SBD chama atenção para doença grave e rara que afeta
milhares de brasileiros
Na semana em que o
país estimula o debate em torno dos cuidados oferecidos aos pacientes com
psoríase, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) chama a atenção para uma
das formas mais graves e raras dessa doença. A psoríase pustulosa generalizada
(PPG) afeta a saúde e qualidade de vida dos seus portadores, podendo até levar
à morte em casos extremos. No Brasil, estima-se pelo menos 1.458 pacientes que
apresentam sinais e sintomas dessa patologia, segundo dados do Departamento de
Informática do Sistema Único de Saúde (Datasus).
Neste grupo, a
prevalência é um pouco maior nas mulheres (53%), sendo que os registros de PPG
ocorrem de modo mais frequente após os 30 anos de idade. Dados de literatura
estrangeira apontam grau significativo de letalidade da doença. Segundo estudos
científicos, em 65% dos casos, os pacientes com psoríase pustulosa também têm
psoríase vulgar.
Em linhas gerais, a
forma vulgar é o tipo mais comum, com presença de lesões avermelhadas na pele,
em formato de placas, que descamam. Também causa descamação, rachaduras,
coceira, queimação e dor. Na PPG, as lesões da psoríase vulgar são acompanhadas
de pústulas (bolhas com pus) e quando as bolhas rompem, surgem feridas.
De modo geral, os
casos de psoríase são provocados por predisposição genética, precipitados por
fatores ambientais ou de comportamento. Alguns gatilhos desencadeiam ou agravam
crises: interrupção do uso de medicamentos, queimadura solar, presença de
infecções virais (incluindo rinovírus e coronavírus), estresse e gestação.
Importante destacar que é uma doença crônica e não contagiosa.
Gatilhos - Para o dermatologista
Gleison Vieira Duarte, um dos coordenadores da Campanha Nacional de
Conscientização sobre Psoríase, promovida pela Sociedade Brasileira de
Dermatologia (SBD), a psoríase vulgar pode se transformar na psoríase
pustulosa. "Um dos gatilhos é o uso dos corticosteroides orais. Essas
drogas podem ser empregadas de forma inadvertida, seja por automedicação ou
desconhecimento acerca de uma não indicação do corticoide na psoríase
vulgar", disse.
O especialista
acrescenta que, em algumas circunstâncias, após o tratamento com corticoide, o
paciente pode ter transformada sua forma vulgar numa pustulosa. Ele explica que
"neste caso, chamamos de psoríase pustulosa generalizada induzida pelo uso
do corticosteroide. Algumas outras drogas também podem, em casos raros, provocar
essa indução, como antidepressivos, lítio, entre outras".
Por sua vez o
dermatologista Ricardo Romiti, também do time de coordenação da Campanha da
SBD, comenta que o diagnóstico da PPG é clínico. "O exame dermatológico
feito de forma muito detalhada ajuda no diagnóstico. Nos casos de dificuldade,
é feita uma biópsia, seguido do exame histopatológico. Também costumam ser
realizados exames subsidiários para, por exemplo, afastar outros problemas de
saúde da pele". Mesmo assim, o diagnóstico pode ser difícil, podendo-se
confundir a psoríase com outras infecções.
Gleison Duarte também
ressalta que a psoríase, nos casos mais graves, pode ser dolorosa e trazer
risco de morte. "As manifestações da psoríase pustulosa podem ser somente
na pele. Elas podem estar distribuídas em qualquer parte do corpo, por isso têm
o nome de psoríase pustulosa generalizada, com ou sem a presença de sintomas.
Neste caso, pode haver febre e mal-estar, ou sintomas que podem levar o
paciente à hospitalização. Em 7% dos casos, os pacientes com a forma
generalizada podem vir a óbito, o que está muito associado a alterações de
desidratação, infecções secundárias e alterações dos eletrólitos, como sódio,
potássio, entre outros", explicou.
A gravidade da PPG
gera impacto significativo na qualidade de vida dos pacientes, nas funções
físicas, vitalidade e saúde mental, incluindo ansiedade e depressão. "O
impacto psicológico é muito grande, eu diria que é devastador. As pústulas dão
ao paciente a sensação de nojo da sua própria pele, de não querer ter contato
com ninguém. O odor fétido que pode resultar dessas pústulas acaba prejudicando
o convívio dentro de casa. Além do receio relacionado à gravidade da doença, a
falta de tratamentos eficazes aprovados em bula, que realmente sejam
direcionados a essa patologia. Então, são muitos os impactos psicossociais
gerados por uma doença tão aguda e grave como essa", enfatizou Vieira
Duarte.
Tratamento - Para os
especialistas da SBD, há tratamentos que podem ser utilizados para a psoríase
pustulosa generalizada. No entanto, devido à raridade da doença, todos esses
tratamentos são com medicamentos off label, ou seja, que não seguem as
indicações homologadas na bula. Além disso, eles são adaptados do tratamento da
psoríase vulgar.
"Diante desse
cenário, temos preferencialmente escolhido drogas com início rápido, como a
ciclosporina e o infliximabe, que são de uso off label, mas também são
utilizados a acitretina e o metotrexato quando há a possibilidade de se
utilizar drogas de início de ação mais lento. À medida que entendemos mais
sobre a psoríase pustulosa generalizada, observamos que ela tem uma
característica imunológica distinta da psoríase vulgar", salientou Gleison
Vieira, ao destacar a responsabilidade do dermatologista no atendimento desses
pacientes.
Ricardo Romiti
explicou que da mesma forma que há os tratamentos imunobiológicos para o
controle da psoríase em placas, estão em desenvolvimento novos imunobiológicos
para o controle da psoríase pustulosa generalizada. "Essas drogas ainda
não estão disponíveis no mercado, mas estão em fase avançada de estudo e
parecem ter um perfil de eficácia e segurança muito satisfatórios. Enquanto
essas drogas não chegam ao mercado, nesses casos mais graves nós acabamos
fazendo uso dos mesmos imunobiológicos que nós temos aprovados para a psoríase
para tentar controlar o quadro".
Nenhum comentário:
Postar um comentário