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quarta-feira, 6 de outubro de 2021

O apagão social e a preocupação do homem robô

Amanda chegou na minha sala por volta das 14 horas e disse que precisava falar urgentemente com uma cliente. “Será que ela atende pelo telegram?” Sem mal respirar, já a questionei porque então não tinha ligado. “Oras, WhatsApp fora do ar, mas temos o telefone dela!”.

Amanda entendeu ali como a dependência de mandarmos mensagem nos tirou daquela que era a principal funcionalidade de um telefone: a conversa direta.

Este exemplo é um recorte que reflete o que cada um viveu no seu núcleo de trabalho (ou familiar) pela ausência das três redes sociais mais utilizadas no mundo.

Aqui no Brasil, segundo dados do relatório elaborado recentemente por We Are Social e Hootsuite, são 130 milhões  de pessoas no Facebook. Em segundo aparece o YouTube, com 127 milhões, WhatsApp tem 120 milhões, e em quarto está o Instagram, com 110 milhões de usuários.

Há diversas pesquisas sobre o tempo que o brasileiro passa na internet, que pode variar de 3 a 5 horas. Uma recente pesquisa da plataforma de descontos on-line Cuponation revelou que, em relação ao uso, o app mais utilizado no Brasil é o WhatsApp. Ele pareceu no topo da lista indicando que os brasileiros passaram 303 horas por mês conectados neste app, ultrapassando o Facebook, que tem mais usuários.

Para quem quer ir mais a fundo, há uma outra pesquisa muito interessante da Comscore, que analisou o uso das redes sociais em 2020. A boa notícia é que educação e finanças foram os temas que melhor performaram e mais cresceram nas redes sociais, com 60% e 47% respectivamente.

Mas o que será que os bilhões de usuários da internet do mundo pensaram sobre o apagão social de seis horas no dia 04 de outubro de 2021, ocasionado pela empresa do Mark Zuckerberg?

Para o mundo dos negócios, o prejuízo do Zuckerberg, as ações da empresa desvalorizadas... Quem é da área da saúde já foi falar sobre o detox forçado dos internautas e o que a dependência das redes tem causado. Até quem fala sobre a astrologia surfou no tema e disse a que a culpa é do mercúrio retrógrado. E, claro, eu que sou do marketing também aproveitei e orientei a minha audiência a não depender exclusivamente de uma rede social.

E você que lê este artigo deve se perguntar: onde me encaixo nestes dilemas? Na obviedade que é a vida. Toda vez que acontece algo na sociedade que quebra os nossos parâmetros de normalidade, temos a oportunidade de refletir sobre o que vivemos e sair do modo “automático”.

Checar se recebeu uma mensagem no WhatsApp, se curtiram seu post no Instagram ou se alguém está de aniversário no Facebook não foi possível no dia 04 de outubro.

Tanto para vida pessoal ou profissional, o bug do Facebook alerta que o perigo não é a rede social. A culpa também não é deste gênio programador e de tantos outros que criam estes apps. A responsabilidade volta para a gente: é preciso dosar mais e equilibrar o uso da internet.

E para que este artigo siga no papel de criarmos um pensamento crítico sobre os acontecimentos dos últimos dias, empresto os ensinamentos do sociólogo e psicanalista alemão Erich Fromm. “O perigo do futuro é que os homens podem se transformar em robôs”.

Saímos da rotina e forçados a ficar off-line.

“Se as pessoas não saíssem da rotina em que se encontravam e reivindicassem sua humanidade, elas ficariam loucas tentando viver uma vida sem sentido, robótica”, advertiu, lá em 1955.

 


Lilian Cardoso - apaixonada por ouvir, ler e contar histórias desde criança. É jornalista e uma das maiores especialistas em marketing literário do Brasil. Diretora da LC - Agência de Comunicação, empresa que mais divulga livros da América Latina, e professora de cursos destinados a formação de escritores .                                               

 

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