O financiamento de longo prazo – Revisão da TLP e estabelecimento de um papel estratégico do BNDES são fundamentais para a retomada da competitividade do setor de máquinas e equipamentos.
O processo de desenvolvimento, tem como condição a
existência de um eficiente sistema de financiamento isonômico, semelhante ao de
países dinâmicos, elevando a participação da indústria acima de 25% do PIB,
como observado no início da década de 80.
O Banco de Desenvolvimento Econômico e Social –
BNDES, a principal instituição de fomento do desenvolvimento do País, perdeu
quase dois terços da sua importância em termos de desembolso de recursos, ao
longo dos últimos 10 anos.
A FINAME, a primeira linha de crédito do BNDES
voltada para o financiamento da aquisição e comercialização de máquinas e
equipamentos de forma isolada (não integrados a projetos), de indiscutível
importância para a modernização do parque fabril do País, vem sofrendo um
processo de encolhimento, menos em razão do impacto da pandemia da covid-19,
mas mais pelo encarecimento e pela imprevisibilidade motivados pela adoção do
TLP (taxa de longo prazo) instituída pela Lei nº 13.483, de 2017.
A principal fonte de captação de recursos do BNDES
é o FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), remunerado pela TLP baseada na Nota
do Tesouro Nacional, série B de 5 anos, o mesmo indexador pelo qual contrata
suas aplicações.
No repasse do recurso ao mercado o Banco ainda
cobra spread adicional e, se a operação for indireta, uma comissão do agente
repassador, o que torna o custo do financiamento de tal forma elevado e
incompatível como apoio a investimentos em ativos de produção por superar as
margens normais de retorno das atividades produtivas.
Nesse cenário é preciso revisitar os termos que
definem as taxas de financiamento praticadas pelo BNDES, devolvendo ao Banco
seu papel de instituição financeira especializada no financiamento do
investimento de longo prazo. É preciso reestabelecer sua capacidade de exercer
políticas anticíclicas, financiar projetos infraestrutura e industrial e,
apoiar a inovação e a exportação, entre outros, operando com condições
diferenciadas em relação ao mercado e facilitando a realização de
investimentos.
A experiência internacional pressupõe, como
condição necessária para viabilizar investimentos de longo prazo, a existência
de taxa de juros estável, previsível e compatível com as margens de retorno dos
investimentos das atividades produtivas. Faz-se necessária, portanto, adoção de
medidas que melhorem o sistema de crédito nacional.
Elencamos em seguida algumas sugestões, a saber:
Ø Alterar a Lei 13.483, de 21 de setembro
de 2017 que instituiu a TLP como remuneração do FAT, estabelecendo parâmetro
mais adequado às necessidades do país, onde as taxas de juros de longo prazo
não concorram com as margens normais de retorno das atividades produtivas e
seja previsível. Ao vincular a remuneração do funding do BNDES ao risco do
tesouro a Lei tornou o preço do crédito do Banco pró-cíclico, eliminando a
possibilidade de ser usado em situações de crise.
Ø Nas operações indiretas do BNDES, fixar
um teto aos spreads das instituições repassadoras;
Ø Priorizar a concessão de recursos
públicos para empresas de pequeno e médio porte e setores estratégicos da
indústria de transformação;
Ø Reduzir a alíquota para 0% do IOF sobre
operações de crédito, o que diminui o custo efetivo para o tomador do
financiamento;
Ø Flexibilizar a utilização das garantias
visando elevar a ampliação do acesso ao crédito de uma forma rápida e menos burocrática;
Ø Reformar as normas da CVM de emissão de
debentures ao público, desburocratizando o processo e facilitando o acesso de
empresas de menores portes
Ø Promover ações voltadas à transição
verde, que visem a criação de linhas de incentivo acessíveis para investimentos
em tecnologias de baixo carbono e a criação de um pacote de apoio financeiro
para a “transição verde”, de forma a permitir uma descarbonização coerente sem
comprometer os negócios da indústria brasileira, em especial das MPEs (micro e
pequenas empresas).
Tratam-se de medidas que possibilitarão às empresas nacionais acesso a recursos para capital de giro, investimentos, inovação e exportações a custos menores, dando a elas condições para manterem-se ativas e competitivas.
Gino Paulucci Jr - engenheiro mecânico e presidente
do Conselho de Administração da ABIMAQ
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