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segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Miopia infantil: volta às aulas pode ajudar a reconhecer os sintomas

 Aumento do distúrbio na infância deve levar doença a afetar metade da população global até 2050; Aliadas ao diagnóstico precoce, novas alternativas de tratamento incluem lentes de alta tecnologia que corrigem os desvios na visão e ajudam a prevenir a piora do quadro 



Com o retorno às aulas, acende-se o alerta para a miopia infantil, uma preocupação crescente para pais e professores. A exposição prolongada às telas tem sido apontada como um dos fatores contribuintes para o aumento no número de diagnósticos de miopia em crianças.

Por isso, é importante que pais e professores estejam atentos às dificuldades dos pequenos de enxergar, bem como incentivam hábitos saudáveis de uso das telas, além de priorizar a prática de atividades ao ar livre e a exposição à luz natural.

Atualmente, estima-se que 20% dos jovens em idade escolar são diagnosticados com diferentes tipos de doenças visuais, mas a miopia é, de longe, a mais comum delas. Pessoas com essa doença têm um globo ocular mais “longo”, o que provoca a formação da imagem antes que a luz chegue até a retina, fazendo com que a pessoa tenha dificuldade de enxergar de longe.

No caso dos eletrônicos, o músculo dos olhos, que normalmente trabalha como uma espécie de zoom para a captura da imagem, acaba precisando fazer esse trabalho de maneira repetitiva, desgastando-o, o que pode causar miopia. Além disso, há uma queda na lubrificação: o ser humano pisca cerca de 12 vezes por minuto. Em frente às telas, esse número cai para aproximadamente oito vezes, ou até menos.

O crescimento em diagnósticos, principalmente infanto-juvenis, foi considerado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) como um dos problemas de saúde pública que mais crescem no mundo. Cerca de 15% dos jovens de 15 anos têm a enfermidade. Especialistas apontam que, apesar das tecnologias serem a principal causa desse crescimento, outros fatores contribuem para a situação.

"A gente também verifica, de anos para cá, um aumento na consciência da população em relação ao problema, muitas vezes identificado na escola, pelos professores. Serviços também têm sido ampliados e atingem agora quem antes não realizaria os testes para saber das doenças. Então, muita gente que antes não entrava na estatística agora está entrando, não porque não tinha a doença, mas porque não sabia ter", explica a oftalmopediatra Adriana Fecarotta.


Tratamento e prevenção: novas tecnologias são aliadas

A miopia é tratável: óculos e lentes corretivas, além da cirurgia (que já está na medicina há mais de 4 décadas) estão disponíveis para os míopes. Porém, especialmente nos casos infanto-juvenis, é possível prevenir o desenvolvimento da doença. A Sociedade Brasileira de Oftalmologia Pediátrica (SBOP) e a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) orientam os pais a estimularem os filhos a olhar mais para o horizonte, como em brincadeiras ao ar livre. A exposição de telas deve ser evitada para crianças menores de 2 anos. Até os 5 anos, deve-se limitar o tempo ao máximo de uma hora por dia e sempre com a supervisão de pais e responsáveis. Para crianças com idade entre 6 e 10 anos, o tempo limite deve ser de duas horas por dia e adolescentes até três horas.

Além de controlar o tempo de tela, novas tecnologias também vêm surgindo e contribuindo para que o problema seja minimizado. Um deles é uma lente voltada para a progressão da miopia em crianças, a Essilor® Stellest™, que atua na correção da miopia e impede que os olhos se alonguem mais rápido do que deveriam. “Esse alongamento, que acontece em crianças míopes, é o responsável pela piora da condição”, explica a médica.

Segundo estudo clínico duplo-cego randomizado realizado no Eye Hospital, da Wenzhou Medical University, na China e publicado na revista científica Jama Ophthalmology em março de 2022, essa nova alternativa de lente ocular desacelera a progressão da miopia em 67% das crianças na faixa etária dos 8 aos 13 anos, quando utilizada diariamente por 12 horas.

Aliadas ao diagnóstico precoce, essas alternativas avançadas para correção da visão e tratamento da miopia em crianças podem ainda contribuir na prevenção de uma infinidade de outras doenças oculares, como a ambliopia, o chamado ‘Olho Preguiçoso’, bem como problemas escolares, como déficit de aprendizagem.

“Crianças com graus altos, por exemplo, podem apresentar alterações de comportamento. Além disso, o diagnóstico em fases iniciais somado ao uso correto de lentes corretivas pode prevenir determinados estrabismos decorrentes da falta de prescrição do óculos adequado, além da anisometropia, a diferença de graus entre ambos os olhos”, ressalta a Adriana.

Há ainda casos em que as crianças com histórico familiar podem ser acompanhadas com antecedência por um especialista, podendo contar com uma linha de cuidado voltada à detecção precoce de alterações na visão para identificação e prevenção de uma progressão rápida da doença.


Covid-19 pode ter influenciado cenário atual

Segundo a oftalmopediatra, ainda é cedo para cravar, mas pesquisas apontam que a Covid-19 também pode ter tido um efeito importante sobre esses números. "É algo multifatorial: há algumas suspeitas que a miopia pode ser uma das sequelas da infecção. Ao mesmo tempo, as medidas de isolamento não só colocaram as pessoas mais tempo em frente às telas, mas também com menos exposição à luz natural e o horizonte, o que contribui, em muito, para prevenir a doença".

Em qualquer cenário, a consulta com o especialista é fundamental para identificar qualquer mudança na visão e na saúde dos olhos e se informar sobre ações preventivas, além dos cuidados básicos. Fecarotta afirma que o primeiro exame oftalmológico deve ser feito no primeiro ano de idade do bebê, ou seja, no primeiro ano de vida, de preferência, até os 6 meses de idade.

“Após esse período, o ideal é que os pais levem as crianças ao especialista de 6 em 6 meses em um período de dois anos. Depois desse prazo, uma visita anual ao especialista é suficiente, caso a criança não desenvolva nenhum problema de visão nesse período”, finaliza Adriana Fecarotta.


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