Ainda como estudante, pude perceber que a construção teórica da psicologia — o estudo do comportamento humano, através de suas diferentes escolas de pensamento, se estruturava, conforme o pensamento científico do século XX, no paradigma cartesiano. Aprendi o ser humano modelado como uma máquina perfeita, tendo o sistema neuronal como engrenagem principal de onde surgiria a emoção — uma resposta química — e o sentimento como sendo a sua reação. Visão que consagra o materialismo e a primazia da razão.
Entretanto, vislumbrando a universalidade dos
sentimentos, pois desde a pré-história o ser humano sente com a mesma
semelhança vibracional, entendi que o sentir ultrapassava os tempos, as épocas
e as culturas.
Amor, ódio, fé e os mais de quinhentos sentimentos
conhecidos são vivenciados como constantes universais humanas, variando
conforme a época e a cultura em suas expressões, mas não nos seus conteúdos
vibracionais.
Não é difícil compreender alguém de outra época ou
cultura se nos fala que sentiu desprezo, paixão, etc. e isto porque somos
capazes de sentir a vibração de cada sentimento de maneira equivalente.
Natural, há que se considerar a experiência subjetiva, ao exemplo de se ouvir
uma música. Mesmo a canção sendo a mesma, cada pessoa irá escutá-la conforme a sua
experiência de vida.
Desta forma, comecei a estudar o sentir a partir da
transdisciplinaridade. Além da psicologia, graduei-me em física, tendo como
objetivo compartilhar outro olhar de mundo. Nesta trajetória, partindo da
psicologia, psicanálise, física, biologia e artes, cheguei a um campo novo que
nomeei de Ciência do Sentir.
Meus estudos então migraram para o paradigma
vibracional, onde a natureza, inclusive, a natureza humana, se fez compreendida
como um complexo vibracional uno, inteiro e indivisível, onde o ser humano é
concebido como um complexo vibracional cuja experiência de si mesmo é o Sentir.
Sentir que se expressa através dos sentimentos — carinho, mágoa, etc.; das
sensações — frio, calor, etc.; e dos pensamentos, que neste paradigma se
apresenta como uma expressão do sentir, ou seja, aquela vibração que foi
processada em pensamentos e que confirma que se acessamos ao que pensamos é
porque podemos sentir os pensamentos.
Assim, mente e corpo são uno, representam imagens
de um complexo que, em um universo hoje compreendido em dez dimensões de espaço
e uma de tempo, tem a sua totalidade una reduzida pelo sistema perceptivo
humano em três dimensões de espaço, o que resulta na capacidade simbólica
e na ilusão de divisão e materialidade.
Compreendidos por este olhar, os sentimentos são
elevados ao lugar de atores principais nas cenas de nossas vidas, direcionando,
dessa forma, a psicologia para o paradigma vibracional.
Não é difícil comprovar que o sentir, sendo uma
complexidade, compõe o nosso Eu. Se estamos felizes torna-se mais fácil
lidar com a vida, mesmo e apesar das dificuldades. Mas se estamos insatisfeitos
torna-se mais difícil lidar com a vida, mesmo e apesar das facilidades.
A questão é que vivemos em uma cultura que desdenha
os sentimentos, aponta como fraqueza demonstrar o que sente: o homem que é
homem não chora e sentir vergonha nem se fala. Fez-se um mito de que o ser
humano superior teria domínio integral de seus sentimentos, apresentando-se
frio e calculista. E, nesse contexto, aprendemos a reprimir ou a tentar domar
os sentimentos, quando de fato a riqueza e a evolução humana está na
experiência dos sentimentos e em suas transformações.
Segundo a ciência do Sentir, os sentimentos são
como diamantes que precisam ser lapidados para assim gerar riquezas internas,
possibilitando as pessoas adquirirem recursos para gerenciar as suas relações,
assim como a própria vida.
Neste paradigma emerge o Eu Sensível, aquele
recorte do Eu que, conseguindo experienciar o sensível conscientemente, viabiliza
o sabor do Eu, ou seja, o sentimento de Eu que cada pessoa possui de si mesma.
Beatriz Breves - psicóloga,
psicanalista, bacharel e licenciada em Física. É presidente, membro efetivo e
fundador da Sociedade da Ciência do Sentir (SoCiS) e autora de 8 livros sobre o
tema, entre os quais o lançamento Entre o mistério e a ignorância – o desvendar da
psiquê humana.
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