Amanda chegou na minha sala por volta das 14 horas e disse que precisava falar urgentemente com uma cliente. “Será que ela atende pelo telegram?” Sem mal respirar, já a questionei porque então não tinha ligado. “Oras, WhatsApp fora do ar, mas temos o telefone dela!”.
Amanda
entendeu ali como a dependência de mandarmos mensagem nos tirou daquela que era
a principal funcionalidade de um telefone: a conversa direta.
Este
exemplo é um recorte que reflete o que cada um viveu no seu núcleo de trabalho
(ou familiar) pela ausência das três redes sociais mais utilizadas no mundo.
Aqui no
Brasil, segundo dados do relatório elaborado recentemente por We Are Social e
Hootsuite, são 130 milhões de pessoas no Facebook. Em segundo aparece o
YouTube, com 127 milhões, WhatsApp tem 120 milhões, e em quarto está o
Instagram, com 110 milhões de usuários.
Há diversas
pesquisas sobre o tempo que o brasileiro passa na internet, que pode variar de
3 a 5 horas. Uma recente pesquisa da plataforma de descontos on-line Cuponation
revelou que, em relação ao uso, o app mais utilizado no Brasil é o WhatsApp.
Ele pareceu no topo da lista indicando que os brasileiros passaram 303 horas
por mês conectados neste app, ultrapassando o Facebook, que tem mais usuários.
Para quem
quer ir mais a fundo, há uma outra pesquisa muito interessante da Comscore, que
analisou o uso das redes sociais em 2020. A boa notícia é que educação e
finanças foram os temas que melhor performaram e mais cresceram nas redes
sociais, com 60% e 47% respectivamente.
Mas o que
será que os bilhões de usuários da internet do mundo pensaram sobre o apagão
social de seis horas no dia 04 de outubro de 2021, ocasionado pela empresa do
Mark Zuckerberg?
Para o
mundo dos negócios, o prejuízo do Zuckerberg, as ações da empresa
desvalorizadas... Quem é da área da saúde já foi falar sobre o detox forçado
dos internautas e o que a dependência das redes tem causado. Até quem fala
sobre a astrologia surfou no tema e disse a que a culpa é do mercúrio retrógrado.
E, claro, eu que sou do marketing também aproveitei e orientei a minha
audiência a não depender exclusivamente de uma rede social.
E você que
lê este artigo deve se perguntar: onde me encaixo nestes dilemas? Na obviedade
que é a vida. Toda vez que acontece algo na sociedade que quebra os nossos
parâmetros de normalidade, temos a oportunidade de refletir sobre o que vivemos
e sair do modo “automático”.
Checar se
recebeu uma mensagem no WhatsApp, se curtiram seu post no Instagram ou se
alguém está de aniversário no Facebook não foi possível no dia 04 de outubro.
Tanto para
vida pessoal ou profissional, o bug do Facebook alerta que o perigo não é a
rede social. A culpa também não é deste gênio programador e de tantos outros
que criam estes apps. A responsabilidade volta para a gente: é preciso dosar
mais e equilibrar o uso da internet.
E para que
este artigo siga no papel de criarmos um pensamento crítico sobre os
acontecimentos dos últimos dias, empresto os ensinamentos do sociólogo e
psicanalista alemão Erich Fromm. “O perigo do futuro é que os homens podem se
transformar em robôs”.
Saímos da rotina e forçados a ficar off-line.
“Se as
pessoas não saíssem da rotina em que se encontravam e reivindicassem sua
humanidade, elas ficariam loucas tentando viver uma vida sem sentido,
robótica”, advertiu, lá em 1955.
Lilian Cardoso - apaixonada por ouvir, ler e contar
histórias desde criança. É jornalista e uma das maiores especialistas em
marketing literário do Brasil. Diretora da LC - Agência de Comunicação, empresa
que mais divulga livros da América Latina, e professora de cursos destinados a
formação de escritores .
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