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quinta-feira, 31 de março de 2022

"Coisa de adulto?" Entenda por que precisamos falar com as crianças sobre guerra e outros assuntos polêmicos

Para o professor do Colégio Bom Jesus, Douglas Pletsch Puhl, essa é uma boa oportunidade para abordar sentimentos e pensamentos conflituosos, além de contribuir para a formação do caráter de meninos e meninas

 

Quantas vezes, na infância, você se interessou por um determinado assunto que viu na televisão ou ouviu outras pessoas comentarem e recebeu um rápido e singelo “é coisa de adulto”? Até pouco tempo atrás, esse tipo de resposta era muito comum. Isso porque dificilmente a criança era vista como indivíduo, pelo contrário, a regra geral era ter suas emoções e até mesmo opiniões silenciadas, ignoradas e menosprezadas. Mas, felizmente, vivemos hoje outra realidade, na qual o “é coisa de adulto” já não basta.

Com o acesso à informação cada vez mais fácil e rápido, inclusive a crescente disseminação de notícias falsas, é urgente falar com as crianças sobre assuntos polêmicos como a atual guerra entre Rússia e Ucrânia. Agora, se já é difícil para os adultos entenderem o conflito, como explicá-lo para meninas e meninos? 

Para o professor e coordenador de Ensino Religioso do Colégio Bom Jesus, Douglas Pletsch Puhl, ao conversar com crianças sobre esse tema, cuidadores e professores têm a oportunidade de abordar sentimentos e pensamentos que talvez estejam causando algum conflito interno. Sem contar que pode ajudar a formar o caráter desses futuros adultos.

“Em tempos tão difíceis, é fundamental criar um ambiente de respeito às dúvidas e opiniões das crianças, bem como de acolhida aos seus sentimentos, seja em casa ou na sala de aula”, orienta o professor. Nesse sentido, alguns fatores podem facilitar essa tarefa, tais como: oferecer abertura para o diálogo desde os primeiros anos de vida da criança, estar atento às dúvidas dela, não ocultar a verdade dos fatos e transmitir confiança, proteção e segurança. 


Como falar sobre guerra com crianças

Em primeiro lugar, Douglas orienta que o assunto deve partir do interesse e questionamento da criança. “Ao adulto cabe conduzir a conversa pelo caminho do acolhimento, do respeito, do amor e da atenção. Dessa forma, não há uma idade mínima recomendável, dependerá do interesse ou da dúvida da criança, sempre partindo daquilo que ela ouviu ou leu sobre a guerra”, ressalta. 

Formado em Filosofia, Teologia e Metodologia do Ensino Religioso, o professor do Colégio Bom Jesus acredita que o tema ainda afugente muitos pais e cuidadores por envolver temáticas polêmicas como morte, violência, medo e tristeza. Porém, segundo ele, é preciso vencer esse tabu. “É importante que as crianças estejam cientes de que as coisas acontecem e como acontecem, sempre com o devido cuidado no modo como o tema é abordado para não gerar traumas”. 

Outra recomendação do professor é evitar impor juízo de valor sobre o assunto, isto é, apontar quem está certo ou errado em um contexto de guerra. “No diálogo com as crianças, é interessante reforçar a ideia de que o mundo é muito melhor sem as guerras, ressaltando a importância dos direitos das pessoas, da paz, da tolerância, da empatia e da solidariedade”, acrescenta. 

Na sala de aula, para elucidar o tema de forma didática, ele aconselha contextualizá-lo aos alunos, abordando elementos que abrangem os dois lados do conflito. Para isso, é possível utilizar recursos como mapas, histórias infantis, animações, produção de desenhos e pinturas, entre outros.

Dentro e fora da sala de aula, no entanto, é imprescindível que pais, cuidadores e professores ajam como filtro, evitando que as crianças tenham acesso a conteúdos mais pesados sobre a guerra ou informações e notícias falsas que destoam da realidade. 

 

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