A vida tem um jeito de ser mais bonita do que
trágica, mas depende de nós filhas escolhermos o melhor caminho. Tomar
consciência de que nossa mãe nem sempre foi boa conosco e, mesmo assim, tem o
mérito de ter nos dado a vida é um dos esforços mais dolorosos do
amadurecimento.
Ficar de frente aos limites da mãe, especialmente
quando sabemos que a nossa infância não foi protegida por ela, nos leva a
experimentar um profundo sentimento de negação e passamos a nos sentir “órfãs”
em uma realidade marcada por várias feridas. Em geral, a mãe que rejeita a
filha pode, inclusive, exigir que ela assuma o papel materno dentro da família,
cuidando da casa e dos outros irmãos, quando não insiste, também, em receber
cuidados.
Uma realidade difícil para a filha que se sente negligenciada
pela mãe e que desenvolveu a “autossuficiência” como proteção. Muitas filhas
mostram dificuldade em suas relações por sempre desconfiarem das pessoas, mas
também do próprio potencial. Nas duas realidades, oriento-as a dizer
internamente: “Querida mãe, entrego você para a sua solidão” para encontrar o
caminho da cura.
A filha que não sente a benção do amor materno tem
uma conexão fraca com a mãe e reflete essa falta nos próprios propósitos, sem
energia para transformar seus sonhos mais sinceros em conquistas, por exemplo.
Sendo assim, faço a pergunta: “Onde foi que mãe
e filha
se perderam em suas histórias difíceis”?
Algumas mães, ainda por cima, tentam “transformar”
suas filhas em “confidentes” e não percebem que a busca por essa “intimidade”, pode
levá-las a grandes problemas emocionais. Em minhas observações clínicas, nem
mesmo a filha mais “consciente” tem equilíbrio emocional para carregar o peso
das responsabilidades da mãe, pois toda vivência força o desenvolvimento
precoce da filha e a desvia do próprio caminho. Assim, nada como serem
diferentes uma da outra, terem sentimentos e necessidades individuais e
permanecerem livres para serem elas mesmas.
O processo é longo, trabalhoso e exigente, mas é na
busca por limite nessa relação, que convido todas nós filhas, encontrarmos uma
postura madura para conseguirmos, um dia, dizer, respeitosamente, à nossa mãe:
“Eu vejo o meu sacrifício para acalmar o seu coração, mãe. Mas agora me
retiro”.
Por isso, restabelecer a conexão com a mãe é
o caminho de cura que mais recomendo para o nosso amadurecimento de filha e,
consequentemente, de mulher.
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