Para o professor
do Colégio Bom Jesus, Douglas Pletsch Puhl, essa é uma boa oportunidade para
abordar sentimentos e pensamentos conflituosos, além de contribuir para a
formação do caráter de meninos e meninas
Quantas vezes, na infância, você se interessou
por um determinado assunto que viu na televisão ou ouviu outras pessoas
comentarem e recebeu um rápido e singelo “é coisa de adulto”? Até pouco tempo
atrás, esse tipo de resposta era muito comum. Isso porque dificilmente a
criança era vista como indivíduo, pelo contrário, a regra geral era ter suas
emoções e até mesmo opiniões silenciadas, ignoradas e menosprezadas. Mas,
felizmente, vivemos hoje outra realidade, na qual o “é coisa de adulto” já não
basta.
Com o acesso à informação cada vez mais fácil e
rápido, inclusive a crescente disseminação de notícias falsas, é urgente falar
com as crianças sobre assuntos polêmicos como a atual guerra entre Rússia e
Ucrânia. Agora, se já é difícil para os adultos entenderem o conflito, como
explicá-lo para meninas e meninos?
Para o professor e coordenador de Ensino
Religioso do Colégio Bom Jesus, Douglas Pletsch Puhl, ao conversar com crianças
sobre esse tema, cuidadores e professores têm a oportunidade de abordar
sentimentos e pensamentos que talvez estejam causando algum conflito interno.
Sem contar que pode ajudar a formar o caráter desses futuros adultos.
“Em tempos tão difíceis, é fundamental criar um
ambiente de respeito às dúvidas e opiniões das crianças, bem como de acolhida
aos seus sentimentos, seja em casa ou na sala de aula”, orienta o professor.
Nesse sentido, alguns fatores podem facilitar essa tarefa, tais como: oferecer
abertura para o diálogo desde os primeiros anos de vida da criança, estar
atento às dúvidas dela, não ocultar a verdade dos fatos e transmitir confiança,
proteção e segurança.
Como falar sobre guerra com crianças
Em primeiro lugar, Douglas orienta que o assunto
deve partir do interesse e questionamento da criança. “Ao adulto cabe conduzir
a conversa pelo caminho do acolhimento, do respeito, do amor e da atenção.
Dessa forma, não há uma idade mínima recomendável, dependerá do interesse ou da
dúvida da criança, sempre partindo daquilo que ela ouviu ou leu sobre a
guerra”, ressalta.
Formado em Filosofia, Teologia e Metodologia do
Ensino Religioso, o professor do Colégio Bom Jesus acredita que o tema ainda
afugente muitos pais e cuidadores por envolver temáticas polêmicas como morte,
violência, medo e tristeza. Porém, segundo ele, é preciso vencer esse tabu. “É
importante que as crianças estejam cientes de que as coisas acontecem e como
acontecem, sempre com o devido cuidado no modo como o tema é abordado para não
gerar traumas”.
Outra recomendação do professor é evitar impor
juízo de valor sobre o assunto, isto é, apontar quem está certo ou errado em um
contexto de guerra. “No diálogo com as crianças, é interessante reforçar a
ideia de que o mundo é muito melhor sem as guerras, ressaltando a importância
dos direitos das pessoas, da paz, da tolerância, da empatia e da
solidariedade”, acrescenta.
Na sala de aula, para elucidar o tema de forma
didática, ele aconselha contextualizá-lo aos alunos, abordando elementos que
abrangem os dois lados do conflito. Para isso, é possível utilizar recursos
como mapas, histórias infantis, animações, produção de desenhos e pinturas,
entre outros.
Dentro e fora da sala de aula, no entanto, é
imprescindível que pais, cuidadores e professores ajam como filtro, evitando
que as crianças tenham acesso a conteúdos mais pesados sobre a guerra ou
informações e notícias falsas que destoam da realidade.
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