Embora o Parkinson seja uma doença
ainda sem cura, a ciência vem trabalhando continuamente em busca de tratamentos
para estabilizar, atenuar ou até mesmo interromper a piora dos sintomas. Esta é
a segunda condição neurodegenerativa mais incidente em pessoas acima dos 60
anos, atrás apenas do Alzheimer. Entre as muitas dúvidas, que vão além do
diagnóstico, as formas de tratamento também deixam incertezas entre os
pacientes. Será que a medicação é nossa única alternativa, ou existem outras
opções?
Dados da Organização Mundial da Saúde
(OMS) reforçam que aproximadamente 2% da população mundial com idade superior a
65 anos tem a condição. Já no Brasil, estima-se que cerca de 200 mil pessoas
sofram com ela. A origem do Parkinson está na perda de neurônios em um núcleo
bem específico do cérebro chamado de Substância Negra (região onde os neurônios
possuem um pigmento de cor muito escura, a neuromelanina), responsáveis pela
produção de dopamina. Assim, os pacientes têm esses neurônios comprometidos,
deixando de produzi-la. Os movimentos são afetados porque a dopamina, que ativa
uma área do cérebro conhecida como corpo estriado, é uma das portas de entrada
de um dos principais centros reguladores dos movimentos do corpo.
Entre os sintomas mais conhecidos da
doença estão o tremor involuntário e a rigidez corporal que, normalmente, podem
ser controlados com o uso da medicação adequada. Entretanto, com o passar dos
anos, o remédio pode perder o efeito gradativamente ou ainda o paciente pode
desenvolver efeitos colaterais pelo uso da medicação, causando transtornos ao
parkinsoniano.
Embora ainda existam excelentes opções de
medicamentos como a conhecida Levedopa, que revolucionou o tratamento e foi
oficialmente aprovada em 1970, cerca de 20 a 30% dos pacientes podem ter
efeitos adversos à terapia medicamentosa, principalmente, alguns anos após o
uso, como movimentos involuntários, alucinação e delírios. Mesmo com o ajuste
da dosagem, os sintomas podem atrapalhar a vida do paciente e o efeito dos
fármacos fica cada vez mais curto.
Atualmente, uma das maiores esperanças
da medicina em relação ao Parkinson é o aprimoramento da inovadora cirurgia
intitulada DBS (do inglês, deep brain stimulation), que consiste na
implantação cirúrgica de um dispositivo médico neuroestimulador, semelhante a
um marca-passo cardíaco, auxiliando no controle dos principais sintomas da
doença, que pode garantir a qualidade de vida dos pacientes.
A cirurgia é um recurso muito
importante e deve ser considerada para alguns pacientes. Ela não é ainda a
primeira linha de tratamento possível, mas é uma das melhores alternativas em
casos de pacientes que passam a apresentar resistência às medicações já
conhecidas, e pode reduzir os tremores em até 80%, além da rigidez e outros
sintomas, quando bem indicada.
É importante lembrar que nem todos os
pacientes com Parkinson apresentam os mesmos sinais. Entre os mais conhecidos,
além do tremor involuntário e da rigidez corporal, estão: as dores musculares;
a lentidão nos movimentos; a perda de expressões faciais; entre outros, como a
constipação e a incontinência urinária. Alguns podem ter apenas um tremor leve
e, outros, um pouco de rigidez no corpo. Uma minoria também pode apresentar
alterações de memória e de comportamento, por exemplo.
Na última década, principalmente, a
tecnologia foi capaz de proporcionar benefícios ao paciente sem precedentes de
efeitos colaterais. Em meio a um momento de descobertas no campo das terapias
gênicas, pesquisadores tem apresentado, com confiança, estudos que visam
apresentar novidades.
Nestas pesquisas mais recentes, a proposta é autorregular a produção de dopamina, neurotransmissor responsável pela mensagem entre as células nervosas e que tem queda intensa na Doença de Parkinson.
Além disto, o momento é também de
lançamento para novas medicações de tratamento não apenas do Parkinson, mas
também de outras doenças neurológicas. Esperamos contar no Brasil, em breve,
com o ultrassom focado guiado por ressonância, que é uma ferramenta útil para
tratar pacientes com tremor essencial e, também, o tremor do Parkinson, de uma
forma menos invasiva.
Neste momento de ansiedade, os
pacientes que buscam consultar especialistas estão sempre ansiosos por
novidades. Enquanto isso, trabalhamos diariamente para aprimorar as técnicas e,
com base em avaliações clínicas, adaptar a terapia com mais precisão às
necessidades de cada um.
Marcelo Valadares - neurocirurgião, pesquisador
da Disciplina de Neurocirurgia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp) e médico do Hospital Israelita Albert Einstein.
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