Estado de
civilização. O estado de uma civilização é um emaranhado de muitas coisas com
cada uma delas influenciando e recebendo influência das outras. Definição do
dicionário: “conjunto de aspectos peculiares à vida intelectual, artística,
moral e material de uma época, de uma região, de um país ou de uma sociedade”
(Houaiss).
Esse conjunto de aspectos é
enredo intrincado, não simples justaposição. A quadra de que saímos e a que
vivemos: punitivismo penal, rancores contra gêneros “não convencionais”,
corrupção que era e que é, milicianos na política, religiosos controlando
comissões do Parlamento e o próprio Executivo. É a triste música nascida das
nossas notas culturais.
Distintas partituras
culturais registram distintos sons sociais: “Segundo o site The Greenest Post,
a Holanda [seguindo a Suécia] recentemente fechou 19 presídios por ausência de
ocupantes! Desde 2009 o Ministro da Justiça holandês tem destacado a redução no
índice de criminalidade no país.
Outro ponto importante é
que, para as infrações leves, foi implementado o sistema de monitoramento
eletrônico em substituição ao cumprimento de pena em prisões, uma vez que tal
medida possibilita que essas pessoas continuem trabalhando e colaborando para a
economia do país” (http://migre.me/rHLLb).
Creio que as notas
culturais gerais pela Europa são outras: a Inglaterra “fecha cerca de 20
igrejas por ano. Cerca de 200 igrejas dinamarquesas foram consideradas
inviáveis ou subutilizadas em 2014. Na Alemanha, 515 igrejas católicas fecharam
nos últimos 10 anos.
Na Holanda a tendência
parece ser a mais avançada. É estimado que 700 igrejas protestantes fechem as
portas nos próximos quatro anos naquele país, conhecido pelo forte ateísmo e
pelo respeito à agenda política homossexual, à eutanásia, ao aborto e às
drogas” (http://migre.me/rHNbl).
Este último site é
religioso; a matéria é expressão de pesar. Confirma, todavia, a minha hipótese:
não por acaso temos situação inversa à europeia: presidente religioso,
deputados religiosos, magistrados religiosos, agressões a homossexuais,
proibição da eutanásia, aborto na ilegalidade e guerra às drogas. Isso compõe o
todo da nossa música social.
Nós temos outras
características invertidas com relação a esses países que vivem um “ateísmo
materialista” e “toleram o pecado”: considerando educação, saúde, distribuição
de renda, igualdade entre sexos, violência, transportes etc., a Holanda está
entre os primeiros países do mundo; o Brasil, em tudo isso, entre os últimos.
Há dois caminhos que se
dirigem para lugares diferentes e que levam as pessoas a conviverem em mais ou
menos harmonia social. Um é o do estudo: para a cultura geral, bibliotecas e o
do hábito de frequentá-las: o Brasil tem uma biblioteca para cada 33 mil
habitantes. Desconfio da qualidade dessas bibliotecas e estou seguro da baixa
frequência. Para uma melhor formação geral, ensino primário; para desempenho
intelectual, universidades.
Porém, a “educação
brasileira está em último lugar em ranking de competitividade. Um estudo
elaborado pelo IMD World Competitiveness Center comparou a prosperidade e a
competitividade de 64 nações. No eixo que avalia a educação, o Brasil teve a
pior avaliação entre as nações analisadas, alcançando a 64ª posição (Rodrigo
Maia, Thais Herédia e Larissa Coelho, CNNBrasil, 17jun21editado).
Ademais, “entre os
brasileiros de 25 a 34 anos, apenas 21% concluíram um curso universitário. Taxa
inferior à de países da região como a Colômbia (30%), Chile (34%) e Argentina
(40%). Nações campeãs: Coréia do Sul (70%), Canadá (63%), Rússia e Japão (ambos
com 62%). Fala-se de quantidade. Se introduzirmos a questão da qualidade na
equação, a situação do Brasil é ainda pior” (FSP, 18ago21, editado).
O outro caminho é o nosso
predileto: o das igrejas. “Evangélicos abrem 14 mil igrejas por ano.
A nossa partitura de
História: escravatura, coronelismo, hierarquia social, corrupção. Ademais
disso, religião. Por sobre tudo isso, a causa das outras causas: somos
ignorantes. Não surpreende, pois: enquanto europeus fecham presídios e igrejas,
nós elegemos donos de templos, que pedem mais prisões. E ninguém pede
biblioteca.
Léo Rosa de Andrade
Doutor em Direito
pela UFSC.
Psicanalista e
Jornalista.
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