Segundo relatório
da Associação Americana de Cardiologia, sobrevida depois do infarto do
miocárdio é de 8,2 anos para homens e apenas 5,5 anos para mulheres. Nelas, a
doença se associa ao estresse mental, emocional e psicossomático e se manifesta
de maneira diferente do que no sexo masculinoshutterstock
Já passou o tempo de acreditar que problemas no coração era “coisa de homem”. As doenças cardiovasculares no sexo feminino já ultrapassam as estatísticas de câncer de mama e de útero. Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), as cardiopatias respondem por um terço das mortes de mulheres no mundo, com 8,5 milhões de óbitos por ano, ou seja, mais de 23 mil por dia. Entre as brasileiras, principalmente acima dos 40 anos, as doenças do coração chegam a representar 30% das causas de morte, a maior taxa da América Latina.
Estudo
feito a partir dos dados da plataforma online Estatísticas Cardiovascular
Brasil: 2020, da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC), mostrou que a
predominância de doenças cardiovasculares é muito maior nas mulheres entre 15 e
49 anos e vem aumentando as mortes por doenças isquêmicas, como o infarto do
miocárdio, nas mais jovens.
“A
prevalência de infarto do miocárdio em mulheres está aumentando. Segundo
relatório de 2021, da Associação Americana de Cardiologia, a sobrevida depois
do infarto é de 8,2 anos para homens e apenas 5,5 anos para mulheres. Elas
sobrevivem menos tempo. Nos indivíduos que infartaram, a porcentagem de ser
recorrente é de 17% para homens e 21% para mulheres, e são as jovens que
necessitam da nossa atenção”, destacou a professora e diretora de pesquisa
cardiovascular intervencionista e ensaios clínicos do Zena and Michael A.
Weiner Cardiovascular Institute, Roxana Mehran, durante o 3º Simpósio Mulheres
do Coração, realizado pela SBC e pelo American College of Cardiology (ACC).
O infarto
do miocárdio está bastante relacionado a sintomas atípicos e que as mulheres
apresentam com mais frequência, como ardência na pele, dor no pescoço, nos
ombros, no rosto, na mandíbula, e, posteriormente, falta de ar, fadiga incomum
e até mesmo palpitações. Nelas, a doença se associa ao estresse mental,
emocional e psicossomático.
“Temos que
começar a reconhecer todos esses fatores de risco de infarto do miocárdio em
mulheres. Precisamos aumentar a conscientização sobre a falta de saúde
cardiovascular para as mulheres indígenas e afrodescendentes. Temos que
dar-lhes acesso aos cuidados de saúde, à educação e grande atenção àquelas com
doença de Chagas e doença arterial coronariana”, reiterou Roxana.
As mulheres
são conhecidas por terem dupla e até tripla jornada, ao se dividirem entre o
trabalho, cuidado com os filhos e afazeres domésticos. Isso eleva o estresse,
associado, muitas vezes, à falta de atividade física, má alimentação, tabagismo
e consumo excessivo de bebidas alcoólicas.
Os sintomas
de doenças cardiovasculares nelas podem ser resumidos a uma dor mais genérica e
de difícil diagnóstico, o que faz com que muitas nem sequer procurem ajuda
médica ou não sejam tratadas corretamente. É preciso atenção aos sintomas do
infarto, que no sexo feminino são, geralmente, diferentes da clássica dor no
peito relatada por homens, como náuseas, vômitos, dor nas costas e no pescoço,
falta de ar e indigestão.
O coração
da mulher é ligeiramente menor do que o do homem (cerca de dois terços do
tamanho) e sua fisiologia é um tanto diferente. Pesquisas já atestaram que as
suas frequências cardíacas médias, por exemplo, são mais aceleradas. As
mulheres também têm artérias coronárias mais finas e maior tendência a sofrer
com bloqueios não apenas nas artérias principais, mas também nas menores, que
fornecem sangue ao coração. Por isso, quando infartam, descrevem a dor no peito
como uma pressão ou aperto, e não como uma dor lancinante.
Campanhas
populares ajudaram a aumentar consciência sobre o impacto das doenças
cardiovasculares no sexo feminino e mudanças positivas ganharam impulso. Apesar
disso, segundo Roxana, tem havido estagnação na redução geral de doenças
cardiovasculares em mulheres na última década. Cardiopatias em mulheres
permanecem pouco estudadas, pouco reconhecidas, subdiagnosticadas e
subtratadas, especialmente o infarto do miocárdio.
A maioria
dos ensaios clínicos realizados para o tratamento das doenças cardiovasculares
foram realizados com pouca representatividade feminina. Por isso, é preciso
estimular pesquisas feitas para e por mulheres, para aumentar a participação
delas nos estudos clínicos a fim de que se consiga melhores diagnósticos e
tratamentos adequados para enfrentar as doenças do coração no sexo feminino com
maior eficiência.
“Continuamos
a ver uma subrepresentatividade nos ensaios clínicos cardiovasculares e esse é um
ponto muito importante. Parece que a mortalidade cardiovascular está cada vez
maior nas mulheres e ao analisarmos essas pacientes, tem muita pobreza e pouca
educação, por exemplo”, disse Roxana.
Segundo a
pesquisadora, a comunidade médica ainda não está prestando a devida atenção às
doenças cardiovasculares específicas das mulheres, que possuem fatores de risco
muito evidentes. Nas mais jovens, podem estar associadas ao ovário policístico,
menopausa precoce, disfunções de hipertensão na gravidez, diabetes gestacional
e parto prematuro. Também há fatores de risco não reconhecidos ou
subreconhecidos, como violência doméstica e nas mais pobres, analfabetismo e
pouco acesso à saúde.
SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA
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