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sábado, 9 de setembro de 2023

Setembro Amarelo: especialista atenta para a conscientização e explica como as pessoas podem procurar ajuda

Psicóloga comenta sobre os principais fatores que causam um suicídio e como a sociedade pode lidar com a situação

 

O setembro Amarelo tem como proposta sensibilizar a população sobre o suicídio e é dedicado à sua prevenção. A importância desse mês é a de trazer à discussão os cuidados e as formas de prevenir o ato, desmistificando mitos e tabus.  

O movimento foi inspirado no caso Mike Emme (EUA) ocorrido em setembro de 1994. Ao perderem o filho, os pais junto aos amigos distribuíram no velório de Mike 500 cartões com fitas amarelas (a cor do Mustang do filho, que ele havia restaurado) com mensagens de apoio às pessoas que pudessem estar em sofrimento e que pedissem ajuda. Os cartões ganharam o mundo e a ideia acabou virando um movimento de prevenção, com a fita amarela como símbolo.  

Para a psicóloga e professora do curso de Psicologia da Universidade Cruzeiro do Sul, doutora em Psicologia da Saúde, Regiane de Aquino Ribeiro Serralheiro, a sociedade costuma ser imediatista e pouco empática, desvalorizando o sofrimento ao retratar que a pessoa que tenta o suicídio está querendo chamar a atenção.  

“Crises excedem os recursos que as pessoas possuem naquele momento, e muitas vezes para o ser humano em sofrimento é difícil pensar na mudança de rota, traçar outro plano ou alterar o caminho. Parar, refletir e pedir auxílio nem sempre é simples. A falta de informação e de conhecimento no assunto comprometem muito o pedido de ajuda”, considera.  

Desmistificando o suicídio  

Quando o indivíduo avalia a possibilidade de tirar a própria vida, na maioria das vezes o desejo não é de morrer, diz Regiane, mas de acabar com o sofrimento intenso pelo qual passa. Por isso, reconhecer que por trás do ato há uma pessoa, com toda uma história, ajuda outras pessoas a humanizá-la, não a reduzindo ao ato.  

Em muitas situações, pode haver sinais que são possíveis de realizar o encaminhamento a profissionais de saúde ou a rede de apoio, se identificados a tempo. Contudo, a especialista considera a dificuldade em reconhecer que as pessoas próximas, ou amadas, podem pensar em tal desfecho para sua vida.  

“O suicídio é um fenômeno presente em todas as culturas e em toda a humanidade, é multifatorial e complexo, envolvendo fatores psicológicos, biológicos – inclusive genéticos, sociais, culturais e ambientais. Portanto, tirar a própria vida deve ser compreendido como um desfecho de uma série de fatores e não uma única causa”, afirma.  

Questão de saúde pública, o suicídio continua sendo uma das principais causas de morte no mundo. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), todos os anos morrem mais pessoas por suicídio do que por HIV, malária, câncer de mama, guerras ou homicídios. Estima-se que no mundo haja 800 mil mortes por ano, ou seja, um caso a cada 40 segundos. A taxa entre jovens também representa grande preocupação, bem como em crianças, e no caso do Brasil, o país ocupa o 8° lugar no ranking, com um caso a cada 45 minutos.  

Quanto aos fatores de risco, há situações de baixo, médio e alto risco que devem ser avaliadas: uma tentativa prévia recente, uma alta hospitalar por tentativa, devem ser bem acompanhadas, pois a pessoa pode estar fragilizada. Outros podem ser o desemprego, experiências de violência, abuso de álcool e substâncias.  

“Identificar os fatores de perigo como a presença de sentimentos de desamparo, desespero, desesperança, solidão e comportamento impulsivo estão associados com tentativas de suicídio”, esclarece.  


Como agir com uma pessoa que pretende se suicidar?  

Segundo a professora da Universidade Cruzeiro do Sul, falar é necessário, acolher mais ainda, pois a existência de vínculos e o bom suporte social e familiar tendem a auxiliar. Com a presença de riscos, é fundamental o acompanhamento profissional especializado.  

“Abordar nem sempre é fácil, mas é necessário. Por esse motivo, quem está por perto deve encaminhar a pessoa ao profissional de saúde, como psicólogo e psiquiatra, que são especialistas importantes para o indivíduo nessa situação. O profissional deverá avaliar e manejar o problema de forma adequada, envolvendo a família e amigos como parceiros no cuidado”, orienta.  

Além da prevenção, as pessoas que sofrem uma perda decorrente por suicídio também necessitam de acolhimento. Trata-se da pósvenção: quando houve alguma tentativa prévia ou quando da ocorrência do fato, amigos, familiares e outros contatos com o falecido também são impactados (sobreviventes). “Cada perda pode afetar de 6 a 30 pessoas. Aos sobreviventes do suicídio, a experiência de luto, pode necessitar de acompanhamento para a expressão adequada e benéfica do luto”, reforça a psicóloga.  


O que a sociedade deve fazer para evitar?  

Serralheiro comenta que os cuidados à saúde mental devem ocorrer o ano todo. Reduzir o preconceito e os tabus, bem como as condições que agravam o sofrimento psíquico, a desigualdade social, maus tratos às minorias, condições de precarização do trabalho, entre outros, favoreceriam uma sociedade mais justa e igualitária.  

“Programas preventivos e de saúde mental, que por meio de psicoeducação poderiam contribuir para avaliar mudanças bruscas de comportamento, podem ser indicativos de sofrimento psíquico, neste caso, mas entendam que não é uma relação de causa e efeito, pois o suicídio é multifatorial e complexo. Oferecer ajuda e acolhimento pode ser um bom sinal, mas claro que é preciso pensar se também conseguimos suportar tal demanda, pois se não estivermos bem, poderá ser muito custoso ouvir tamanho sofrimento e estar disponível para ajudar. Temos que reconhecer nosso limite e quando também podemos precisar de ajuda”, recomenda a psicóloga.  

Em caso de auxílio, Regiane frisa que é possível buscar por meio dos Centros de Atenção Psicossocial – CAPS, Unidades Básicas de Saúde, Centros de Atenção Integrada, Serviços de Psicologia e Psiquiatria. Há ainda o Centro de Valorização da Vida (CVV) no qual os atendimentos acontecem 24 horas por dia e podem ser feitos pelo site cvv.org.br ou telefone para 188. O serviço é voluntário, gratuito para todas as pessoas que querem e precisam conversar, sob total sigilo, por telefone, e-mail ou chat.  

Por fim, a especialista diz que: “Se você estiver com dificuldades, procure ajuda profissional. Compartilhe os seus sentimentos, compreenda que é uma crise e que irá passar. Não tenha vergonha de falar do que dói, entenda que você não é um estorvo e não está sozinho. Momentos turbulentos são difíceis como tempestades, mas elas sempre passam”, pontua.   


Universidade Cruzeiro do Sul
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