Novo método inovador pode fazer diferença em filas de espera para doação de córneas
Uma pesquisa da Universidade de Linköping, na Suécia, desenvolveu
uma camada ocular feita de pele de porco. O biomaterial é feito a partir do
colágeno da pele de porcos e foi testada em implantes de córnea por cirurgiões
no Irã e na Índia, em vinte voluntários, sendo 14 deles cegos. O resultado do
estudo-piloto foi publicado recentemente na revista Nature Biotechnology, onde
se constatou que o implante é seguro e restaurou a visão de todos os
voluntários.
De acordo com a médica oftalmologista do CBV-Hospital de olhos
Maria Regina Chalita esse método pode fazer uma grande diferença em locais onde
há uma longa fila de espera para esse tipo de transplante. “Pensando no
transplante de córnea, o principal fator limitante é a dificuldade em se
conseguir o tecido corneano em vários lugares do mundo. Existem lugares como
Estados Unidos, Europa, onde nós praticamente não temos fila para transplante
de córnea, temos uma oferta de córnea maior do que a demanda necessária. Porém,
temos outros lugares como África, Ásia e Oriente Médio, onde há uma carência
muito grande de córneas, os pacientes demoram anos para conseguir uma doação
para poder realizar o transplante de córnea. Aqui no Brasil, isso varia um
pouco entre diferentes regiões. No Distrito Federal, a média de espera que nós
temos para um transplante de córnea, quando o paciente entra na fila, é em
torno de seis a oito meses. Mas existem alguns estados do Brasil, onde
praticamente não se tem fila de espera”, relata.
O método inovador é feito por meio de uma pequena incisão para
inserir o implante na córnea existente, sendo um procedimento menos invasivo,
no qual dispensa a remoção do tecido do paciente. Segundo Chalita, antes da
disponibilização do biomaterial em larga escala, é necessária uma análise mais
abrangente dessa tecnologia. “Ainda é necessário mais tempo para avaliar e
saber a meia vida ou o tempo de duração desse enxerto, dessa córnea artificial.
É preciso saber se ela dura mais tempo do que uma córnea normal, uma córnea
humana doada, e também com relação à rejeição. Nós sabemos que quando há uma
doação de córnea humana, esse paciente tem uma chance de ter uma rejeição de
córnea, por ser um tecido que não faz parte do organismo dele. Resta saber se
nessas córneas artificiais, nós vamos diminuir mais ainda a chance de rejeição.
Caso isso ocorra, será um fator muito promissor e muito importante na
utilização de córneas artificiais para pacientes que necessitam do
transplante.”
Uma das principais indicações de transplante é o ceratocone. A
médica explica que o ceratocone é uma doença ectásica da córnea, onde a córnea
começa a afinar e a ter um abaulamento, gerando um astigmatismo irregular e
baixa de visão. Segundo a especialista, os tratamentos para ceratocone podem
ser clínicos, mas em casos muito avançados, há a indicação de transplante. “A
gente começa usando óculos. Quando o paciente não consegue mais usar óculos, a
gente passa para lentes de contato. Alguns casos específicos de ceratocone são
usados lentes de contato rígidas. Quando a visão não melhora mais com lente de
contato, pode ainda tentar os anéis intracorneanos, que são implantes
feitos dentro da córnea para diminuir a curvatura do ceratocone. E só realmente
em casos muito avançados, onde eu não consigo mais adaptar lente de contato ou
colocar o anel intracorneano, que a gente vai indicar o transplante de córnea”,
explica.
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