tudo serão flores. Ele precisa assimilar que o papel
do psicólogo não é ‘passar a mão na cabeça’, mas apontar aspectos do problema
que ele não viu ou que não quis enxergar. Estes pontos fazem parte do processo
de mudança de comportamento”, afirma. Justamente por não terem plena
consciência desta premissa, há quem simplesmente prefira interromper o processo
alegando insatisfação ou “falta de resultado”.
Segundo profissionais da área, um cuidado
fundamental na hora de dar início a um processo psicoterapêutico é escolher um
psicólogo com o qual seja construído um laço de confiança e respeito, mesmo
reconhecendo que essa relação não será necessariamente pautada por abordagens
amenas durante as sessões. O “tocar nas feridas” é uma etapa esperada e
necessária, e é justamente a confiança que o paciente tem no terapeuta que fará
com que ele consiga superar o desconforto e seguir com o tratamento.
Juliana também destaca outro aspecto fundamental a
ser compreendido por pessoas que começam no processo de psicoterapia, de que
não existe “mágica” na hora de superar o problema. Mesmo com o suporte do
profissional de saúde mental, a solução dos problemas enfrentados terá que ser
encontrada pelo indivíduo em tratamento: “Talvez o principal equívoco dos
pacientes em terapia seja acreditar que ele vai obter do psicólogo a resposta
do que ele busca. A dificuldade é compreender que trata-se de uma jornada em
que ele próprio irá fazer esta descoberta a partir dos apontamentos que obter
no processo terapêutico. O papel do profissional é mostrar caminhos, dar
acolhimento e apresentar ao paciente qual é a realidade, sobretudo aquela que
ele não quer admitir. Quem espera respostas prontas certamente está
equivocado”, explica a psicóloga.
A jornada de cura
Mas, sendo assim, quando o paciente sabe que é o
momento de interromper o tratamento? Terapeutas explicam que a resposta para
essa questão é relativa, e varia de acordo com o envolvimento do indivíduo, a
linha de psicologia adotada no tratamento e a capacidade que ele terá tanto de
resolver as questões mentais que lhe afligiam originalmente, quanto daquelas
que podem vir a surgir ao longo das sessões. Ele irá passar por um processo de
tratamento em que irá trabalhar as demandas que trouxe, para ser o agente de sua
própria terapia e para lidar com eventuais recaídas. A forma como o paciente
responde a esta jornada é que irá determinar o momento ideal para que ele
“receba alta”, algo que pode durar alguns meses ou vários anos.
De acordo com a Dra. Juliana Cajeu Souto, embora
possa ter seus momentos de desconforto, a jornada terapêutica pode ser
profundamente recompensadora ao indivíduo em análise: “É muito prazeroso para o
paciente notar quando ele começa a ter insights e criar suas próprias
estratégias para pensar de maneiras diferentes. Ele sente-se acolhido. Este
progresso é nítido quando o indivíduo se coloca realmente disposto a
experimentar a mudança, mesmo quando isso o tira de uma zona de conforto”,
conta.
Ainda de acordo com ela, o conselho principal a
qualquer pessoa que está prestes a iniciar um tratamento é ter em mente os
desafios da jornada e procurar um profissional que lhe faça sentir-se seguro:
“Falar de nossas dores é sempre um processo difícil, portanto é fundamental
encontrarmos um profissional que desperte nossa empatia, que faça com a gente
sinta-se acolhido e com vontade de voltar. É a partir dessa conexão, desse laço
de confiança, que o paciente consegue trazer à tona suas angústias e
questionamentos. Também é importante reforçar que este processo pode e precisa
acontecer aos poucos, sem pressa, justamente porque ir direto ao ponto pode ser
um processo intimista e doloroso demais em um primeiro momento terapêutico”
completa Juliana.
Paraná Clínicas
panaclinicas.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário