Médico
cardiologista Dr. Carlos Portela explica por que isso aconteceu neste período e
alerta para os cuidados com a saúde
O mês de março é marcado
por campanhas que alertam para os perigos da obesidade. O problema afeta milhões de pessoas em todo mundo e
os índices aqui no Brasil não param de subir.
Tecnicamente falando,
a obesidade é geralmente causada pelo sedentarismo e consumo
exagerado de alimentos ricos, principalmente, em açúcar refinado e gordura.
“A obesidade gera diversos malefícios na vida pessoal, como o desenvolvimento
de várias doenças: diabetes, pressão alta, alterações do colesterol, entre
outras. Por ser uma doença inflamatória sistêmica, também altera a parte
hormonal e cognitiva. Pode estar atrelada, ainda, à indisposição e a baixa
autoestima, o que gera, nesses casos, sérios problemas emocionais”, explica o
cardiologista e médico do esporte, Dr. Carlos Portela.
De acordo com o profissional, o índice de obesos no Brasil que já vinha
crescendo, aumentou ainda mais nos últimos dois anos e a pandemia da Covid-19
foi um dos fatores principais para esse crescimento. “A pandemia contribuiu com
esse aumento exponencial. Isso porque a maioria das pessoas se tornou mais
sedentária nesse período, devido à falta de locomoção e mobilidade. Muitos
começaram a trabalhar no esquema de home office e passaram a se movimentar
menos”, pontua o médico.
E
para piorar a situação, as pessoas passaram a se locomover menos e aumentaram o
consumo de fast food, e comidas via delivery, que na maioria das vezes não são
lá muito saudáveis. “A mudança da rotina, o aumento do consumo de bebidas
alcoólicas, a alteração da rotina do sono, da hora de dormir... Tudo isso
contribuiu para o aumento no número de pessoas com sobrepeso ou obesidade no
período da pandemia. E nos últimos anos, no Brasil, tivemos um aumento de quase
72% no índice de obesos ou indivíduos com sobrepeso. Para se ter uma ideia,
saímos de 11,8 % em 2006 para 20,3% em 2019. Já a porcentagem de pessoas acima
do peso saltou de 42,6% para 55,4% no mesmo período. Isso são dados de um
levantamento da ABESO (Associação Brasileira Para Estudo da Obesidade e Síndrome
Metabólica)”, alerta o Dr. Portela.
Outro
dado importante da pandemia, de acordo com um estudo coordenado pelo Núcleo de
Pesquisas Epidemiológicas, Nutrição e Saúde da USP, mostra que pelo menos 20%
dos brasileiros ganharam, pelo menos, dois quilos nesse período pandêmico.
“Isso devido ao isolamento social, o que elevou o sedentarismo. Portanto,
pessoas que antes praticavam atividades físicas, não conseguiram fazer mais com
tanta frequência. A alimentação ficou desregulada, desregrada, muitos alimentos
industrializados, com maior teor de calorias e o aumento considerável do
consumo do álcool”, ressalta o médico.
E a obesidade acaba
levando a outros sérios problemas de saúde, principalmente se não for levada a
sério e tratada da forma adequada.
Além
dos problemas cardiovasculares, já bem conhecidos, o excesso de peso piora o
índice de doenças de quadros emocionais. A obesidade causa, ainda, refluxo,
síndrome do intestino irritável (patologia bem comum e que tem origem
psicossomática), quadros de diarreia, dor abdominal e excesso de gases. “A
obesidade pode alterar a parte hormonal, levando a quedas de hormônios
importantes para o organismo e, consequentemente, mais fadiga, cansaço e queda
de libido”, explica o especialista.
A
boa notícia é que a obesidade pode sim ser revertida e tratada, mas para isso é
preciso força de vontade, dedicação e um tratamento multidisciplinar. E, como qualquer doença crônica, o tratamento é em longo prazo
e não existem fórmulas ou medicamentos milagrosos. Portanto, fuja disso!
“O
uso de medicamentos é necessário em momentos específicos do tratamento. Em
muitos casos precisamos utilizá-los para tentar reverter alterações metabólicas
importantes e auxiliar na aderência do paciente à jornada do tratamento. O que
faz o paciente ter resultados satisfatórios é entender o processo e trilhar o
caminho da construção de hábitos. Criar uma dependência medicamentosa ou
medidas de padrões alimentares restritivos vão de oposto à construção de
hábitos saudáveis. Por isso, nosso papel hoje é proporcionar entendimento e
quebrar tabus, simplificando o processo e fazendo o paciente sentir e enxergar
o que significa realmente ter saúde”, explica o Dr. Carlos Portela.
“Além da
mudança do estilo de vida, é preciso ter um ajuste no planejamento alimentar e
de atividades físicas. Também é preciso haver uma melhora da saúde intestinal,
acompanhamento do ponto de vista emocional, melhora da qualidade do sono, e
apoio psicológico. Tudo isso está relacionado ao nosso trabalho”, diz o
cardiologista, que coordena equipes de profissionais em São Paulo, em que todos
estão alinhados no processo especial de conhecimento da dinâmica do paciente e
do dia a dia dele, sempre de forma individual e personalizada.
“É muito importante ter em mente que, alguns fatores, vêm desde a
infância da pessoa com obesidade, e esses problemas emocionais perduram até a
vida adulta. É preciso olhar o paciente como um todo: emocional, psicológico,
orgânico”, esclarece o profissional.
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