Zika vírus, ainda em pesquisa, e sífilis preocupamImagem meramente ilustrativa
O mês de março começou como Tom Jobim já o cantava: com suas águas
fechando o verão. É neste momento em que é preciso redobrar a atenção, pois o
acúmulo de água parada das chuvas pode favorecer a proliferação do
mosquito Aedes aegypti, causador de doenças como dengue, chikungunya
e Zika vírus.
Esta
última doença tem ganhado grande repercussão pelo fato de muitos casos de
microcefalia estarem associados a ela. Pesquisas ainda estão sendo realizadas,
nada está provado, mas assim como outras infecções podem
ocasionar malformações no feto (inclusive microcefalia), não se pode
descartar a possibilidade de que o Zika vírus também possa.
Assim
como bactérias, protozoários, autoanticorpos, drogas, medicamentos e hormônios,
os vírus de maneira geral podem cair na corrente sanguínea, e alguns deles
passar da mãe para o feto através da placenta. “Nem toda infecção no feto causa
malformação e a gravidade das interferências no desenvolvimento fetal é maior
no início da gestação na maioria dos casos”, explica a ginecologista e obstetra
Lilian Fiorelli, da Alira Medicina Clinica.
A
preocupação maior no momento é com o Zika Vírus, mas outras infecções podem ser
transmitidas de mãe para filho, na gestação. A obstetra listou abaixo as mais
comuns e alerta: “um bom acompanhamento pré-natal é essencial e também pode
ajudar a diminuir o risco de infecções na gestação e suas possíveis
consequências para o feto, por isso não deve ser negligenciado”.
Toxoplasmose
É
uma doença causada por protozoário que está presente principalmente nas fezes
dos gatos e esta é a principal forma de transmissão às gestantes (seja pela
manipulação das fezes do animal ou indiretamente nos pelos do gato). Pode ser
transmitida também por carnes cruas ou malcozidas e, mais raramente, pela
ingestão de alimentos mal lavados. A infecção no adulto, na maioria das vezes,
é assintomática, outros podem ter dores musculares, febre, e até aumento dos
gânglios do pescoço, que pode durar por muitos meses (neste evento, é chamada
síndrome mono-like). Nos casos de imunidade baixa, pode haver acometimento do
sistema nervoso, pulmão entre outros. O feto ou recém-nascido infectado pode
ter sequela como surdez, cegueira, atraso no desenvolvimento psicomotor,
anemia, convulsões, hidrocefalia, microcefalia e até aborto ou óbito fetal. Na
gestante com essa infecção pode-se fazer tratamento o que diminui as
consequências para o feto.
Rubéola
A
rubéola é uma infecção viral que tem como sintomas erupções cutâneas, aumento
dos gânglios linfáticos, febre baixa, dores articulares e cansaço. O vírus
costuma ser transmitido pelo ar, através da aspiração de gotículas de saliva ou
secreção nasal. Uma mulher grávida com rubéola pode transmitir o vírus para o
feto, podendo causar problemas cardíacos, cegueira, surdez, hidrocefalia,
microcefalia, aumento do fígado e baço e até aborto ou óbito fetal. Apesar de
poder gerar malformações graves no feto, a boa notícia é que cada vez menos
encontramos gestantes com a doença devido as vacinas. Por isso é importante
estar com suas vacinas em dia.
Sífilis
É
causada por uma bactéria muito comum chamada Treponema pallidum (entre 2005 e 2012 foram
notificados 57.700 casos de sífilis em gestantes) e de transmissão
predominantemente por via sexual. Pode se manifestar no início por feridas na
região genital (chamada de cancro duro), e se não tratada pode ir para corrente
sanguínea, afetando outras regiões gerando sintomas inespecíficos como febre e
vermelhidão no corpo. A doença também pode passar por um período sem sintomas,
chamada síflis latente, e, em casos mais graves, ocasionar problemas
neurológicos como convulsões e demência. A infecção grave no feto pode ocorrer
em 80% dos casos, e os sintomas podem variar desde a ocorrência do parto
prematuro, restrição do crescimento, inchaço dos órgãos, anemia, alterações no
pulmão, fígado, baço, pâncreas, ossos, surdez e até aborto ou mesmo a morte do
bebê. O tratamento precoce com antibióticos na gestação é fundamental para
diminuir a chance de alterações no feto.
Hepatite B, Hepatite C e HIV
São
vírus transmitidos por via sexual e contato direto ou indireto com o sangue
infectado (como compartilhar agulhas, lâminas de barbear, ou mesmo equipamentos
de manicure sem esterilização adequada). Os vírus da Hepatite B e C podem
causar inflamação crônica do fígado e favorecer partos prematuros. A
transmissão da Hepatite B para o bebê ocorre principalmente no parto.
A
Hepatite C e o HIV podem ser transmitidos da mãe para o bebê pela placenta ou
durante o parto. É importante destacar que os vírus podem ser encontrados no
leite materno. Nenhuma destas doenças estão associadas a malformações fetais,
mas são doenças crônicas.
Alguns
fatores aumentam a chance de transmissão, como por exemplo: estágio clínico
avançado da doença, quantidade de vírus no sangue da mãe e coexistência de
outras infecções.
Citomegalovírus
O
citomegalovírus integra a família das herpes, e a contaminação é feita por
secreções contaminadas, como sangue, saliva, leite materno e outros. A doença,
no adulto, é muitas vezes assintomática, mas pode provocar sintomas semelhantes
a qualquer outra infecção viral e, por isso, seu diagnóstico só pode ser feito
por meio de exame de sangue. A transmissão para o bebê é feita pelo sangue
durante a gravidez, mas só quando a mãe tem a infecção na fase aguda da doença.
No recém-nascido causa alterações no coração, pulmão, fígado, surdez, restrição
de crescimento ou microcefalia. É uma doença rastreada no pré-natal nas
pacientes de risco como profissionais de saúde e imunossuprimidos (que é quando
o sistema imune está com baixa atividade).
Estreptococo do grupo B
É
uma bactéria que pode estar presente na vagina da mulher e na maioria das vezes
é assintomática. Contudo, se o bebê tiver contato durante o parto pode desenvolver
infecções graves como pneumonias ou meningites. A pesquisa da bactéria é feita
pelo “teste do cotonete” no pré natal e se positiva o tratamento é feito com
antibiótico durante o trabalho de parto.
Zika vírus
Como
já dito, a doença causada pelo zika vírus é transmitida pela mesma família dos
mosquitos causadores da dengue e da febre chikungunya. Os sintomas incluem
febre, dor nas articulações e músculos, conjuntivite e manchas vermelhas na
pele e, geralmente, surgem 10 dias após a picada. Podem ocorrer outros sintomas
mais inespecíficos como problemas digestivos, dor no abdômen, náuseas, vômitos,
diarréia ou prisão de ventre, aftas e coceira pelo corpo.
A
relação entre zika e microcefalia foi sugerida pela primeira vez no fim de
novembro de 2015, mas ainda não se sabe como o vírus atua no organismo humano,
quais mecanismos levariam à microcefalia e qual seria o período de maior
vulnerabilidade para a gestante. Ainda não há tratamento nem vacina para o Zika
vírus.
O
Zika vírus também pode ser detectado na urina, placenta, fluido amniótico e até
no sêmem. O uso da camisinha é recomendado na suspeita de infecção por Zika.
Caso sinta qualquer sintoma que possa indicar que
está com o zika vírus a gestante deve informar ao médico sobre qualquer
alteração em seu estado de saúde, principalmente no período até o quarto mês de
gestação.
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