As dificuldades de aprendizagem se tornam uma
preocupação cada vez mais pontual quando pensamos no desenvolvimento
psicológico e no tempo de aprendizagem de cada criança, uma vez que, no
ambiente escolar, pode haver a manifestação de uma dificuldade de aprendizagem
peculiar que diverge das demais. Ou seja, uma criança pode apresentar uma
diferença cerebral que faz parte do tempo individual de aprendizado.
Às vezes, essas diferenças podem ser observadas em
um primeiro momento pelos professores que trabalham diretamente com as crianças
em sala de aula. Em um segundo momento, outros profissionais como
psicopedagoga(o), neuropsicóloga(o), psiquiatra infantil, ao receberem a
criança indicada com uma possível dificuldade comportamental e/ou intelectual,
buscam desenvolver um método de intervenção pedagógica ou o acompanhamento clínico
terapêutico, a fim de, inicialmente, amenizar o problema.
Uma coisa é certa: não há dois cérebros iguais no
mundo. Por isso, cada criança é um ser único, com características psicológicas
e emocionais exclusivas. Atualmente, conforme nos apontou o pesquisador Howard
Gardner, sabemos que as crianças também possuem diferentes tipos de
inteligências a serem estimuladas, despertadas e construídas em todo o processo
de ensino-aprendizagem. Sejam elas a inteligência emocional, a musical, a
matemática, a corporal, entre outras. São as denominadas inteligências
múltiplas. Mesmo assim, vale destacar que, quando discutimos o comportamento em
sala de aula e o ritmo de aprendizagem, as características emocionais estão em
evidência. E, como Henri Wallon nos mostrou assertivamente há anos, o fator
emocional observado no comportamento das crianças está relacionado diretamente
às experiências afetivas vivenciadas em ambiente social: família, escola,
sociedade.
Com isso, queremos dizer que as dificuldades de
aprendizagem fazem parte de um fenômeno de diversidade cerebral. Ou, assim como
divulgado por Judy Singer, estamos lidando com um fenômeno neurológico
diferente e atípico no século XXI. O universo de discussão da neurodiversidade
abrange psiquiatras, psicólogos, pedagogos, sociólogos, filósofos etc., que
procuram analisar essas dificuldades antecedendo diagnósticos de doença mental.
As dificuldades passam a ser observadas como
fenômenos diversos que são mais conhecidos por Transtorno do Déficit de Atenção
com Hiperatividade (TDAH), Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), Transtorno
Dissociativo de Identidade (TDI), ou seja, Transtornos Globais do
Desenvolvimento (TGD). Mas, e se essas diferenças forem emocionalmente
divergentes em um contexto escolar, o que professores e coordenadores
pedagógicos devem fazer?
Quando sofrem algum trauma de infância, além da
experiência comprometer o desenvolvimento de sua aprendizagem, é previsto que
as crianças apresentem, às vezes, o TDI (Transtorno Dissociativo de
Identidade). Sabemos que esse transtorno é responsável por caracterizar a
dissociação psicológica, e até, afetar a memória, o comportamento, o sentimento
e a própria identidade da criança. Ou seja, ela pode criar, como forma de
proteção e fuga, uma outra personalidade ou até mais de uma, desencadeando,
assim, várias dificuldades inconscientes ou divergentes no processo de
aprendizagem.
Quem assistiu ao filme Coringa (Joker), agora
poderá entender, por uma visão psicológica, o porquê do personagem ter se
tornado o Coringa (não há spoiler). Os traumas são oriundos dos seus estímulos
primários da infância e até do seu isolamento e fracasso social. Eis aí, o pano
de fundo de uma catarse (descarga emocional) para o TDI do personagem. Mas
seria possível identificar e tratar o transtorno, caso fosse percebido em sala
de aula? Possivelmente sim. Por isso, o mais assertivo é procurar ajuda
profissional multidisciplinar para a criança. A escola e os pais devem estar
juntos nessa busca.
Gustavo
Luiz Gava - filósofo e doutor em
Filosofia da Mente, é professor do curso de Pedagogia da Universidade Positivo.
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